06/03/2006

Que pensam eles que nós fazemos na escola?!

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Tal como o outro, ele também foi à Finlândia!!!
Foi à Finlândia, numa visita de 24 horas ... e apenas numa manhã, numa manhã em que visitou uma escola, considerada como ESCOLA MODELO (Escola Básica de Ressu) ficou impressionado com o nível educacional deste país!!!
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Nesta escola "o ensino do inglês tem um lugar de destaque e as novas tecnologias são amplamente utilizadas."
Nesta escola estudam 400 alunos, dos sete aos 16 anos e, tal como em todos os estabelecimentos de ensino do país, é o município que tem a seu cargo a gestão da escola, desde a escolha dos orçamentos à selecção dos professores. O primeiro-ministro afirmou estar «impressionado» com o nível educacional e com a organização do sistema finlandês de ensino e, durante a visita, aproveitou para trocar algumas palavras com os alunos. Os exames nacionais são, também, prática na Finlândia mas com a diferença de que aqui a responsabilização é da escola e não dos alunos, em caso de insucesso escolar. Uma ideia que agrada ao ministro da Economia, Manuel Pinho, que acompanha José Sócrates nesta visita, bem como o ministro da Ciência, tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago. (in: http://tsf.sapo.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF168736 ).
O chefe do Governo português ficou a saber que a política nacional de combate ao insucesso escolar na Finlândia começou a ser concretizada na década de 70 e que na Escola Básica de Ressu há sempre um professor na sala de aula unicamente dedicado a ajudar os alunos que revelarem dificuldades na aprendizagem de uma determinada matéria.
O primeiro-ministro quis saber se estes alunos são ajudados com aulas extra, mas os responsáveis da escola explicaram-lhe que esse tempo lectivo suplementar era considerado desnecessário: «Numa sala de aula, há sempre mais do que um professor. Logo que um aluno revela uma dificuldade, um dos professores da sala assiste-o».
(in:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=654211)
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No mesmo dia ... Coincidência ... ou talvez não!
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A três dias de terminar o mandato, Jorge Sampaio voltou a defender a necessidade de medidas de apoio das escolas para combater o insucesso escolar. O Presidente da República lembrou ainda a importância de uma escola que não exclua ninguém.
Para a concretização de uma educação de qualidade, não basta garantir o acesso à escola. Tenho defendido repetidamente, que é necessário que a escola proporcione as condições para que todos possam aprender, o que exige estratégias de apoio aos alunos que encontram dificuldades nos seus percursos escolares», afirmou. Jorge Sampaio defendeu que «o insucesso escolar, na base de inúmeros abandonos, deve ser combatido degisnamenatde através do enquadramento de cada aluno, de apoios individualizados, de diversificação das ofertas educativas, da organização da escola como um meio culturalmente rico capaz de contrariar as desigualdades infelizmente tão marcantes na vida das crianças e dos jovens» (In: http://tsf.sapo.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF168739 )
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Onde estará a diferença?
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O 1º ciclo da minha escola, uma EBI, teve durante vários anos, aulas de EF, EV, EM e Inglês, dadas por professores dos 2º e 3º ciclos. Foram retiradas porque o ME, reduziu as horas de escola e porque, em nome do professor único, o 1º ciclo não podia ter outros professores a trabalhar com as crianças.
Os professores dos 2º e 3º ciclos notaram uma diferença substancial nos alunos que durante esses anos tiveram essa diversidade de aulas.
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A população da minha escola é uma população de um bairro de realojamento, constituída na sua grande maioria por alunos de origem caboverdeana. Para além destes há uma pequena minoria de alunos de raça cigana, alguns (poucos) de raça caucasiana e uma meia dúzia oriundos da Guiné, Angola, S. Tomé e Moçambique.
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O bairro onde residem é dos mais bem apetrechados, quer em condições de espaço físico, quer em equipamentos desportivos (campos de jogos, piscinas, etc), quer ainda em apoios sociais. Neste bairro há tudo. É óptimo que isso aconteça. No entanto, este facto, quanto a mim, é um erro. Sociologicamente é um erro que nos vai custar caro. Estas famílias têm tudo ... não têm que lutar por nada... e não lhes é exigido nada em troca. Isto reflecte-se nos "putos" ... eles sabem que "as coisas" que precisam, aparecem!
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Na minha escola há tudo o que há nas escolas da Finlândia: apoios (dos dois tipos), informática (aulas desde o 1º ciclo e clubes de informática), clubes variados, desporto escolar (9 clubes de competição, mais actividades diversas ao longo do ano), tutorias, projectos diversos(bullying, escolhas, proqual, relações com o centro de saúde e com as assistentes socias, etc).
O projecto escolhas tem mediadores que trabalham com os putos na escolas e fazem a ligação com as famílias indo a casa destas, em caso de problemas e/ou de abandono escolar.
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No entanto, "os putos" são assim: muitos não levam livros, nem material escolar (e têm-no porque quase todos têm ASE), faltam às aulas de apoio, não fazem TPCs, não prestam atenção nas aulas, inscrevem-se nos jogos e nos treinos e não aparecem, não se respeitam entre si (e muitas vezes não respeitam os adultos), não respeitam os materias, teimam em falar crioulo.
Apesar de tudo, temos conseguido ir trabalhando com eles, temos conseguido obter alguns frutos, temos conseguido fazer alguns milagres.
Os que vão para escolas fora do bairro têm comportamentos totalmente diferentes. Aí, têm que se impôr sendo melhores do que os outros.
Quanto a mim, consideram a escola do bairro como um prolongamento do bairro, onde tudo deveria estar sujeito às mesmas leis ... terem direito a tudo sem terem que dar nada em troca.
Isto merecia um estudo!!!
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Aparamentemente, se o nosso primeiro for ver a escola, verá o que pode ver em qualquer escola (nomeadamente as da Finlândia) ... boas condições, oferta educativa variada, boa organização de espaços físicos e de recursos humanos, bons profissionais. ... tudo menos os professores de apoio na sala de aula!!! será daí que vem a diferença?
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Qual será, então, a diferença?!
Como será possível que a responsabilidade passe apenas pela escola e não sejam pedidas ou exigidas contrapartidas aos alunos?