23/07/2006

Rapidinha

Não me apetece escrever. Portanto cá vai - e quem quiser que peça explicações.

A escola pública, dominada pelas "ciências da educação", esse misto de ocultismo e charlatanice, responde cada vez menos às necessidades da sociedade. No caso particular do ensino secundário e superior, necessariamente orientados para o ingresso no mundo do trabalho, há muito que os pais perceberam que os seus educandos não ficam suficientemente preparados. Enquanto isso, alguns vão enchendo os bolsos constituindo escolas privadas financiadas pelo Estado. E temos então esta pérola durkheimiana: os ricos formam-se bem e conseguem bons empregos; os pobres mal sabem ler e escrever e são conduzidos para empregos mal remunerados.

Por isso quero, no meu país, um ensino público de qualidade e exigente. Um ensino que dê respostas a todos. Um ensino que não nivele todos por baixo. Um ensino que promova a democracia.

É pedir muito?

21/07/2006

Agradecimento à Sra. Ministra da Educação

Depois de meses a insultar os professores e a atribuir-lhes as culpas por todos os males do ensino, quero agradecer à sra. Ministra a forma prestável como se insultou a si própria, factualmente, na sua lamentável prestação no Parlamento.

20/07/2006

Acumulações … ou valorização profissional? II

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Na entrada que fiz sobre acumulações … ou valorização profissional à qual acrescento valorização pessoal, não referi outros casos de que na altura não me lembrei.
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Que dizer de professores de Educação Musical que tocam em conjuntos, bandas, orquestras e que dão aulas de instrumentos em que se especializaram? … que dizer de professores de Artes que pintam, expõem, vendem quadros, e dão aulas das suas áreas preferidas?… que dizer de professores que trabalham em teatro e que representam as suas peças? … que dizer dos professores que não sendo de nenhuma dessas áreas até fazem teatro, pintam e tocam?... que dizer dos professores que escrevem e que vendem os seus livros?... que dizer de professores que dão pareceres nas suas áreas de especialização?...
Tudo isto é proíbido num sistema de exclusividade!
Porque não podem os professores exercer as suas especializações e auferir lucros desse exercício, se for caso disso?
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Quem é a srª para limitar a actividade pessoal e profissional dos professores?!
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19/07/2006

Função Pública

Por cada treze portugueses, um é funcionário público. O que significa que quase um quinto da população activa tem o Estado como seu patrão. Por incrível que pareça, o número é inferior ao de quase todos os países da União Europeia (Só em Espanha e no Luxemburgo é que há mais pessoas a receberem a conta-ordenado no sector privado). Na Suécia, país do Estado-Previdência, um terço da população tem uma função pública. Quantidade nem sempre é sinónimo de mais despesas.
(...)
Desde que José Sócrates abriu a boca para falar em reformas, os sindicatos atiraram-se às suas canelas anunciando greves para todos os gostos. O final do ano promete ser ainda mais tempestuoso, a avaliar pelas declarações contundentes do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que já disse alto e bom som: “vamos reduzir drasticamente o número de funcionários públicos”. Quantos ao certo, ninguém sabe.

CÉLIA ANTUNES, PROFESSORA

'HÁ MUITA GENTE A PENSAR QUE TAMBÉM TEMOS FÉRIAS DE TRÊS MESES'

Idade: 30 anos

Salário líquido: 1150 euros

Horas trabalho: 35 Horas semanais

Hobbies: leitura

É uma professora atípica. Célia Antunes não teve de carregar com a casa às costas, como a maioria dos colegas em início de actividade. Em 1998, quando começou a dar aulas, ficou logo colocada na escola mais próxima de casa, em Oeiras. A sorte não mudou nos anos que se seguiram. Também não a veremos nas ruas a protestar contra as aulas de substituição, o alargamento do horário lectivo ou o encerramento das escolas no interior do país.

“Compreendo os meus colegas, mas acho que até devíamos ter mais horas de trabalho nas escolas. Assim, tudo o que fazemos estará à vista. Quando estou em casa a corrigir testes ou a preparar as aulas até às tantas ninguém o sabe”, explica a professora do ensino básico da Escola Orlando Gonçalves, em Alfornelos. Os pais continuam a ter a ideia, errada, de que os professores dos seus alunos trabalham pouco. “É triste. Há muita gente a pensar que também temos férias de três meses.”

Numa escola, rodeada pelo cimento sem alma das torres suburbanas, costumam desaguar os problemas sociais do costume: “Já senti agressividade de alunos que vêm perturbados com problemas de casa.”

Os dramas sempre tiveram final feliz. Pelo menos até agora. Nas escolas, sente-se que falta um pouco de tudo: desde um simples aquecedor a um assistente social. Muitas vezes, são os professores quem veste a farda de pai, psicólogo ou especialista informático. “Somos pau para toda a colher”, queixa-se. Ela estima que por cada dez colegas no activo, nove estejam desmoralizados. “Eu devo ser uma minoria”, brinca. Este ano, Célia não passará para o 5.º escalão, como esperava, mas não se preocupa demasiado com o assunto: “Se quisesse ter uma vida mais desafogada teria escolhido outra profissão.”

Receita de sucesso

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13/07/2006

Acumulações … ou valorização profissional? I

Os “Senhores” que ocupam a pasta do ME, não percebem o funcionamento de qualquer profissão, muito menos a do ensino, e parecem estar convencidos que por limitarem as possibilidades de trabalho dos profissionais dos ensinos básico, secundário e educadores, outros terão emprego naquilo que eles consideram ser “os arranjinhos” dos professores (será esta a razão?!).
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Não se compreende esta fobia de proibir ao professor o exercício de outras actividades. A única explicação seria a de haver desemprego … mas será essa proibição que irá acabar ou minorar o desemprego? Não me parece!!!
E não se compreende, sobretudo, quando abrimos o site do governo e nos inteiramos dos currículos destes “senhores” que nos querem usurpar o direito de realização profissional nas áreas específicas da nossa formação. Não compreendemos quando olhamos atentamente os currículos destes “senhores” e nos perguntamos como é possível acharem que têm direito a não optar pela exclusividade em locais onde ela existe, mas se acham no direito de a imporem aos outros.

A exclusividade não pode ser imposta. A exclusividade tem que ser uma escolha e no caso de ser escolhida tem que ser recompensada. Ainda não tive tempo de pesquisar, mas pergunto: será constitucional esta exigência que tem vindo a ser implementada por despacho e que se assume como totalitária na proposta de Regime Legal?

Vejamos exemplos de locais onde os professores trabalham (para além da escola), mercê das especificidades da sua formação e pensemos se esses denominados “arranjinhos” não constituirão mais do que um simples "aumento de vencimento", se não serão uma forma de valorização e actualização propfissionais.
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  • Professores formados em Engenharia farão umas horitas em ateliers, na maior parte dos casos ateliers próprios ou de família… e mesmo que o não sejam! Professores formados em Direito farão umas horitas em gabinetes de advocacia. Que têm os “senhores” a ver com o facto de ao fim do dia estes profissionais trabalharem um pouco na área da sua formação específica e como podem controlar o trabalho, se feito em empresa pessoal? E haverá assim tantos professores nestas condições?
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    Professores que dão uma ou duas turmas no ensino superior… se foram convidados para o fazer é porque são bons. Este tipo de trabalho contribui para a manutenção da actualização do professor e mostra-se uma mais valia para actualização do departamento curricular da escola em que o professor trabalha. Há áreas específicas que nem todos dominam e para as quais os que estão no desemprego se fossem bons já tinham sido convidados. Portanto não me parece que o impedimento desta acumulação beneficie alguém. Nem as escolas de ensino superior podem suportar um professor a tempo inteiro quando necessitam dele apenas para leccionar uma ou duas turmas, numa ou noutra área específica, nem o vencimento dessas horas seria suficiente para “suportar a vida” de uma pessoa.
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    Professores que dão explicações … que disparate este?! Quem se lembra de proibir um professor de dar explicações?! Só quem não percebe mesmo nada disto. Há muitos que não o fazem… não gostam. Mas há muitos que gostam de o fazer e que ganham e aprendem com a reflexão profissional que fazem dessa função... Desde que salvaguardem problemas éticos que possam decorrer do dar explicações a alunos seus, ou mesmo da sua escola, porque não poderão os professores dar explicações no seu horário pós laboral? Não é o darem explicações a 2, 3 ou 4 alunos que vai acabar com o desemprego.
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    Professores de Educação Física (e não só) que asseguram a formação de atletas de todos os pontos do país e que são, alguns deles, treinadores de alta competição e/ou atletas de alta competição. Professores de Educação Física (e não só) que asseguram o trabalho técnico de Federações, Associações, Câmaras Municipais. Professores de Educação Física (e não só) que desempenham funções de arbitragem e de juízes de provas, nos seus fins e semana. (Sendo este um ponto que tem a ver com a minha área desenvolvê-lo-ei mais pormenorizadamente numa outra “entrada”)
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    Professores que dão uma ou duas turmas num colégio. Este ponto é o mais polémico, no entanto, não sei se, não sendo professores colocados no ensino público a assumir horas que sobram de horários completos, os colégios não optarão por aumentar as turmas reduzindo as necessidades, em vez de fazerem contratos com professores para essas horas, arcando com todas as burocracias e custos (nomeadamente a caixa de previdência, saúde, etc) que lhes advêm de contratações desse tipo.
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É incompreensível, pelo menos para mim, “o fanatismo” que estes “senhores” emanam da sua acção de destruição do professor enquanto pessoa e enquanto profissional, quer transformando-o em mero executor de tarefas de todas as espécies, menos a de ensinar (acção que não consta de nenhum texto oriundo desta gestão ministerial), quer escamoteando-lhe a possibilidade de realização profissional específica.
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06/07/2006

Novidades para 2006/7

Vale a pena ler:

a) Notas para a elaboração de horários

Secção V
3. Reconhecendo que há alunos com diferentes ritmos de aprendizagem, cada docente tem no seu horário 90 ou 45 minutos, conforme o número de aulas que lecciona – Tabela do despacho nº 13781/2001 – para poder prestar apoio aos seus alunos. Em regra, todos estes tempos deverão ser suficientes para prestar apoio aos alunos.

Secção VI
4. Para prestar apoio aos alunos, o Conselho Executivo deve recorrer aos docentes sem componente lectiva existentes nas diferentes escolas do agrupamento.

Secção VII [docentes com redução por doença]
1. Os docentes nesta situação estão dispensados, total ou parcialmente, da componente lectiva.
2. Não tendo componente lectiva, prestam as suas 35 horas de serviço em tarefas próprias da componente não lectiva.
3. Na constituição de equipas educativas, estes docentes podem dar um contributo valioso, quer na preparação de materiais para os colegas usarem nas suas aulas, quer na correcção de trabalhos dos alunos.
4. Quanto maior for o envolvimento destes docentes na preparação do serviço lectivo, maior será o seu à-vontade na correcção de fichas, testes, trabalhos dos alunos, etc.

b) Anda um grupo de indivíduos a trabalhar um ano inteiro para pensar em formas de tramar a vida aos professores:

3.3. Ocupação plena dos tempos escolares
Os agrupamentos/Escolas devem institucionalizar mecanismos internos que conduzam a uma eficaz substituição de docentes em falta, de modo a garantir que os alunos não sejam prejudicados no cumprimento dos programas das diferentes disciplinas e os professores não sejam colocados em situações de possível desperdício de tempo, fruto de uma deficiente organização.
De entre os diferentes mecanismos possíveis, sugere-se:
1. Que sejam constituídas equipas pedagógicas, formadas pelos docentes das diferentes disciplinas, que funcionem como subunidades educativas, organizando o seu trabalho escolar em
torno da resposta à globalidade das necessidades educativas dos alunos de duas ou mais turmas e que possam acompanhar os alunos ao longo do ciclo.
2. Que estes docentes assumam a sua co-responsabilização pelo sucesso dos alunos e que as medidas, quer de apoio aos alunos, quer de substituição de colegas em falta, possam ser planeadas e resolvidas no seio desse grupo de docentes. Esta medida fará com que se privilegie o tempo curricular, possibilitando assim o cumprimento dos programas.
3. Que se institucionalizem mecanismos de permutas internas de serviço entre docentes da mesma turma e/ou mecanismos de mobilização de docentes disponíveis, conforme bolsa a constituir, de modo a garantir a continuidade curricular. Para tal, será necessário:
a) A vinculação do docente à comunicação antecipada da sua intenção de faltar, de modo a poder organizar-se a respectiva permuta.
) A informação sobre a permuta seja veiculada aos alunos e ao director de turma para que este possa fazer a sua gestão institucional.
4. Que, na impossibilidade absoluta de garantir as modalidades de ocupação plena dos tempos escolares dos alunos previstas anteriormente, a escola organize a oferta de outro tipo de actividade previamente definidas e organizadas pela escola. Os projectos, clubes e outras actividades educativas poderão ter aqui um papel importante, no desenvolvimento educativo, no enriquecimento curricular e no reforço das aprendizagens dos alunos.
5. Que as escolas, à semelhança do que muitas já fazem, consagrem nos seus Regulamentos Internos o direito à informação dos encarregados de educação sobre os programas curriculares e o seu grau de cumprimento anual, bem como sobre o número de aulas previstas, por disciplina, para cada turma. A informação poderá ser veiculada via papel, via informática, via Internet, ou outra.
6. Que no final de cada período, o Director de Turma, na reunião com os encarregados de educação, preste informação sobre os conteúdos programados e leccionados durante esse período e, de igual modo, apresente, para cada uma das disciplinas, o número de aulas previstas e dadas.


Uma nota: nos últimos documentos do ME há uma palavra cuja ausência se faz notar: "ensinar". A escola serve para "educar", para "ocupar", para "guardar", para "dar competências", para "assegurar almoços", para "enriquecer tempos livres". Pelos vistos, só não serve para "ensinar".