30/05/2007

Antes ou depois do almoço?

O MST (Movimento dos Sem-Terra) procura que a comunidade se encarregue da escola e defina o rumo da educação. O movimento converteu-se num “sujeito educativo” e, portanto, todos os seus espaços, acções e reflexões têm uma intencionalidade pedagógica. Isto implica desbordar o papel tradicional da escola e do docente: deixa de haver um espaço especializado na educação e uma pessoa encarregada da mesma; todos os espaços, todas as acções e todas as pessoas são espaço­‑tempo e sujeitos pedagógicos. «Transformar-se transformando» é o princípio pedagógico, e o movimento é o sujeito educativo. Já não se regista divisão e separação entre escola e sociedade. A pedagogia deixa de ser uma técnica dominada por especialistas para se converter num “ambiente”, um processo de auto­‑educação permanente.

Uma pedagogia que teria entusiasmado Paulo Freire. Mais ainda, não atribuem qualificações: «Aos que não sabem não se lhes põe zero, em vez disso o grupo não avança até que todos vão a par, a ninguém se reprova». No final do curso, os promotores indígenas – eleitos pelas suas comunidades – organizam actividades que são presenciadas pelos pais de família, que «valorizam a aprendizagem dos seus filhos, sem lhes outorgar qualquer qualificação».

Creio que as práticas educativas destes e doutros movimentos recolhem a intencionalidade libertadora de Paulo Freire: a educação tende a ser auto­‑educação; o espaço educativo não é só a aula, mas toda a comunidade; os que ensinam não são só os professores, mas todos os membros da comunidade; as próprias crianças mostram a sua capacidade de aprender­‑ensinar; todo o movimento é um espaço auto­‑educativo.


Eis o eduquês em todo o seu esplendor, num artigo delirante que foi, seguramente, escrito após um almoço muito bem regado com tintol.

A única coisa que lamento é que alguma Esquerda tenha embarcado nestes cantos de sereia e que a cegueira mental a impeça de ver o quão ridícula é a sua posição.

30 de Maio de 2007

29/05/2007

O que é o eduquês?

O eduquês não é uma corrente. Não é uma teoria. Não é uma escola. Não é um princípio. Mas existe.

Existe sob a forma de facilitismo que se instalou nas escolas, não por culpa directa dos professores, mas por sucessivas imposições ministeriais.

Um bom exemplo encontra-se nos exames nacionais deste ano: os erros ortográficos não contam para avaliação no primeiro grupo. Diz o director do GAVE que as competências de leitura e escrita podem, assim, ser avaliadas separadamente, pelo que se trata de um critério técnico muito para lá da mera opinião do senso comum.

Outro exemplo é o uso de máquinas de calcular para evitar essa maçada que é a tabuada. Desde os primeiros anos de escolaridade que as crianças são induzidas à lei do menor esforço, sem que para tal existam autênticos hábitos de trabalho.

Mais um exemplo é o da constante substituição de disciplinas sérias por disciplinas sobre banalidades e fantochadas, como é o caso do Estudo Acompanhado, da Área de Projecto e da Formação Cívica.

Mas se Nuno Crato, Desidério Murcho ou qualquer outro indivíduo diz que isto está mal, lá aparecem os eduqueses da praça, a chamar fascistas e conservadores a tudo o que manifeste actividade neuronal superior a duas sinapses por segundo, provavelmente tentanto não mais do que assegurar o tacho: o tacho das escolas de formação de professores, das ESE’s, da literatura de cordel que se publica sob a égide das pseudo “ciências” da educação (obviamente, com a devida ressalva de quem trabalha seriamente; e, felizmente, também existem bons exemplos na internet, nomeadamente em blogues) e de todo o tipo de experimentalismo acéfalo em que o nosso sistema de ensino está afogado.

O pior é que essa gente não se dá à discussão: mantêm-se na sua posição ortodoxa e evitam o debate e a troca de argumentos. Quando lhes é apontado o erro, não respondem ou refugiam-se em citações vagas semelhantes às que se encontram nos horóscopos. Deixam os interlocutores sem resposta, por incapacidade intelectual.

Não farei a apologia das soluções propostas por Nuno Crato: mas não vi, até hoje, um único comentário publicado na internet em que ficasse demonstrado que aquele célebre livrinho “O eduquês em discurso directo” não esteja doente de razão. Pelo contrário, o que se vê é um conjunto de comentários bovinos, repetindo banalidades como “ele não tem autoridade para falar de pedagogia porque não percebe nada de ciências da educação”, ou “ele é um saudosista de Salazar” ou “o eduquês não existe; trata-se de um livrinho delirante”.

Enquanto debate de ideias, não há dúvida que os partidários do eduquês têm uma noção muito incipiente da democracia. Isolados na sua ortodoxia, tudo o que saia da [sua] norma é lixo. Eis uma boa forma de se auto-anularem. Continuem: é esse o caminho.

27/05/2007

Greve


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1313 escolas fecham em Setembro

São 1313 as escolas básicas do 1.º Ciclo que não deverão reabrir no início do próximo ano lectivo. O JN teve acesso ao relatório produzido pelo Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE), que sinalizou 614 estabelecimentos para fecharem só na Região Centro. Pelo país multiplicam-se os concelhos que ficarão apenas com uma, duas e três escolas - sempre no Interior. No Alentejo, aumentam os municípios que só ficam com as integradas a funcionar - caso de Barrancos e Gavião. As direcções regionais de educação alegam "não ter ordens" para se pronunciarem. O ministério mantém-se em silêncio. Os sindicatos revoltam-se contra o que consideram ser a "desertificação" do país.

A Região Centro vai ser a mais penalizada - poderá perder quase 39% das suas escolas. Entre os concelhos com mais estabelecimentos sinalizados destacam-se o de Viseu (com 28), o da Guarda e Tondela (22), Coimbra, Seia, Leiria e Pombal (20) e Cantanhede (18). Perdas que para alguns concelhos poderão significar quase metade do seu parque escolar - caso da Guarda, 48, 8% - ou mais se em Seia encerrarem 20 escolas, a reorganização traduzir-se-á numa perda de 64,5% do parque escolar do concelho. Celorico da Beira tem 13 estabelecimentos sinalizados para fechar. A confirmar-se ficará com três, perdendo 81,2% da sua rede de ensino.

O GIASE entregou o dossiê com a lista das escolas sinalizadas há cerca de dois meses às direcções regionais de educação, que desde então se têm reunido com as autarquias. Tudo indica, apurou o JN junto de alguns municípios, que as negociações poderão levar a alguns ajustes. Em Viseu não deverão fechar "nem metade" das sinalizadas. Na Pampilhosa da Serra também não deverão encerrar os seis estabelecimentos que actualmente existem no concelho, além da Escola Integrada. Os sindicatos sublinham, no entanto, que no ano passado (em que fecharam 1472 escolas) as conversações saldaram-se em "raras excepções" ao fecho decretado. Recorde-se que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, já manifestou que pretende chegar ao final da legislatura com 2500 escolas do 1.º Ciclo. Se em Setembro 1313 não reabrirem, ficam a faltar 807 encerramentos para o objectivo. Ter menos de 20 alunos e uma taxa de aproveitamento inferior à média nacional, ou menos de 10 alunos, são os critérios do Ministério da Educação para reorganizar a rede escolar. Maria de Lurdes Rodrigues considera que o isolamento potencia o insucesso e que as tranferências dos alunos para centros educativos "facilita a socialização e garante o acesso a mais e melhores recursos, eliminando a desigualdade de oportunidades".

Os dirigentes sindicais ouvidos pelo JN concordam com os argumentos. O problema, insistem, é que não se pode redesenhar "cegamente" o mapa do país a partir do referencial de um número.

Admitindo alguns ganhos, os sindicatos sublinham as consequências, que são muitas e negativas, garantem. Há alunos que têm de se deslocar quilómetros, havendo os que saem de casa por volta das 7.30 horas e regressam 11 horas depois. Dirigentes do Norte, Centro e Alentejo apontam ainda escolas requalificadas que fecham, sendo os alunos transferidos para estabelecimentos mais degradados.

17/05/2007

Para evitar problemas de diplomas...

Acesso às carreiras mais altas vai dispensar licenciatura
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O acesso às carreiras mais altas da função pública vai deixar de exigir licenciatura aos candidatos. Esta é uma das novidade do novo regime de vínculos, carreiras e remunerações que se encontra em fase final de negociação e que deverá dar entrada na Assembleia da República até final de Junho de modo a entrar em vigor em Janeiro do próximo ano.
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a notícia toda em:

12/05/2007

Trabalho vs diplomas

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A política, em curso, relativa ao trabalho, não tem nada a ver com habilitações. O menosprezo pelas profissões que eles consideram de segunda, latente em todos os anúncios das novas oportunidades, não tem nada a ver com formação. O sucesso dos trabalhadores de que eles tanto falam não tem nada a ver com o sucesso dos indivíduos. Se tal fosse verdade, não haveria a percentagem de desempregados que existe. Se fosse verdade não haveria licenciados e portadores de diplomas profissionais, nas mais diferentes áreas, no desemprego. Se fosse verdade não estaria em vigor uma lei que aumenta, cada vez mais, a precariedade e a insegurança no trabalho. Ao aumento do desemprego veio juntar-se o aumento do trabalho a prazo, em todos os sectores da vida nacional. A diminuição dos postos de trabalho não tem nada a ver com falta de habilitações. A produtividade não tem a ver com a falta de habilitações.

Todos os problemas de trabalho, existentes no país, têm a ver com problemas de gestão laboral e empresarial e com políticas de corte para resolução dos problemas, em vez de políticas de fomento para aumento de produção e consequente resolução dos problemas.
O país não é pobre. O país está empobrecido! Empobrecido por negociações em que cedemos tudo à Europa. Empobrecido por relações subsídio-dependentes para com a Europa. Empobrecido pelos grandes negócios de alguns vs os cortes de todos os outros (o fosso está cada vez maior… e desta vez, sem vergonha nenhuma; “os outros” ainda nos iam fazendo crer que a riqueza lhes advinha de títulos sucessórios). Empobrecido pela exploração do trabalho e pela diminuição do poder de compra do cidadão. Enfim, empobrecido por uma gestão e uma política de estrangulamento, de cujos resultados catastróficos culpam o trabalhador que não faz mais do que produzir o que o patrão deixa, seja ele um privado, ou o estado.

Claro que somos louvadíssimos pela Europa. Enquanto formos cortando, em troca de pequenos subsídios, enquanto não formos produzindo e formos importando tudo o que precisamos, quem produz só pode estar feliz e apoiar esta política. Claro que somos louvadíssimos porque, nestas contas do deve e haver, vamos conseguindo manter-nos naquela margem estabelecida… sem ficarmos muito abaixo para não sermos o parente pobre acusado de negligência, sem ficarmos muito acima para não começarmos a pôr em risco os gráficos de exportação/importação dos países com posses. Claro que, de vez em quando, lá vem a tal reprimenda, para que o governo possa “apertar” mais um pouco em nome dessa margem estabelecida. E lá vamos vivendo, muito satisfeitos, nesse equilíbrio efémero, querendo acreditar que um dia sairemos do limiar de pobreza (dizem eles… pensam eles “de que”…) !

E aqui entram os subsídios! Como um deles visa o programa de formação dos cidadãos europeus, vá de promover habilitações. Não interessa como, interessa que desse subsídio resulte um aumento das estatísticas no que às qualificações diz respeito. Interessa que isso seja feito de forma a que as verbas permitam não só esse aumento, mas que possam dar para mais qualquer coisita (isto é um “suponhamos J !), já que eu não acredito que aqueles CRVCC tenham o objectivo primário de dar e/ou reciclar competências profissionais (nem que absorvam toda a verba disponibilizada para a formação e que deveria ir para centros que o fizessem verdadeiramente). Creio que não irão além da atribuição rápida de diplomas contabilizáveis para as estatísticas. E assim crescerão os diplomados! E a formação crescerá também? Não me parece.

E aqui está a falácia desta política. O emprego não aumentará por terem aumentado os diplomas. Os diplomados não estarão profissionalmente mais preparados porque não é isso que visam os diplomas atribuídos. Sim, porque se as empresas e/ou o estado estivessem interessados em profissionais profissionalizados e especializados já há muito que teriam ido reciclando os seus funcionários e/ou dando-lhes a formação de que necessitassem quando os admitiam, tal como se passa na maior parte dos países que estão interessados no aumento da produção e na riqueza do país. Não creio que seja este o objectivo do nosso. Também não creio que seja esse o objectivo desta campanha!.

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10/05/2007

Especialistas!!!

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Realizou-se, esta semana, a Conferência internacional sobre o ensino do Português. Esta conferência não foi uma qualquer conferência! Foi uma conferência organizada pelos serviços centrais do ME com objectivos precisos http://www.dgidc.min-edu.pt/conferenciaportugues/Apresentacao.htm. Não sendo a minha área, não quero, no entanto, deixar passar em claro, a organização e as conclusões que foram noticiadas:
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Porquê? Porque o que se passou aqui, é o que se passa relativamente a todas as outras disciplinas ... todos são especialistas!
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A conferência pressupunha que se falasse do ensino. E onde se faz esse ensino? Onde se geram as dúvidas? Quem está todos os dias com os alunos e conhece as dificuldades quer da transmissão, quer da aquisição de conhecimentos? Que eu saiba são os professores nas escolas!
Não seria importante que: quem está, perguntasse?... quem tem experiências válidas, contasse?... que se tivessem organizado, nas escolas, grupos de trabalho que, ao longo do ano, preparassem esta conferência, colocando os seus problemas, confrontando tentativas de solução?
No entanto, parece que nada disto é importante, que nada disto tem a ver com o ensino do português e com o seu insucesso. Importante é vir alguém explicar aos pobres e incompetentes professores como se faz! Quero afirmar que não tenho nada contra este tipo de conferências, se estas se constituirem como um local onde uns vão fazer currículo e outros vão buscar informações! Tenho tudo contra, numa conferência que se "propõe reflectir, de forma alargada, pluridisciplinar e transversal, sobre os grandes problemas que hoje se colocam ao ensino do português e à sua aprendizagem em contexto escolar, sem esquecer naturalmente o lastro de enquadramentos pedagógicos e de orientações políticas que desde há algumas décadas o determinam. Dentre aqueles problemas merece destaque o deficiente domínio da língua que é evidenciado pelos nossos estudantes, tanto em exames nacionais como em estudos internacionais".
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Sim, porque ao consultarmos a lista dos conferencistas encontramos professores universitários/politécnico com função de formação de professores, encontramos professores universitários sem função de formação, encontramos escritores, encontramos a presidente do Instituto Camões, encontramos outros conferencistas com cargos semelhantes, gente que fala e escreve muito bem português, mas que com toda a certeza nunca esteve numa sala de aula com vinte e tal putos... e finalmente encontramos o Presidente da APP que não sei se exerce, e um outro professor do Ensino Secundário que também não sei se exerce...
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Todos eles, segundo o programa, falaram do ensino do português! Todos eles expuseram as suas teorias! Teorias construídas ou apreendidas... mas onde? Teorias sobre as nossas áreas todos sabemos! Pesquisa e construção de materiais todos fazemos! O que os professores querem e precisam é a resposta às suas dúvidas!
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E foi aqui que a "porca torceu o rabo"! Foi quando confrontados com as dúvidas reais de quem está no terreno e conhece "a gente" que tem à sua frente que os sábios, os técnicos bem informados, os conselheiros do ME... todos eles tendo, anteriormente, "discursado" sobre o ensino do português sem terem a mínima noção do que é uma escola, do que é uma sala de aula, se irritaram, como se estivessem a falar com mentecaptos, e responderam com o absurdo "os professores têm que ser mais criativos" "há muito material didáctico na internet"!!!
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Como se não fosse isso que os professores fizessem todos os dias! Esmifrar-se na procura e construção de materiais (tudo do seu bolso, claro!!!) que sejam apelativos e consigam tirar quem têm à sua frente da apatia e desinteresse que manifestam por qualquer coisa que lhes seja transmitida na escola, e concluiram com uma tirada importantissima, quando confrontados com o problema dos alunos estrangeiros (a quem o ME achou por bem retirar as horas de apoio): "um apelo ao Ministério da Educação para pressionar as instituições do Ensino Superior a introduzirem línguas não maternas na formação dos professores". Apelo esse que o jornal, mencionado, aproveitou logo para o título da notícia: "Docentes pedem formação para ensinar estrangeiros"
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Voltámos à mesma estórea... aprendam romeno, ucraniano, chinês, tal como em tempos aprenderam crioulo!!!
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O ME cumpriu o seu papel, o da preocupação e tentativa de resolução do assunto. Os especialistas fizeram a sua boa acção em prol da língua portuguesa e contribuiram para dissipar as preocupações do ME. Os professores voltaram para casa, com o conselho "criem e procurem na net" (e se tiverem alunos estrangeiros, aprendam a sua língua)!
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O grande problema que se nos coloca é que os currículos, os programas, os exames, as provas, as normas de funcionamento, etc, são todos elaborados por estes ou outros especialistas!
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