28/04/2007

Afinal!!!!

Abandono escolar sem números
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Afinal, depois de tantas críticas, não há números... supõe-se!!!

E pior ainda! Abandono escolar entre os 18 e os 24 anos?! "Para onde vão estas crianças"?! Crianças!!! E as escolas não se queixam?! ... ou ninguém actua?!

Será que esta gente conhece a legislação do país?! Ninguém saberá que a escolaridade obrigatória é até aos 15 anos... e que é até essa idade, e só até essa idade, que as escolas têm que reportar o abandono, se sistemático e continuado? Se os alunos vão aparecendo, de vez em quando (para nos ver e ver os amigos... ou para ir só "à minha aula", por ex) nem isso pode ser feito!!!

Estará tudo doido?!... ou serei eu que não sei ler?

O certo é que é a partir de análises deste tipo que têm nascido todos os insultos de que temos sido alvo

27/04/2007

Do relatório sobre a violência...

Este relatório não frisa o principal... não refere o papel que o Governo, pela boca do Ministério da Educação (e não só) apoiado pelos OCS, teve no clima de insegurança e desrespeito gerado contra os agentes educativos, nestes dois últimos anos. Não diz que a menorização a que fomos submetidos, os insultos a que fomos sujeitos por parte dos inquilinos da 5 de Outubro, a depreciação constante pelo trabalho do professor e da escola, o sermos considerados pau para toda a obra, foram os grandes despoletadores da violência que surgiu repentinamente.

Atacaram as escolas e os seus agentes. Disseram: não prestam! E quem respeita o que não presta? Encarregados de Educação e alunos sentiram-se avalizados para executar fisicamente todo o ódio, que aqueles senhores destilavam publicamente, contra os professores. Se há aqueles que por feitio ou educação mantiveram o controle, ficando-se apenas pelas palavras, outros houve que, habituados a resolver tudo pelo confronto físico, se sentiram no direito de o fazer também na escola.

Nunca o estado utilizou a legislação que havia para repressão da violência sobre os agentes educativos, nem no que toca a alunos, nem no que aos adultos diz respeito. Pelo contrário, desvalorizou, sistematicamente, todas as notícias, vindas a público, sobre os actos de violência sobre os agentes educativos, tal como, ainda muito recentemente, o fizeram VL e MLR. Apenas quando se deram três casos na mesma semana e a comunicação social, achando que já era de mais, agarrou as notícias e fez delas parangonas de jornais é que acordaram… mesmo assim, muito a medo, a sacudir a “mosca” que os incomodava. E não só o ME é culpado…. Também o são os “nossos representantes” na AR que há dois anos que se calam perante todas as afrontas feitas à escola e aos seus agentes. Mas, agora, para cumprir a “sua missão de observatório” já vêm propor soluções.

Só que as soluções passam pelas soluções encontradas pelas escolas – parcerias e articulação com todas as organizações locais que lhes possam prestar ajuda (Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, Comissões Municipais de Educação, Conselhos Locais de Acção Social e Conselhos Municipais de Segurança, Projectos Locais de Apoios a Jovens, como o Escolhas, Associações de Bairro, etc).. Mas para isso lá vem a técnica portuguesa para não se produzir trabalho - a criação de comissões!!!!

Será que nas escolas com problemas as Associações de Pais e EE funcionam? Na nossa não! Os restantes elementos já estão, desde há muito, integrados nos problemas e combatendo nos seus locais as possíveis causas. Temos parcerias de trabalho com todos os elementos que o relatório menciona. Dão-nos toda a ajuda … e nós a eles, na detecção de casos de risco e na tentativa da sua resolução. Unimo-nos na resolução dos problemas. Estiveram na reunião e disseram de sua justiça. Não fazem milagres porque não estão a trabalhar com apenas uma escola e porque o pessoal que têm é limitadíssimo. Foi o que lhes foi dito…. Mas quanto a aumento de Assistentes Sociais, Psicólogos, etc, não fala o relatório. Quando se querem fazer gemadas sem ovos não se consegue de certeza. Para que precisamos então de uma comissão?!

O grande problema é que enquanto, quem não está na escola, não conseguir perceber a diferença entre violência e indisciplina, não conseguirá conceber os meios para a colmatar. Enquanto, quem não está na escola, não conseguir perceber que o que se passa na escola é o reflexo da sociedade que constroem fora dela, não conseguirá encontrar formas de refrear quer a indisciplina, quer a violência. Enquanto a sociedade não perceber que os alunos espelham na escola as atitudes de menosprezo por esta instituição que apreendem em casa, na rua, nos OCS, será muito difícil à escola conseguir mudar-lhes as atitudes. Enquanto os alunos e a sociedade não perceberem que a escola é um direito, mas que para o merecerem têm o dever de a respeitar, de cumprir regras, de a usufruir para que a sua vida ganhe perspectivas de futuro, a escola não poderá ir além do que é hoje. Enquanto os alunos e a sociedade não perceberem que a escola não é um mero sítio onde se passe o dia, apenas se lembrando de exigir que haja sucesso no fim do ano, quando durante o ano, se esqueceram de trabalhar para isso, por muitos milagres que a escola faça, esse não faz.
Enquanto ninguém perceber que o único local, onde o sucesso vem antes do trabalho, é no dicionário, esta sociedade não avançará.

Na nossa escola não há violência. Há indisciplina. E essa indisciplina é resultante de uma não aceitação da regra. Na nossa escola, com alunos de predominância caboverdeana, está a primeira geração de crianças nascidas “cá” a fazer a escolarização (alguns já lá tiveram irmãos mais velhos … o que não impede de poder ser considerada a primeira geração). Que se passará com a capacidade de interacção social de jovens, sujeitos a duas culturas diferentes, e que constituem a primeira geração a fazer a miscenização dessas culturas? É este o grande problema desta escola. São estes putos que têm o grande estigma de fazer a ligação entre duas sociedades – a dos pais, caboverdeanos nascidos e criados em Cabo Verde e a nossa sociedade. São estes putos que têm que gerir as regras de duas culturas. São putos resultantes de comunidades de realojamento – um deles, ainda antes deste último realojamento, dizia-me: não dormi nada, não podia dormir… toda a noite se ouviram tiros (de polícias e de gente do bairro) e eu não sabia quando é que algum tiro me podia entrar pela janela! Ainda temos putos que viveram casos como estes e outros a nível de violência familiar (aqui sim, é violência).

Mas esta gente acha que é criando comissões e vigiando electronicamente toda a gente que os problemas se resolvem.

Sim, porque a grande solução encontrada, para além da tal comissão, é o “big brother “ – o grande olho electrónico que tudo controle!!!! É o cartão electrónico, o livro de ponte electrónico, o registe electrónico de ocorrências. É o olho do “ME” dentro da escola. Qualquer espirro estará imediatamente no ME. Também queremos o mesmo sistema na AR para sabermos o que se passa por lá … para percebermos a razão da violência exercida sobre o povo. Também queremos o mesmo sistema no ME para podermos examinar e precaver o bullying exercido sobre os professores.

Por outro lado, sugere-se o condicionamento do acesso à net…. Como se na escola, como se nas aulas, os putos viajassem pelos sites pornográficos ou estivessem em chats de depravação. Mas que escolas pensam eles que temos?! Saberão eles que praticamente não há acesso à net em quase nenhuma escola, fora dos tempos lectivos? Saberão eles que destes putos, os tais das escolas desfavorecidas, quase nenhum tem acesso à net? Saberão eles que estes putos, na sua grande maioria, não têm computadores em casa? Saberão eles que são os outros, os das escolas sem problemas que têm essa possibilidade, quer em casa, quer nas escolas? Os das nossas escolas aprendem o abc da net, nas aulas de TIC! Mais uma vez, a teoria deste governo expressa-se nas recomendações para a aplicação na prática: repressão! Não se educa…. Reprime-se!!!! Não se ensina…. Corta-se!!!!

A única proposta de medida aproveitável é a da recuperação/construção de espaços. E palavra que para que isso acontecesse, tivemos que os “arrastar” para verem o baldio que cerca o pavilhão e mostrar-lhes, pelo caminho, a falta de espaços de recreio e de convívio. Só que esta medida é das tais que nem deveria ser preciso propor. A criação de espaços adequados e a sua manutenção devia ser uma constante. Os remendos e o deixar andar até à degradação saem sempre muito mais caros do que a manutenção feita frequentemente.

Em simultâneo, para colmatar os problemas de indisciplina e violência escolares, saiu uma proposta de alteração do estatuto do aluno (
http://www.min-edu.pt/np3content/?newsId=605&fileName=alteracao_estatuto_aluno.pdf) que se encontra aberta à discussão pública até 9 de Maio (http://www.min-edu.pt/np3/578.html).

De novo, no que respeita a disciplina, para além de algumas explicitações mais aprofundadas de conceitos já existentes, só encontro a possibilidade de o CE não necessitar de ouvir o Conselho de Turma para aplicação de suspensões até a 10 dias, o que, anteriormente, se aplicava a sanções até 5 dias, já que se o CE considerasse que a sanção estava equilibrada com a falta, não necessitando de mais dias de suspensão, não precisava de ouvir o CT, nem de se instruir processo disciplinar. Quanto ao resto, tudo está de acordo com o que já estava escrito na lei 30 e que já praticamos desde que esta lei foi publicada.

Ora, ou a nossa escola fez uma leitura “futurista” da Lei 30/2002 de 20 de Dezembro, ou escolas houve que não a souberam ler. Nesta lei vem praticamente tudo o que está nesta proposta. Com base na Lei 30 já, há muito, havíamos construído uma tipificação de faltas e respectivas sanções, que estabelecessem não apenas um reconhecimento das faltas frequentes na escola, mas também um critério de equidade para as sanções inerentes. Paralelamente, temos em funcionamento uma Equipa de Acompanhamento Disciplinar, que apoia alunos e professores nos problemas que vão surgindo relacionados com a disciplina. Nestes últimos anos temos conseguido, que os casos graves de indisciplina, se vão reduzindo. Numa 1ª fase tivemos uma diminuição significativa de problemas nos 2º e 3º ciclos e um aumento no 1º ciclo (resultante de problemas de interacção entre alunos oriundos das comunidades caboverdeana e cigana) que, no entanto, também têm vindo, gradualmente, a ser reduzidos.

Lamentamos que os membros desta comissão “de observatório contra a violência no meio escolar” apenas tenham conseguido dedicar, a uma missão tão séria como esta, 2 horas e meia em cada escola, na véspera do debate sobre o assunto na AR, e que com o que lhes foi dito (pelo menos na nossa escola) apenas tenham conseguido conceber aquele relatório e apresentar aquelas propostas

O grande problema da nossa escola, embora também esteja a diminuir, mas menos acentuadamente, é mesmo o do insucesso escolar… mas esta é outra história.

Finalizamos, dizendo que é penoso, ver parangonas de jornais, estigmatizando a nossa escola, atribuindo-lhe uma violência que nunca houve, criando um impacto sensacionalista que apenas mina a periclitante confiança que vamos criando entre nós e os alunos e prejudica o trabalho de interacção que se vai desenvolvendo com crianças cujo maior defeito é a baixa auto-estima com que enfrentam a vida.

25/04/2007

O Cravo de Sócrates

16/04/2007

Sindicalismo

1 - Nos moldes em que a sociedade está estruturada os trabalhadores necessitam de uma organização intermédia que os represente não só junto da entidade empregadora e dos diferentes ministérios, a que a sua actividade se liga, para dirimir possíveis conflitos laborais, mas também que negoceie os direitos e deveres de cada classe. Enfim, que seja a voz dos trabalhadores no garante das suas condições sócio-profissionais. Sem este tipo de organizações, sem esta voz, voltaríamos ao tempo em que não existiam classes profissionais, em que os trabalhadores viviam, cada um per si, explorados e humilhados pelos patrões, sujeitos a uma enorme precariedade a nível de direitos (factos que não vale a pena relembrar). Se repararem estamos a regressar a passos largos a esse estádio. Basta olhar para as novas leis sobre contratação para nos apercebermos da tentativa (já bastante conseguida – vejam-se as novas ofertas de escola!) de isolar o trabalhador através de um contrato individual de trabalho e, posteriormente, através de uma avaliação que se quer secreta entre o avaliado e o avaliador. E não me falem numa nova recessão porque ao analisarmos, criticamente, os factos, o desemprego, a individualização do emprego e o aniquilamento dos direitos que estão a ser feitos em nome de uma instabilidade económica internacional, os argumentos não colhem. Há cada vez mais “os mesmos a engordar” na proporção inversa “aos mesmos que cada vez mais apertam o cinto” (também já vi isto algures pela história do mundo…). E cada vez mais se culpa o trabalhador, por reflectir na prática, o descalabro das más políticas, das gestões de jeitos, da ganância, dos sonhos individuais de promoção pessoal a todo o custo (que se tornam pesadelos para quem trabalha), do querer de um dia para o outro o lucro que demora anos a construir, de tudo o que tem conduzido os países, em geral, e Portugal, em particular, ao estado em que se encontram neste momento.
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Os sindicatos são necessários, mas os sindicatos são os sócios e não (apenas) as direcções. E aqui começa o 1º problema: as pessoas sindicalizam-se e pensam que, ao fazê-lo, “adquiriram” voz directa nos órgãos de decisão. Por isso descansam. Por isso ficam em casa achando que “o advogado” está tratando do seu caso. Quando são chamadas a dar opinião, em reuniões, na rua, seja em que acção for, dizem “estará lá quem me represente”. Quando descobrem que afinal todos pensaram da mesma maneira, viram-se contra os sindicatos… não mobilizaram, não estão à altura, não têm capacidade… Afinal não têm força, afinal não representam ninguém! Esquecem-se que a força dos sindicatos é a força que todos e cada um dos sindicalizados lhes derem.
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Historicamente, em quase todos os países, e em especial em Portugal, o sindicalismo está conotado com a contestação sistemática, a acção de rua, o esquerdismo (mais especificamente com os “comunas”). Aqui reside o 2º problema: as pessoas, apesar de um 25 de Abril, não consciencializaram a sua capacidade de exigir o que lhes é devido, nem a necessidade de “luta” por direitos, quer pelos que lhes são inerentes enquanto cidadãos produtores, quer pela sua manutenção. “Lutar” é feio… não fica bem, é conotado com os esquerdistas. Mais… as pessoas têm medo! As pessoas cultivam o medo do que lhes pode acontecer se fizerem isto ou aquilo (nas salas de professores isso é cada vez mais perceptível). E o “patrão” é como o cão… cheira o medo, cheira-o e avança a passos cada vez maiores, com os dentes cada vez mais arreganhados. O “patrão” conhece o seu poder sobre o resultado dos 50 anos que nos (de)formaram (e que continua a ser transmitido no íntimo da maioria das casas portuguesas) e usa-o.
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2 – No sindicalismo docente passa-se o mesmo que em todas as profissões, mas com sérias agravantes. É uma classe de intelectuais, o que muitas vezes se torna um impedimento a uma acção (embora esta condição devesse ser uma mola, torna-se em geral handicap). O conhecimento da história, das filosofias, das teorias é, muitas vezes, um entrave à manifestação dinâmica do que se quer, daquilo a que se tem direito. Perdemo-nos em “tertúlias”, em debates, em ler nas linhas e nas entrelinhas, e acabamos por agir tarde, ou por não agir. Não fica bem a um intelectual meter-se em lutas “materiais”. Por outro lado, a classe é constituída, maioritariamente, por mulheres com um “certo” status, a quem também não fica bem a tomada de determinadas posições/acções. Temos, ainda, as opções partidárias, que tolhem muitos dos nossos movimentos. Infelizmente, a maioria, quando tem um “cartão”, torna-se cega à realidade e acrítica relativamente às posições que se vão tomando, não fazendo mais do que baixar a cabeça e dizer amem. Por isso, vamos todos deixando andar, na convicção de que alguém nos defenderá. E não vou referir que o enorme desemprego existente dentro da classe e que todos os documentos emanados deste ME estão a ferir gravemente o já “pequeníssimo” espírito de classe existente, fazendo com que se olhe exclusivamente para o próprio umbigo (exactamente o que eles pretendem).
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3 – Todos sabemos que a proliferação de sindicatos tem diversas origens. Desde as políticas, nomeadamente das que se dizem de não-alinhamento, às que são da cor da ocasião (que apenas serviram para, na altura, serem apoiantes e signatários das propostas de momento), às de protagonismo individual, há de tudo um pouco. Um exemplo interessante é o de um colega (por acaso do meu grupo) que aquando da saída dos primeiros formados pelas ESE (que na altura não saíam licenciados) ter ficado indignado com os sindicatos existentes por os aceitarem como sócios e ter resolvido constituir um sindicato destinado apenas a professores licenciados. Soube, não muito tempo depois, que paralelamente a esse seu acto, tinha aceite ser professor numa dessas escolas que formavam professores que ele não considerava ao nível de se sindicalizarem nos sindicatos de professores. Enfim… protagonismos e hipocrisias!!!
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Todos sabemos, também, que a maioria dos professores (com uma formação cada vez menos politizada, por ausência quase total de associativismo estudantil), que se sindicaliza, o faz no princípio da carreira e que quase nenhum tem conhecimento dos sindicatos que existem. Por isso pergunta ao amigo, ao colega mais próximo, e acaba por sindicalizar-se no que aquela pessoa que considera de confiança indicou. Não há uma análise, não há uma escolha do que é oferecido.
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Todos sabemos, ainda, que muitos dos sindicatos existentes poucos sócios têm para além dos que constituem os seus órgãos sendo, no entanto, legais… já o mesmo não posso dizer da sua representatividade (talvez não seja ilegal… representativa é que não o é de certeza... pelo menos para mim.).
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4 – O movimento sindical deve ser da responsabilidade de todos os que dele são sócios. Essa responsabilidade passa pela participação crítica dentro do próprio sindicato, passa pela discussão dos problemas reais e pelo fazer ver a quem não está na escola (e aqui refiro-me a sindicalistas que se acomodaram) que lá não se vivem teorias mas práticas. Se o não faz dentro do sindicato não lhe reconheço o direito de o fazer fora. Se o fizer lá dentro e, sentindo-se dentro da razão, achar que o deve fazer fora do sindicato, aí sim, considero que tem o direito de o fazer, embora a “ética me possa fazer cócegas”. O grande problema é que a maioria das pessoas (sindicalizadas) que criticam a actuação dos sindicatos nunca apareceram numa reunião para dar a sua opinião, para apresentar as suas críticas. A maioria, não conhece, inclusivamente, as linhas com que se cose (falo de legislação que os beneficia e/ou prejudica – pelo que vejo/oiço a maioria não leu uma linha dos últimos documentos, apenas conhece “alguns títulos de jornais” o que é muito pouco abonatório da nossa classe; muitas vezes ouviram uma noticiazita e quando me vêm perguntar do que se trata e eu os elucido dizem-me “não pode ser, lá estás tu a exagerar” – o problema é quando não há nada a fazer e reconhecem que até lhes dei uma explicação soft… mesmo assim não aprendem; na vez seguinte acontece a mesma “cena”).
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Creio que os não sindicalizados também têm a obrigação de contribuir com a sua opinião, já que apesar de não serem sindicalizados acabam por vir a ser beneficiados/ prejudicados pelas decisões/negociações decorrentes da actividade sindical. E assim como acho que se devem pronunciar, acho que também deveriam ser ouvidos pelos sindicatos. Talvez esta atitude, se assumida por ambos os lados, se constituísse num foco de maior dinamização e unidade da classe.
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Sei que há muita gente desiludida com a actividade sindical. Este facto resulta da pouca participação dos sócios por um lado e da pouca actividade (perceptível) dos sindicalistas por outro. Tal como em altura de tempestades, só nos lembramos de Santa Bárbara quando há trovões. Também aqui se passa o mesmo. Só nos lembramos dos sindicatos em momentos de crise. Durante o resto do tempo abandonamo-los à sua sorte, não lhes damos apoio, deixamo-los decidir sozinhos. Isso aconteceu nos últimos anos. Houve um ligeiro tempo de bonança em que não fomos grandemente atacados, grandemente prejudicados… acomodámo-nos e deixámos os sindicatos sozinhos… também um pouco acomodados pela falta de grandes lutas, diga-se em abono da verdade…. Quando, de repente, chegou a crise, iniciada com o concurso de 2004, aqui d`el rei, “os sindicatos não fizeram, os sindicatos não aconteceram”…
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Os sindicatos somos nós … mas nunca dizemos “nós não fizemos, nós não acontecemos”. Depois queixamo-nos deles porque se sentiram sozinhos e agiram quase sozinhos, porque tentaram mobilizar-nos mas nós estávamos amuados e fizemos beicinho e dissemos “agora não brincamos”. Pois é … talvez nos falte a todos uma consciência política, uma consciência de classe, uma consciência de direitos, uma consciência dos deveres que temos para connosco e para com a classe, enquanto profissionais. Sim, porque ser profissional não é, apenas, exercer a profissão no nosso localzinho de trabalho. Ser profissional é ser crítico, é ser membro de uma classe, é lutar pela dignificação dessa classe nos seus diferentes status: social, científico, pedagógico, laboral. E essa luta não pode ser individual, já que numa luta desse tipo não se marcam muitos pontos. Os itens, que referi, constituem os pilares de uma profissão. Faltando a autenticidade de um deles que seja o estatuto do profissional fica ferido e a profissão de todos e de cada um é afectada.