15/09/2010

O sonho dos nossos donos... e o nosso pesadelo.

Alguém vê a diferença entre o sonho americano e o português?

A educação será mesmo uma meta desta gentinha?

09/01/2010

E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola...

Não me tem apetecido escrever ou falar da vergonha que tem sido tudo o que se tem passado em termos de avaliação, não só por culpa do ME, mas mais por culpa de muitos colegas… e são estes últimos que mais me desanimaram com a sua postura de subserviência, de medo, de não me comprometo, de, em muitos casos, deixa andar que eu estou safo…

Foram, nuns casos, os equívocos, noutros, as pressas, ainda noutros, a falta de orientações concretas e atempadas. Tudo isto, associado às prepotências de avaliadores e directores, fez com esta avaliação se transformasse numa opereta de mau gosto só aplaudida pelos encenadores e pelos coreógrafos.

Eu que sou de desporto, nunca consegui perceber como é que as regras variam a meio de um campeonato, de como é que se vão inventando regras à medida que o jogo vai decorrendo e, de como é que a minutos do apito final os árbitros ainda nos vêm dizer que falta aplicar algumas regras.
E eu que sou de educação física sei que há diferenças entre uma coisa chamada desporto e outra chamada jogos tradicionais e/ou populares. E essa diferença é enorme. E é essa grande diferença que faz a diferença naquilo que nos está a acontecer com esta avaliação. Estamos a fazer jogos tradicionais numa coisa que é um campeonato desportivo.

Para quem não sabe, a diferença que separa estas duas matérias é a sua forma de regulamentação. No desporto, todas as modalidades se jogam com as mesmas regras em todo o mundo. Nos jogos tradicionais, para um mesmo jogo, as regras variam de país para país, "da minha rua para a tua rua". E é este o grande problema desta avaliação, cada um joga com as regras da sua rua para depois ser comparado no campeonato do “mundo” inteiro.

Num dia, por coincidência, o mesmo em que o “outro” brindou a assembleia com um par de cornos, mostrando a todos a idoneidade dos nossos “eleitos”, tive que estar numa “acção” sobre classificação (está entre aspas porque uma acção com a importância desta se resumiu a uma informação de 4 horas). Quer isto dizer que esta “acção” que deveria constituir um dos preliminares deste processo, é a parte final do dito.
E depois falem-me de coerência, de boa gestão, de boas práticas, de coisas pensadas com tempo.
Nessa acção, para além de ter tido a certeza da importância e necessidade do cumprimento de muitos itens que eu vinha defendendo como obrigatórios e imprescindíveis, de acordo com a legislação em vigor, e que não existem na maioria das escolas/agrupamentos, fiquei a saber como se iria processar a dita classificação, isto é, a transformação de uma dita avaliação de desempenho num processo de seriação de professores.

Para começar, a formadora informou-nos de coisas, pelas quais me consideram louca quando chamo a atenção para a sua não existência, tais como as que se seguem. P
ara qualquer “evidência” pedida teria que haver instrumentos de análise e respectivos critérios de êxito, o que implica que toda aquela gente que andou a pedir “portafolhas” com tudo e mais alguma coisa, teria que ter uma folha de análise com os respectivos critérios definidos e bem expressos e divulgados a toda a comunidade, assim como o respectivo registo avaliativo para cada uma das evidências pedidas. Que eu saiba, da minha escola e das escolas de colegas com quem falei, nada disto existe e quando existe consta de umas generalidades, onde a apresentação, a quantidade e outros itens semelhantes são os factores a ter em conta. Teria que haver, estabelecidos em tempo útil, critérios de diferenciação, para o caso dos Exc e MB excederem as quotas, poder haver um desempate criterioso. Também, todos os itens do director teriam que ter indicadores e critérios de êxito bem definidos e divulgados a todos que permitissem a diferenciação. Por exemplo, teria que haver uma definição do que era o empenho e de como se diferenciava, assim como de todos os outros parâmetros. Um dos exemplos que deu foi: aula de substituição – deu a aula, cumpriu o serviço; deu a aula, elaborou uma ficha de revisão, falando do que fez, do que ficou por fazer, das dúvidas que ficaram nos alunos, etc - cumpriu mais do que apenas o serviço, (claro que isto é quase impossível de realizar porque não faríamos mais nada do que andar com um bloco para registo de tudo e mais alguma coisa), mas foi o exemplo que deu para mostrar que as coisas não deviam ser feitas a olhómetro, como aconteceu em quase todo o lado, por não haver indicadores, especialmente no que diz respeito à avaliação dos directores, que permitissem medir a diferença (pelo que ouvi, raros teriam indicadores para os seus parâmetros).

Cingindo-me, nesta breve mostra de como tudo isto não passou de folclore, vou falar apenas das indicações para a avaliação do director que a foi a que aconteceu para a maioria de nós.

Como eu defendia e a maioria dos directores (e mesmo o ME) não queria aceitar como legal, no ponto A1, respeitante à assiduidade, todos teriam que ter Excelente (10). A não ser que se tivesse sido suspenso, preso ou tivesse faltas injustificadas, todos estavam dentro da lei e não poderiam ser prejudicados desde que não tivessem ultrapassado os limites previstos na legislação. A lei, especialmente quando essa lei é geral, não pode conduzir a penalizações determinadas em leis “menores”.

Punha-se então o caso do ponto A2 – o empenho. E era aqui que teria que ser feita a compensação à assiduidade, foi esta a sugestão da formadora para não sobrecarregar a Comissão de Avaliação com a escolha dos “premiados com o mérito”. E foi aqui que muitos directores (como o meu) resolveram utilizar o factor de compensação, dando regulares e insuficientes para compensar os excelentes do A1. A maioria sem critérios estabelecidos, sem indicadores que fizessem a diferença.

E como o A valia a dobrar também foram compensando “porifora”.

Só que este problema só se punha com a possibilidade dos Exc e dos MB.

Poucos foram os que não perceberam que não tinham que fazer compensações porque se não havia aulas assistidas (para a maioria), não tinham mais do que dar a notação que cada um valia, sabendo de antemão que todos teriam Bom. E houve Bons com 8 e com 9 em algumas escolas demonstrando o real valor das profissionais. E houve outras em que as pessoas foram avaliadas com as compensações tendo que ter notações “negativas” mesmo que não as merecessem para compensar a assiduidade.

E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola.

Estes foram alguns dos problemas desta avaliação que por si só a tornou uma fantochada.

Mas isto agrava-se quando ficamos a saber que a primeira coisa que o director tem que fazer, quando inicia o processo de classificação on line, é “parametrizar a ficha”, isto é, abrir as fichas e transformá-las de acordo com a escola. Por exemplo, não vai avaliar o A5, assinala-o e esse campo passa a “não aplicável” e desaparece da ficha, ou pode alterar o texto de um parâmetro, ou acrescentar um parâmetro, etc.
Vocês sabem quais os parâmetros (e em que moldes) em que os vossos directores vos avaliaram? Eu, até hoje, continuo a não saber. Não faço a mínima ideia…

Depois da parametrização o director inscrevia em cada professor a sua condição de avaliado: coordenador, avaliador, avaliado, com aulas assistidas, sem aulas assistidas, etc. Conforme a “condição” do professor assim se abriam ou fechavam campos de classificação.

Para além disto, como explicou a formadora, o avaliador apenas tem que inscrever, no parâmetro, a avaliação qualitativa atribuída ao professor. Explicou mais, explicou que automaticamente o programa assume essa avaliação pelo valor máximo. Por isso me tem feito tanta confusão algumas notações que foram aparecendo aí pela blogosfera, nomeadamente umas que davam resultados até às milésimas.

Tanto quanto sei, também os avaliadores de aulas assistidas entraram nesta brincadeira das compensações para não criar problemas à comissão. Em cada “categoria” foram determinadas, a priori, as pessoas que iriam ter mérito e depois as avaliações/classificações foram atribuídas de acordo com essa determinação. Isto passou-se numa escola onde todos tiveram, obrigatoriamente, aulas observadas nos 2 anos (a titulo experimental, foi o que foi dito e decidido em CP). Só que "este a título experimental" foi obrigatório e teve resultados! Resultados que diferenciam! Resultados que vão contar para a carreira! Resultados que colocam em cheque as quotas porque muitos professores se sentiram prejudicados porque comparativamente, dentro dos grupos, as diferentes categorias em resultado das compensações viram o seu trabalho não valorizado nuns casos e sobrevalorizado noutros.
E depois falem-me de mérito, de incentivo, de vontade de dar mais à escola.
E nem vos conto o meu caso e o caso da minha escola porque nem vale a pena!