29/07/2005

Relatório Crítico

Os Contratados têm de apresentar o Relatório Crítico tal como está legislado. Para os mais distraídos cá fica a legislação específica para contratados:

Artigo 4º Docentes em pré-carreira e docentes contratados

1 - A avaliação do desempenho dos docentes que se encontrem em situação de pré-carreira realiza-se nos termos previstos nos nºs 3 e 4 do artigo 41º do ECD.

2 - Para efeitos de avaliação ordinária dos docentes em pré-carreira e do disposto na alínea a) do nº 3 do artigo 41.º do ECD, são de três anos os módulos de tempo de serviço docente.

3 - No ano da conclusão da profissionalização em serviço é dispensada a avaliação do desempenho aos docentes que reúnam os demais requisitos exigidos para a progressão na carreira.

4 - A avaliação do desempenho dos docentes em regime de contratação realiza-se no final do período de vigência do respectivo contrato, nos termos previstos no artigo 130º do ECD.

5 - Os docentes referidos no número anterior apresentam o seu documento de reflexão crítica nos 30 dias anteriores ao termo do respectivo contrato.

Alguém se esqueceu dos exames

Alguém se esqueceu que este é o ano em que se realizam exames nacionais do 11º ano. Pelo menos, é isso que se pode concluir do calendário escolar para o próximo ano lectivo...

Ainda a greve (2)

Conheço uma escola onde os professores grevistas estão a ser convocados para "serviço de apoio ao Conselho Executivo", ainda que os vice-presidentes do dito não saibam (sic) em que consiste o serviço, uma vez que (sic) só o Presidente sabe para que é que os convocou. O engraçado é que os professores convocados são os grevistas: ou seja, quem fez greve está convocado, quem não fez está de férias por antecipação. Alguém conhece mais casos destes?

Ainda a greve (1)

A FENPROF resolveu apresentar queixa contra o Estado português. Mal ou bem, é sinal de que não fecharam a tasca para ir de férias.

Mais emprego?

A Senhora Ministra da Educação anunciou a criação de 3000 novos empregos com o fim das acumulações. Convirá esclarecer que a medida é, obviamente, benéfica para os contratados e desempregados; eventualmente poderá até ser considerada moralizadora do ensino público, embora tal seja disputável. No entanto, falta esclarecer que o que está em causa são empregos, sim, mas empregos de seis ou nove horas semanais - ou seja, vencimentos de 250 a 350 euros. Para quem está empregado é melhor do que nada, mas convém não esquecer que o ordenado mínimo nacional está acimadesses valores. Por outro lado, convém não esquecer que o mesmo Ministério vai promover um despedimento em massa de professores com a "redistribuição" dos horários dos professores. Entre o deve e o haver...

Contestação

Confesso que ontem tive um estranho sentimento. Um sentimento de desânimo ao ver aquilo que outras classes, na mesma situação em que estão os professores, a fazer o escarcéu que se viu na Assembleia. E fico a perguntar-me o que aconteceria a um país em que os professores fizessem exactamente o mesmo durante um mês inteiro.

28/07/2005

Mais um efeito colateral

Os estabelecimentos de ensino particular enfrentam um dilema: se não podem atribuir as horas sobrantes (4, 6, 8, ...) a um professor acumulador irão ser obrigados a fazer contrato com um professor não-acumulador que após x contratos (ainda serão 3 ou já serão os 7 do novo código... ajudem este ignorante!!!) terá que ser vinculado aos quadros dessa escola. Isso sem nunca ter tido um horário completo. A alternativa que se perfila é a de levarem um chuto e serem substituídos por outro professor não-acumulador...

27/07/2005

Fim das acumulações - mas não para todos

O Público de hoje traz uma notícia sobre o fim das acumulações. Cá vai o mais relevante da notícia:
Os educadores de infância e professores do básico e secundário que queiram dar aulas em vários estabelecimentos de ensino poderão continuar a fazê-lo, mas até um limite máximo de seis horas por semana a mais em relação ao seu horário lectivo principal. O limite actual é de dez.

Se quiserem acumular as funções docentes que desempenham com o exercício de actividades de formação profissional em centros do Instituto de Emprego, o limite fica-se nas quatro horas lectivas. E quanto a explicações fica claro que um professor nunca poderá cobrar um serviço deste tipo a um aluno da sua turma, da sua escola ou sequer do agrupamento em que o estabelecimento de ensino está integrado.

Os professores que dão aulas no ensino público não podem acumular essa actividade com outras de conteúdo semelhante, como a "prestação de serviços especializados do apoio e complemento educativo, de orientação pedagógica ou de apoio sócio-educativo e educação especial", se estas se dirigirem aos alunos do agrupamento ou da escola onde exercem o seu trabalho principal. É o caso, por exemplo, das explicações.


Na lista dos impedimentos o projecto de diploma acrescenta mais duas situações em que não são permitidas acumulações. É o caso dos professores que invocam motivos de doença para ser destacados noutras escolas (por condições específicas).

Os docentes também não podem prestar "actividades de consultadoria, assessoria, marketing ou vendas em empresas fabricantes, distribuidoras ou revendedoras de material didáctico ou outros recursos educativos, incluindo editores ou livreiros de manuais escolares, e em associações representativas do respectivo sector".

26/07/2005

Portugal tem falta de licenciados

Fonte: Rádio Renascença Online
26-07-2005/22:27:00

Portugal é o país europeu com menos licenciados

Os dados do Relatório Números Chave para a Educação na Europa 2005, realizado em 30 países revelam que Portugal é o país com menos percentagem de pessoas que concluíram a licenciatura.

Ao contrário do que muitos pensam, Portugal não é um país de "doutores e engenheiros", já que apenas 15 % dos portugueses entre os 30 e os 34 anos concluíram um curso superior.

Números baixos se pensarmos que na maioria dos países europeus, uma em cada três pessoas é licenciada, como é o caso da França e de Espanha.

Entre os 20 e os 24 anos, mais de 55 % cento dos portugueses não apresentam habilitações que permitam o ingresso no Ensino Superior.

Segundo este estudo, 20 % dos jovens que abandonam a escola entre os 15 e os 24 anos estão no desemprego.

O emprego é também um dos principais problemas dos jovens licenciados, pois apenas metade jovens licenciados entre os 25 e 34 anos encontra um emprego dentro da área de formação.

Este estudo revela ainda, que nas escolas portuguesas 60 % dos computadores estão ligados à Internet, um valor baixo que só é batido pela Eslováquia. Nas escolas portuguesas há um computador para cada 16 alunos, a média europeia é de um para 10.

O número de alunos no Ensino Superior subiu dois por cento entre 1998 e 2002, e, seguindo a tendência dos últimos anos, há mais mulheres no Ensino Superior do que homens.

Já está!

Já é letra de lei: os horários vão sofrer uma profunda alteração!

Uma hipótese académica

Uma vez que muita gente parece ainda não ter entendido o que se passa, cá vai uma (possível) explicação.
os "antigos" horários tinham 22 h , das quais em alguns/muitos apenas 15h correspondiam à componente lectiva. Por exemplo, o titular do horário poderia ter 5 turmas com 3h/semana (15 tempos lectivos) mais 2h de redução por idade,3 horas na sala de estudo e 2h como director de turma.
AGORA, o mesmo professor terá as 3h de sala de estudo marcadas como componente não lectiva, o que significa que terá de passar a ter 6 turmas com 3h/semana. Isso significa que, nessa escola, passará a haver MENOS uma turma para atribuir a um horário de contratação.
Logo, um eventual horário para contratação de 10h seria reduzido a 7h SE esse for o único prof a ceder horas, o que dificilmente será o caso. É que na maior parte dos casos todos os professores perdem uma, duas ou três horas - horas essas que se se reflectem nos horários para contratação.
Claro que a situação será mais crítica, a meu ver, nos grupos que tradicionalmente têm mais cargos e tarefas distribuídos.

23/07/2005

Não, não são as férias



É o trabalho!

18/07/2005

A propósito das negativas a matemática...

... não seria desaconselhável que os nossos alunos ouvissem um conselho de um campeão. Poderão encontrá-lo num pequeno vídeo (Lance on Riding - é o terceiro a contar da esquerda) em que Lance Armstrong «dá» um conselho para quem quer fazer qualquer coisa de forma eficaz e duradoura. Exactamente o que devem fazer os nossos alunos a matemática. Obviamente ele pensa em primeiro lugar no desporto, mas a matemática é um desporto também. Da mente, é claro, mas é um desporto. Tal como a Filosofia, etc.
É esta mentalidade que nos falta. E esta conversa da mentalidade é pertinente. Não é uma desculpa de quem não sabe encontrar causas. Sei que, como é um argumento demasiado geral, serve quase sempre de máscara para a falta de medidas particulares (aqui, ali e acolá) dos responsáveis. Mas pequenos passos «consistentes» tem mais resultados (nessa «mudança de vontades») do que grandes reformas fracturantes. Mas não dão votos... e a culpa continua a ser da mentalidade. Da dos políticos que assim reproduzem outros iguais a si que lhes seguirão os passos.
É preciso interromper este ciclo.
Está também nas nossas mãos.

Tenebroso

Não é possível fazer muitos comentários. Cada um que leia e retire de lá as respectivas conclusões. Há QE's e QZP's que vão perder a vontade de continuarem a ser professores. Os contratados ...

17/07/2005

Colocação de professores

O que diz o Presidente

O Senhor Presidente da República afirmou há não muito tempo que os professores finlandeses trabalham NA ESCOLA 50 horas por semana. Esqueceu-se talvez de referir que os professores finlandeses ganham 2300 euros por mês; que as escola têm boas instalações e equipamentos; que o ensino é gratuito, desde o básico até ao universitário; e, já agora, não seria de mau tom corrigir aquela coisa das 50 horas, que afinal são só 37.

Carta Aberta ao Primeiro Ministro

Por ser longo, coloco este post sob a forma de comentário. Tenho pena de não ter lido isto quando saiu no Público. Serve este texto para desmentir a tal mentira que, repetida até à exaustão, nos leva a pensar que é mesmo verdade: a de que em Portugal há um número exagerado de funcionários públicos. Eu mesmo o disse, neste blog; e alguém me chamou a atenção para o facto de não ser bem assim. Pois é, meus caros: os funcionários públicos são poucos, muito poucos, mas querem fazer-nos crer que é na despesa com os funcinários públicos que é preciso cortar. Afinal, muitos andam a mentir...

15/07/2005

Expliquem-me isto, pf

Já reparam nas vagas dos cursos de ensino (nos nossos cursos)? No meu (!) continuam a entrar 80 desgraçados destinados ao desemprego ou a reconversões alinhavadas em cima do joelho. Mostrem-me uma razão para continuarem a existir tantas vagas em cursos que a sociedade não aproveita (porque já não precisa!), e nas medicinas (em todos os cursos) existem este ano apenas mais 285 vagas, quando a sociedade necessita de muitos mais enfermeiros, médicos, técnicos de saúde de diversa ordem,...
Por falar nisso: será a falta de Ordem?
(P.S. Não argumentem com a liberdade de cada um escolher o curso que quiser, mesmo sabendo que não tem saída profissional. Nesse caso, não deveria haver numerus clausus - é assim que se diz? - em nenhum curso. Quantas pessoas com vocação para tal são impedidas de ser médicas? Respeitar a liberdade de escolha implica abrir todos os cursos...)

14/07/2005

Aos contatados e desempregados deste país

Das duas uma: ou levantamos a cabeça e vamos à luta ou mais vale fazer como os ratos - fugir antes que o barco afunde. Portanto, é hora de nos unirmos e fazer ouvir a nossa voz. Quem está comigo?

Notícia DN: DN_ONLINE Escolas vão definir tarefas de docentes fora da sala de aula

Notícia DN:Escolas vão definir tarefas de docentes fora da sala de aula

Já não há quem nos defenda? A FNE é um sindicato ou uma associação de socorros mútuos?

Correio dos leitores: A opinião pública

“Toda a minha gente” opina sobre o ensino sem, no entanto, saber minimamente a “legislação” que rege o sistema, de modo que o resultado é a acusação fácil sobre os professores. Em 1997 (penso estar certa), um “responsável”, na altura, do ME disse-me "preto no branco", a propósito de não dever haver retenção em anos não terminais de ciclo: " Os alunos, só com a presença, adquirem muito mais valias do que os professores pensam." (aparte: até compreendo o que foi dito e até o aceitaria, se as escolas estivessem devidamente equipadas e preparadas para as consequências que advêm daquela afirmação). Claro que, depois, quando se fazem exames, as questões não recaem sobre essas mais valias! Outra questão que parece ser sistematicamente esquecida (para não dizer que "esquece muito a quem não sabe") por quem opina é a dos critérios de avaliação. A contrapor a um exame, um professor avalia um aluno de acordo com, em média, no Ensino Básico, 9 (NOVE) parâmetros de avaliação, entre os quais se encontram a “assiduidade”, “pontualidade”, “relações interpessoais”e “comportamento” – ora, em alguns casos, e de acordo com os critérios da escola, um aluno transitará ou será sempre aprovado, bastando ter 100% nesses parâmetros. Há uns anos (poucos) muito se comentou, neste país, o facto de haver uma escola que tinha tido 100% de sucesso. Vá lá que ainda houve uma ex-governante que teve a decência de lembrar os critérios de avaliação mas, como os jornalistas não faziam ideia do que ela estava a dizer, o que ficou na opinião pública foi o “sucesso”! Ora, a “coisa” era simples: 50% para “Valores e Atitudes” – pois, colegas, era praticamente impossível que um aluno não tivesse sucesso!!! Temos levado ao longo dos anos com verdadeiras lavagens ao cérebro, cujo único objectivo é criar uma imagem de sucesso, tendo-se tornado quase obrigatória a aprovação dos alunos, digam os governantes o que disserem e sobretudo passem o que passarem para a opinião pública. A verdade é que a conversa de que todas as aprendizagens eram passíveis de se realizar pelo lúdico, entre outras “pérolas”, como a que uma vez me disseram, na altura do lançamento de uma reforma (perdoem mas já não sei qual), a propósito do desenvolvimento da expressão escrita… sic “ Importa que os alunos escrevam muito"; não, nem sequer é necessário corrigir tudo isso. O que interessa é a quantidade e não a qualidade. De vez em quando, o professor pega num dos textos lê e comenta”(!), foi criando, ao longo de gerações, a noção de facilitismo. Até nos exames de 12º… é engraçado que, há não muito tempo, foi feita uma reclassificação de exames, porque se chegou à conclusão de que um determinado grupo de alunos tinha tido uma classificação muito abaixo da média – acho bem! Só não entendo é porque acontecendo o mesmo, mas relativamente a classificações muito acima da média, o mesmo não se faça! Também acho bem…apenas constato a diferença de atitudes.
A grande maioria dos alunos não trabalha, não estuda e nem a visitas de estudo (mesmo que sejam mais passeio, como uma ida ao Jardim Zoológico, Zoo Marine ou afins) quer ir! Estratégias como pintar, desenhar já são consideradas uma “seca” …comentário mais ouvido: “ ’borrece-me!”. Gosto do que faço, mas confesso que estou cansada, muito cansada, de ouvir uma contínua desconsideração pelos professores e o mais triste é verificar que a desconsideração começa na tutela. Sei que se disse, e estou a falar do presente (!), que se sabia que havia professores que trabalhavam muito para além das 35 h, mas que também havia muitos que não trabalhavam. Resultado: apliquem-se as medidas…! Não se disse, sancionem-se os que não trabalham! O que se disse foi “Espete-se” então com mais trabalho para cima dos que trabalham! E porquê? Para aumentar a qualidade? Não! Para calar a opinião pública, para calar os EE que, no 1º Ciclo, ficam descansados com o local
onde "largam" os filhos, para dar uma ideia de exigência, aumentar o desemprego e poupar meia dúzia de tostões que bem caros talvez lhes venham a sair – continuam, ao fim de tanto ano, a desinvestir no ensino. Já viram as consequências, mas ainda não aprenderam. Todas (ainda que poucas) as medidas que alguma vez se fizeram e realmente resolviam problemas dos alunos foram ”PROÍBIDAS", apenas e só porque custavam dinheiro! Tenho de perguntar: quantos ministros da educação tivemos desde 75? Quantas reformas ou pseudo houve? Quantos métodos se pretenderam implementar? Que avaliação se fez de cada um deles? Só este ano é que a Gestão Flexível foi alargada ao 9º ano em todas as escolas e já houve alterações, antes mesmo de ter chegado ao 9º ano! Digo mais: outras garantidamente se preparam! Quantas vezes se ouviram os professores sobre tudo o que se tem feito? Nunca! A única vez em que isso foi feito foi exactamente em 1996 (antes da implementação da Gestão) e não passou de um enorme, imenso, embuste! Quantos ex-ministros da educação estão neste governo e porquê? Professores revoltados por injustiças contínuas nenhum bem trará. Na Função Pública, precisavam de uma classe fácil de atingir – foi a nossa.

13/07/2005

Em vias de extinção

Assim estão os contratados deste país. Dentro de uns tempos podemos mudar o nome deste blog: em vez de "Professores Contratados e Desempregados" fica só "Desempregados".

Os horários vão ser reformulados: os professores passarão 28 horas na escola, diz a ministra. . E o nick "David Lloyd George adianta, no fórum Educare, que após uma análise exaustiva ( grupo independente de qualquer cor partidária e de qualquer sindicato) das escolas EB2/3, EB2,3/Sec, EB3/Sec e ESec concluímos que deixaram de existir perto de 12800 horários pelos diferentes grupos excepção feita para os grupos 24,39 ( cujos grupos pouco serão afectados por estas medidas. os grupos mais afectados serão 01 até ao 05 (2ºciclo)do 3º ciclo/ Secundário 11,15,16,17,18,19,20,21,22,23,25,26. Esta análise não é feita por nenhuma entidade mas sim por um grupo de cinco professores contratados que analisaram a totalidade das escolas tendo em atenção as listas de colocação de 2004/2005 e as listas de entrada de docentes nas escolas no ano 2004/2005. Tendo em atenção as diferentes medidas anunciadas o número apontado é uma estimativa mas poderá variar entre 10000 a 15000 os horários que irão desaparecer só este ano.

Portanto,...

12/07/2005

Participação dos cibernautas

Por ser um e-mail bastante extenso, optei por colocá-lo sob a forma de comentário. Aconselho vivamente a leitura deste texto!

Más notícias

Afinal, só as reduções do cargo de Director de Turma e relativas à orientação de estágio e Desporto Escolar se mantêm tal como estão. Todas as outras desaparecem caso o titular do horário tenha mais de 40 anos, pois fica impossibilitado de acumular reduções (idade + cargos) Significa isso que podem perder-se muitos horários (a FENPROF fala de dez mil!) para contratados...

Post de uma cibernauta

Uma leitora deste blog enviou-nos um e-mail que aqui transcrevemos:

Estimado Colega

gostaria de contar com o seu blog para esclarecer centenas de colegas que vão permanecer eternamente contratados no 2ºCiclo, sendo ultrapassados por centenas de professores, na sua maioria, com classificação inferior.

A questão: Quem são os professores com habilitação profissional para o 2ºCiclo (desde LP até Ed. Física) que são colocados no 1ºCiclo?
A resposta:Nos concursos anteriores, os que tinham uma graduação profissional baixa o que não lhes permitia ter acesso a um horário no 2ºCiclo. No actual concurso, todos os professores que já perceberam que a passagem durante 1 ano no 1ºCiclo dá acesso, quase sempre, a 1 lugar de QZP ou QE do 2ºCiclo.

Vejamos a situação do 4ºGrupo (Matemática e Ciências da Natureza), após a análise das Listas Definitiva de Graduação e de Colocação, dos concursos de professores 2004/2005 e 2005/2006, verifiquei que um grupo com cerca de 150 professores provenientes do 1ºCiclo, na sua maioria com classificação profissional inferior ao dos primeiros candidatos do concurso externo, ter obtido lugar no QZP e QE, em zonas e escolas para as quais estes contratados tinham concorrido.

Muitas questões se levantam:
Será esta uma situação justa? Um ano no 1ºCiclo apresenta maior valor profissional do que 10 anos de contrato sempre no 2ºCiclo?
Será que o princípio da igualdade que deve reger um concurso está salvaguardado?
Porque motivo os sindicatos não querem interferir neste processo? Terão contribuído para ele?
Será este um dos motivos que influencia negativamente a qualidade de ensino no 1ºCiclo? Que eu saiba os professores, p. ex. de EVT nunca tiverem durante o seu curso, disciplinas específicas de Did. da Língua Portuguesa nem de Did. da Matemática!

Sugestão: Quem tiver nesta situação, envie um pedido de esclarecimento à Sr.a Ministra da Educação, apresentando o seu caso e comparando-o se possível com em que a situação apresentada se verifique. Só deste modo, esta situação inacreditável pode chegar ao conhecimento a quem pode modificar as leis que regem o actual concurso.

Participação dos leitores

Um blog como este tem de se fazer com a participação dos cibernautas, independentemente da concordância de opiniões entre as diferentes pessoas que aqui participam. Por isso mesmo, convido todos os leitores a enviarem os seus posts, as suas informações, os seus esclarecimentos para os nossos e-mails!

10/07/2005

Assim [não] se investe em Educação

Intel estranha silêncio do Governo em projecto para Educação

Portugal corre o risco de ser excluído do programa Tech to the Future financiado pela Intel. De acordo com a edição do Expresso de sábado, uma fonte da companhia americana manifesta estranheza face à ausência de resposta do Governo para avançar com este projecto que "tinha sido assinado pelo ex-ministro da Educação David Justino"

08/07/2005

Uma boa notícia

O fim das reduções caminha para a morte, antes ainda do seu nascimento. Veja desenvolvimento da notícia aqui.

Mais protestos

A Frente Comum continua a tentar defender os interesses dos funcionários públicos. Tenho uma sugestão a apresentar: sendo Portugal um país com um número quase desmesurado de funcionários públicos, porque não começar por cortar no número de deputados? Para que queremos nós 230 deputados na Assembleia se, afinal, nunca estão lá todos, cada um tem não sei quantos ajudantes e secretárias e, pior de tudo, não se vê nada de bm sair do "trabalho" daquela gente? Quem avalia o desempenho dos senhores deputados? Quem afere a produtividade que estes indivíduos trazem para o país? (Note-se que os portugueses votam em Partidos, pelo que não podem escolher os deputados...)

Regimes especiais na Função Pública

Ao que parece, 60% dos funcionários públicos usufrui de regimes especiais. Só me passa pela cabeça perguntar se esses 60% são professores...

07/07/2005

Mais horas?

A DGIDC emitiu o Ofício-Circular número 30/DSEE/DES/05, com data de 28 de Junho, no qual se fornecem orientações para a gestão dos programas de diversas disciplinas. Em alguns casos isso poderá significar um acréscimo de algumas horas semanais. Os interessados deverão clicar aqui para verificar se têm menos ou mais horas disponíveis.

06/07/2005

Desdobramento de Turmas

É graças ao desdobramento de turmas que surgem muitas horas para distribuir por contratados ex-desempregados. A Direcção Geral de Desenvolvimento e Inovação Curricular acaba de esclarecer as regras que presidem a esse desdobramento.

Educação e Formação de adultos

Portugal é um dos países onde subsiste um elevado número de analfabetos - e não apenas funcionais. Em termos de qualificações profissionais, é o que se vê. Agora é o Conselho Europeu de Primavera a salientar a importância da formação de adultos. Pergunto-me quantos professores seriam necessários para fazer de Portugal um país mais evoluído. Ainda existiriam desempregados?

05/07/2005

Atenção desempregados:

Já foi aprovado o programa de generalização generalização do ensino de Inglês no 1º ciclo do ensino básico. A quem interessar...

Desterrados

Além dos professores sem quadro, como os contratados e os desempregados, há outros dramas que vão acontecendo por aí. Como os divisionismos raramente são aconselháveis, e como se trata de uma questão de justiça - ou pelo menos de moralidade - achei por bem trazer a este blog a situação inacreditável de quem, com melhor graduação, se vê condenado a ficar atrás de quem tem menor graduação. Claro que a forma como se calcula a graduação é altamente discutível. Não compreendo, por exemplo, a razão para um Mestre ou um doutorado concorrer atrás de um Quadro, apenas com base na antiguidade: mas essa é uma questão diferente e que merece um post mais extenso...

Greve? LISTA NEGRA, JÁ!

O sindicato da região Centro condena a existência de "listas negras" dos grevistas. Saiba mais desenvolvimentos aqui.

04/07/2005

Professores e Turismo

O Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, afirmou hoje que é necessário revitalizar o turismo em Portugal, dado que grande parte constitui "oferta não qualificada".

Seria talvez conveniente fazer notar que para que a oferta seja qualificada é necessário, precisamente, proceder à sua qualificação. E essa qualificação faz-se, ao nível do pessoal, através da formação profissional.

Queria eu saber como pode o país ter um sistema de formação profissional completamente desestruturado e, mesmo assim, clamar pela necessidade "imperiosa" de qualificar as nossas capacidades económicas.

Estou certo que os milhares de profissionais de educação e formação desempregados ou em situação instável não se importariam, num gesto patriótico, de dar uma ajuda para essa qualificação. Não será?

02/07/2005

O País do Sol Egoísta.

Era uma vez um país de professores onde o sol era tão egoista, tão egoista, que só brilhava para alguns...Todos os dias nascia e pensava: " Porque hei-de brilhar para todos?". Assim, numas zonas os dias eram radiosos e cheios de luz e alegria, e noutras vivia-se numa semi-obscuridade atrofiante e claustrofóbica todo o ano.O negro destas zonas iluminava-se um pouco aí pelos meses de Setembro e Outubro, para logo a escuridão voltar envolta em frustração e angústia levando os habitantes dessas áreas a questionar: "-Que mal fiz eu para ser tratado assim?"E o breu caía e crescia... crescia... crescia... e fazia os corações murchar, como flores sem sol, na perspectiva de, lá para Agosto, aqulela réstia de luminosidade se esvair por completo e as trevas profundas invadirem as zonas tristes e isoladas desta terra triste e egoísta, na perspectiva de talvez nunca mais verem o sol!
Porque nenhum país pode ser pátria se o sol trata uns com carinho e outros com desprezo!
Porque nenhum país pode ir mais longe se o sol quando nasce não é para todos...

Não termino esta história hoje...talvez porque aínda tenha uma pequena réstia de esperança que um dia o meu país vá dar a volta por cima e tornar-se na "potência mundial" que merece!!
Hoje o fim seria obrigatoriamente triste, e para tristes já chegam os meus dias, por isso terminarei um dia, quem sabe...quando os contratados não forem olhados e tratados como necessidades não permanentes e quando eu, que sou contratado há 11 anos, já tiver o meu lugar ao sol e já não houver zonas semi-obscuras no meu país!!

União

Recuemos um ano: "Um país com um milhão de analfabetos não se pode dar ao luxo de ter cerca de 30 mil professores e educadores não colocados, e vários milhares em situação de enorme precariedade", Pode ? Recuemos um ano : O número de professores desempregados poderá chegar aos 40 mil no início do próximo ano lectivo Chegou ? frases retiradas do Sindicato de Professores da Região Centro. Este ano, 2005, Grupos sem entrada para o quadro : grupo 4 -zero vagas ; grupo 9 - zero vagas ; grupo 14 - zero vagas ; grupo 22 - zero vagas ; grupo 23 - zero vagas ; grupo- 29 - zero vagas ; grupo 33 - zero vagas ; grupo 34 - zero vagas ; grupo 36 - zero vagas. Alguêm acredita nestas zero vagas ou ACREDITA ANTES QUE O NOSSO ESTADO RESERVA ESTAS VAGAS PARA OS "reles contratados", pois assim paga-lhes menos e sabe que têm menos poder reivindicativo junto das organizações que os podem representar (sindicatos) . Não estará chegada a hora de união entre professores sem quadro e com quadro, para tornar um ensino melhor. Se assim não for eu continuarei a ser aquilo que o estado chama há onze anos, repito, onze anos, uma necessidade não permanente !!!! Uma necessidade não permanente há onze anos?!?!?!Eu acho que chegou a hora! E tu?

Incapacitados nos museus

Os Ministérios da Educação e da Cultura querem requalificar profissionalmente os professores que, sendo incapacitados para o ensino, possam desempenhar funções culturais noutros organismos. A medida, aparentemente bondosa, tem o condão de mostrar como se vê o profissional de educação em Portugal: é pau para toda a obra, estando inerentemente disponível para se professor, auxiliar, assistente social, animador social, agente cultural, etc....
Mas já que se fala de medidas de requalificação profissional, cá ficamos à espera de medidas sérias para fazer o mesmo relativamente aos contratados, desempregados e licenciados que se meteram nesta alhada. Ainda que o sonho de todos seja exercer funções docentes, digo eu que sempre é melhor ter um emprego do que não ter nenhum. Digo eu...

A verdade do ensino

"É inquestionável que os professores sofrem as consequências da crise global que afecta todo o sistema de ensino e que tem como causa próxima as políticas educativas seguidas nos últimos anos, em Portugal e em todo o mundo ocidental. Como escreveu António Teodoro - em local e momento que não sei precisar -, «os professores acrescentaram à sua função tradicional de transmissores de conhecimentos a de animadores culturais, de assistentes sociais, de responsáveis administrativos e políticos.
Esta concepção multifuncional dos professores traduziu-se num factor de perturbação, transformando os professores em verdadeiras criadas para todo o serviço». Esta concepção aliada a valores que invadiram a escola e que transformam o trabalho docente. em nome do sucesso educativo, numa «taylorização camuflada» criaram uma evidente crise de identidade, de gosto e de prazer pelo exercício da profissão. O que existe é insegurança, desconforto e mal-estar.O professor viu desvalorizados os
conteúdos culturais e formativos das respectivas disciplinas, a primeira razão de ser da sua profissão, em nome de um pedagogismo falacioso, e caiu no logro de passar «a viver» a escola. Que se traduziu em passar lá mais tempo a fazer um pouco de tudo e a ensinar cada vez pior. Como se isto não fosse já suficiente, viu as suas condições de trabalho piorarem, o seu sistema remuneratório ser progressivamente desvalorizado, as escolas serem transformadas em locais de violência, e alunos, pais e administração a exigirem-lhe cada vez mais, quando não a responsabilizá-lo por as coisas não correrem bem. «O professor mal pago, isolado, denegrido e humilhado, quer pelos alunos, quer pela hierarquia interiorizou esta sua condição e despreza o seu próprio trabalho»12. E contrariado, é obrigado a participar em infindáveis reuniões para tudo e para nada. A fazer actas.A fazer planificações (a longo, médio e curto
prazo) que quase sempre se transformam em meras idealizações que a prática concreta não confirma. A definir objectivos, os quais têm que ser gerais e específicos e obedecera uma nomenclatura especializadíssima. A fazer avaliações as quais deverão ser formativas, sumativas e globais. A fazer matrículas. A organizar as turmas. A
contabilizar as faltas dos alunos. A preencher pautas, fichas, parâmetros e outras papeladas. A elaborar horários. A decorar a escola. A pintar campos de jogos. A fixar cabides em balneários. A recuperar material. A organizar o inventário. A receber os pais. A dar mais atenção aos filhos dos outros que os próprios pais lhes dão. E finalmente, também, a dar aulas. E aqui, a dispor de estratégias de remediação para
tudo, em nome, de uma eventual «ciência» educativa. Ou seja, a dar valor e importância a aspectos secundários e em alguns casos dispensáveis da acção docente e a se não dedicar ao essencial: a matéria de ensinar. não dedicar ao essencial: a matéria de ensino e o acto pedagógico. A extensão e a consequência desta situação está à vista de todos: transformados em «pau para toda a obra» têm do exercício da profissão uma imagem que não está apenas desvalorizada aos «olhos dos outros»: ela
está também instalada no seio dos professores. Basta para tanto que os oiçamos. E se possível, contabilizemos, quantos não mudariam rapidamente de profissão se acaso a oportunidade surgissel3. E quantos outros, não encontram em outras actividades profissionais exteriores à Escola, a compensação profissional que aquela lhe não oferece. Esta crise é geral, e afecta naturalmente e também os professores de Educação Física. E estes, tais como os restantes, são chamados a lutar pela alteração deste estado de coisas. Desde logo, recusando a funcionalização dás suas tarefas profissionais. Mas igualmente revalorizando o essencial das suas profissões: as matérias que têm para ensinar
.

A Ministra disse...

Disse muitas coisas, ainda que não a tenha ouvido no Parlamento nem visto na RTP. Disse que os estágios são "um gritante desperdício" e que é "esquizofrénico" estar a pagar a jovens sabendo que nunca o Estado irá precisar deles. «Muitos vieram enganados na expectativa de terem uma profissão num campo de actividade que não tem mais saída, mas isso lamento. Não podemos é continuar a alimentar as expectativas dos jovens, que pensam num futuro imediato como professores, quando sabemos todos que não vão ter», acrescentou.

De resto, anunciou aquilo que parece ser a fusão dos Quadros de Escola e Quadro de Zona num único critério de ordenação. Sobre contratados e desempregados, nada mais há a registar, motivo pelo qual apenas posso recomendar este link, com uma reflexão muito bem conseguida disponibilizada por f..., participante do fórum Educare.

01/07/2005

A Fenprof e as vinculações dinâmicas

Encontrei isto na internet, fazendo simplesmente uma pesquisa por "vinculação dinâmica" no google. Trata-se de um registo das acções da fenprof, entre 1990 e 2000 relativamente às vinculações dinâmicas dos cobtratados. Se encontrar coisas mais recentes, di-lo-ei. Se encontrarem, digam, que faz falta sabermos como é que "eles" se estão a mexer. Entretanto, segunda-feira (dia 4 de Julho de 2005) há um plenário de professores contratados na sede do spn. Quem puder comparecer... Insisto: se não comparecemos a estas coisas, se não nos mexemos, de que é que nos queixamos?

Sindicato de Professores do Norte

O spn tem uma secção dedicada exclusivamente aos contratados e desempregados. Vale a pena saber o que se passa!

Os professores trabalham pouco...

Excelente exemplo no Público de hoje sobre o quotidiano de um professor. Vale a pena ler o comentário de uma leitora...

O fim das remunerações nos estágios pedagógicos.

Diz a Ministra que a intenção não é só poupar - é também evitar o excesso de jovens atraídos pelo ensino. Pois, mas agora é necessário fornecer-lhes alternativas credíveis, como cursos de reconversão profissional. E também se pode perguntar se as escolas têm excesso ou falta de professores: é que se a ratio professor/aluno até é razoável, em comparação com países europeus, já a situação experienciada por aqueles que tiveram a sorte ed trabalhar não é bem essa: quem nunca teve turmas de 30 alunos que levante um dedo.

Uma pergunta (enviado por e-mail aos sindicatos)

"Leio no site da FNE que existe a preocupação de discutir o problema dos "trabalhadores não docentes".

Leio ainda no site da FENPROF que "Os professores com redução da componente lectiva por antiguidade não terão qualquer nova redução pelo desempenho de cargos. Esta alteração, para além de criar desigualdades entre os professores, agrava, de facto, a componente lectiva dos docentes que já usufruem de reduções."

Estranho que não haja a este propósito nenhuma palavra sobre as consequências desta medida sobre os contratados - ou seja, a sua eliminação pura e simples. Em contrapartida, a referência à situação dos trabalhadores não-docentes a par do insustentável silêncio relativamente aos contratados e desempregados parece constituir uma absoluta falta de respeito para com os professores que não pertencem aos Quadros.

Gostaria portanto de saber quais são as medidas que a FENPROF e a FNE pretendem apresentar e/ou exigir do governo relativamente aos professores contratados, bem como saber quais as diligências que têm sido tomadas nesse sentido."

Obviamente, fico à espera sentado.

Futuros desempregados

Centenas de alunos protestam hoje contra o fim da remuneração dos estágios pedagógicos. Já não chega ficarem desempregados: têm de trabalhar para isso.

As medidas do Ministério

O Governo anunciou as medidas de contenção para a Educação. Assim, " o docente que desempenhe cargos de natureza pedagógica [deixará de beneficiar da] redução da componente lectiva"; o "tempo máximo de recuperação do docente, incapacitado ou diminuído para o cumprimento integral do exercício de funções" passa a ser de 18 meses; no ano em que "o docente atinja o limite de idade ou pretenda aposentar-se de forma voluntária" deixa de lhe ser atribuído um horário zero; e os "estágios pedagógicos do ramo educacional e das licenciaturas em ensino" passam a "modalidades de prática pedagógica supervisionada, não dando lugar a atribuição de turma aos alunos estagiários, nem ao direito a retribuição" remuneratória.

Como se não bastasse, també se acaba com o ensino do Português no estrangeiro.

Mais (!) preocupante a longo prazo é isto:
"a) Combater o insucesso escolar no ensino superior;
b) Concentrar a actual multiplicidade de cursos de baixa frequência;
c) Não criar qualquer nova escola superior;
d) Avaliar criteriosa e selectivamente a necessidade excepcional de novas infra-estruturas;
e) Rever os estatutos das carreiras docentes"
f) Reforçar as condições de governo de universidades e politécnicos, com acompanhamento externo.

Se continuam com esta vontade toda, até tenho medo do que possa vir aí...

Professores, os Privilegiados

Levanto-me, de manhã, por volta das 06:30 para fazer uma viagem de 45 km até à minha escola. Gasto 6€ em gasolina e 2,40€ todos os 5 dias da semana só para ir trabalhar. Tenho aulas em 8 dos dez turnos (manhãs e tardes) da semana, o que significa que almoço na escola 3 vezes por semana, à média de 6€ por refeição. Por semana são 54 euros, mais ou menos 230 em cada mês. Há dias em que tenho uma aula às 08:30 e depois só volto a ter aulas às 12:00. Durante aquelas duas horas nada posso fazer senão olhar para o boneco, que a escola não tem condições para se poder trabalhar. Chego a casa por volta das 18:00, tão cansado como qualquer outro português depois de um dia de trabalho. Mas há dias em que chego mais tarde, porque tenho reuniões de grupo, de departamento, de conselho pedagógico, de coordenação do centro de recursos, com os pais, de directores de turma, do ensino especial, etc, etc, etc.Sou contratado há 11 anos. Embora as empresas privadas sejam obrigadas, por lei, a inserir nos quadros de pessoal todos os funcionários com 3 anos de "casa", o Estado dá-me um valente pontapé nos fundilhos todos os dias 31 de Agosto de cada ano. Até 2000, nem subsídio de desemprego recebia; e os que recebi após essa data fui obrigado a devolver porque, segundo as finanças, os meus ganhos são "muito elevados" (sic).

Todos os anos mudo de escola: quando me começo a habituar ao sítio onde estou, já estou de partida. Os meus alunos perguntam-me se serei professor deles no próximo ano: respondo-lhes que não sei, sequer, se serei professor novamente na vida. No dia em que efectivar, se for vivo quando lá chegar, terei de partir para a diáspora: migro para uns valentes 200 ou 300 km de distância, na esperança de conseguir uma escola ao pé de casa - a uns 45 km, como actualmente - quando já for velhinho.Desde que comecei a leccionar já dei mais de 20 níveis diferentes, o que dá uma média de 2 níveis novos em cada ano. Já nem tenho espaço no escritório para tantos dossiers...

A cada semana que passa dou 20 horas de aulas, distribuídas por 6 turmas e 150 alunos. Para cada hora de aulas preciso de pelo menos outra hora para as preparar. É que, como imaginarão, não vou às aulas sem saber o que vou lá fazer... Se mandar os meus 150 alunos fazer um trabalho de casa por semana e os corrigir em casa, precisarei de pelo menos 10 minutos para corrigir cada um: ou seja, corrijo 6 trabalhos por hora. Logo, numa semana passo 25 horas a corrigir trabalhos e/ou testes. Dando 20 horas de aulas por semana MAIS 20h para as preparar MAIS 25 para corrigir trabalhos, descubro que trabalho pelo menos 65 horas por semana, ainda que a Senhora Ministra me enfie pelos ouvidos que trabalhamos, nós, os privilegiados, apenas 35 h por semana. E nestas contas não estão as duas horas diárias em viagem, nem as duas horas de almoço, nem os tempos mortos que passo na escola,sem sítio para trabalhar.

Tenho rendimentos "obscenos". Como estou o índice 151, ou seja, em situação de pré-carreira, ganho (líquidos) €1000/mês, qualquer coisa como 250€/semana. Trabalho à volta de 65 horas por semana; isso significa que recebo do Estado qualquer coisa como 4 euros por hora. Não tenho empregada doméstica porque elas ganham mais do que isso a cada hora que passa. Os meus colegas que fizeram uma licenciatura noutra área qualquer, que são tão licenciados quanto eu, gabam-se de ganhar pelo menos o dobro do que eu ganho. Fico feliz por eles, mas não é com isso que encho a barriga. O meu automóvel tem 7 anos, é um Punto dos mais baratitos e não tenciono mudar tão cedo porque não tenho dinheiro para comprar outro. E mesmo que o tivesse, não sei se estarei empregado daqui a 3 meses. Sou, portanto, um privilegiado.

A minha esposa também é professora. Residimos, enquanto contratados, no Porto. O problema é que no meu grupo disciplinar só é possível efectivar se for para o Alentejo durante dois anitos, depois para a Serra da Estrela, por fim Bragança, Vila Real até chegarmos a Amarante, a apenas 50 km, altura em que me sentirei realizado: estarei perto de casa!!! Como não é possível irmos juntos nessa aventura, já combinamos: eu vou para o Alentejo; depois vai ela, quando eu estiver em Bragança; encontramo-nos a meio do país, no Entroncamento; dividimos os filhos a meias e, quando tivermos 50 anos (temos 30 e poucos nesta altura) voltaremos a ter vida conjugal. Só tenho algum receio de não me lembrar da cara dos meus filhos, se por acaso os encontrar em algum comboio intercidades...

Chego a esta conclusão: para quê dar o litro pelo ensino, se o ensino não me dá nada a mim? Não sou um missionário! Sou um profisssional de educação - e isso significa que também tenho barriga! Já me basta ter de aturar "colegas" que não me respeitam, criancinhas birrentas mal educadas pelos pais, Pais que nunca o deveriam ter sido pois não assumem as suas responsabilidades, edifícios degradados em que nem giz tenho para escrever no quadro, ...

E ainda há quem pense que os Professores são privilegiados?