26/03/2008

Calaram-se! E este silêncio é de fel… não de oiro!

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(roubado por aí...)
(se trocarmos o polícia pelo professor, não estaremos longe do que a opinião pública espera de nós...)
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Ouvem-se, por aí, vozes que dizem ter havido recusas da aceitação da transferência da “aluna”, por parte de escolas e AA de pais, com ameaças destes últimos de retirarem os filhos das escolas se as ditas aceitarem a “menina”.

Não sei se é verdade, ou não, o que se diz sobre a recusa de aceitar a “aluna”, sei é que esta atitude das escolas e pais também não pode ser socialmente aceite, para que não se passe de uma “cena de violência” para outras “cenas de violência”?!

Teoricamente, entende-se a transferência de escola como um castigo porque provoca a desinserção do aluno do seu contexto habitual, do seu grupo de amigos, das suas referências, dos seus “suportes na asneira”. E é isto que se pretende com esta transferência.

A “menina teve uma “atitude de falta de educação e agressividade” e, ao que parece, já tinha tido algumas “chamadas de atenção”. No entanto não passou, de repente, a ser nenhuma criminosa que precise de ser socialmente isolada, nem pode ser transformada em exemplo nacional, pagando por todos os infractores, pagando por todos os desleixos institucionais e familiares, pagando por pelo despertar das consciências que, até aqui, eram surdas a todos os avisos dos professores. Não se pode transformar, esta aluna, na redentora de todas as falhas e erros sociais. Precisa, simplesmente, de ser castigada para compreender que os direitos implicam deveres, que existem mais pessoas, no mundo, para além dela e que essas pessoas merecem ser respeitadas. Daí a ser renegada por toda a gente vai uma grande diferença.

Todavia, apesar da manifesta falta de respeito e agressividade da aluna, esta não está só no seu acto. Sem o “apoio e incentivo” dos colegas, em especial do “artista do vídeo”, talvez não levasse tão longe a sua luta pelo telemóvel e a sua atitude de desconsideração pela professora. Com uma palavra, um gesto de condenação do resto da turma, talvez tivesse parado a tempo. E destes não oiço falar, não oiço condenar a sua atitude, não oiço qualquer palavra de reprovação sobre o “menino” da filmagem. Não sei se estão a ser “tomadas medidas”, mas o que passou naquela sala implica a turma toda num acto de agressividade para com a professora. Mesmo os alunos que se tentam aproximar não mostram intenção de intervir. Aproximam-se, apenas, e saem à primeira ordem para deixarem o campo de visão aberto para as filmagens. São quase tão culpados como a aluna em causa.

Também se ouve falar na possibilidade de retirar a turma à professora, ou de a convidar para assumir um lugar na DRE.
Parece-me que mudar a professora, nesta altura do ano, quer retirando-lhe a turma, quer dando-lhe um lugar numa qualquer DRE é reconhecer, publicamente, “a impreparação” da srª para conduzir a turma e dar-lhe um final de carreira cheio de suspeições e indignidade. Por muito afectada que tivesse ficado (e tem razões para isso) eu, no lugar dela, não aceitaria nenhuma das situações anteriores. Seria reconhecer, perante o país, a escola e os alunos, a minha incompetência!

Mas o que mais me custa, como professora, que também sou, é que ainda não ouvi uma palavra de apreço e de apoio, para com a colega, por parte de qualquer instância do ME!

Mais uma vez, o ME, através de todas as suas chefias implicadas – gabinete ministerial e direcção regional do norte – se cala!
Mais uma vez o ME desprestigia os professores não manifestando apoio à professora.!
Lamentaram a atitude da aluna, tentaram negar a evidência de que existem actos de violência nas escolas, minimizaram, repetidamente, o acto, mas não abriram a boca para apoiar a professora, para lhe garantir que estão ao seu lado, para pôr um "penso" na sua auto estima ferida, para lhe restituir a dignidade perdida por causa de um fedelha mal-educada, para lhe garantir que, na sala de aula, quem manda é ela.

Calaram-se! E este silêncio é de fel… não de oiro!
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21/03/2008

Os filhos de Rousseau

“Rousseau nasceu em Genebra, na altura um estado independente, e nunca foi um admirador da cultura francesa, nem tão-pouco de cultura nenhuma.” As suas ideias “pedagógicas” encontram-se ligadas aos seus ideais políticos: “uma criança que cresce numa sociedade civuilizada é ensinada a refrear os seus instintos naturais, a reprimir os seus verdadeiros sentimentos, a impor as categorias artificiais do pensamento conceptual sobre os seus sentimentos e a fingir que pensa e sente coisas que não sente nem pensa. Por conseguinte, a civilização é corruptora e castradora dos valores verdadeiros”. Assim, o que devemos fazer é “mudar a civilização de forma a possibilitar aos nossos instintos naturais uma expressão completa e livre. Rousseau defendia mudanças fundamentais na educação para libertar o indivíduo das grilhetas da civilização. O seu ponto central é que a educação não deve ter como objectivo reprimir e disciplinar as tendências naturais da criança, mas, pelo contrário, incentivar a sua expressão e desenvolvimento. O principal veículo de instrução não deve ser a instrução verbal, muito menos a livresca, mas a prática e o exemplo. O ambiente natural para que isso possa acontecer é no seio da família e não da escola. Rousseau constitui a génese dos movimentos totalitaristas - tanto o fascismo como o comunismo´. Foi também crucial no desenvolvimento do pensamento anarquista do século XIX. Os perigos [desta maneira de pensar]são vários, mas temos de arranjar maneira de viver com eles.”
Brian MaGee, História da Filosofia
Agora, clique aqui.
Eis o que defendem os filhos de Rousseau.

Contra factos, não há argumentos!

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Contra recados destes não há argumentos! ;)

Se a mãe desta "menina" lhe dá o direito de...,
se trata a professora por tu...,
se ameaça a professora...,
se, em casa, deve ter comentado em "linguagem adequada" a situação ocorrida na aula...

que poderemos esperar da atitude desta "menina"?

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Escola a tempo inteiro, ou a imbecilização de um futuro

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Recupero um artigo de Clara Viana, publicado no Público, em 20.05.2007

"Portugueses não querem ter mais tempo para a família, ao contrário da maioria dos europeus"

"O universo das famílias continua em profunda transformação em Portugal. Os agregados de um casal com filhos desceram abaixo dos 50 por cento
Os portugueses têm cada vez menos filhos
e, entre a maioria daqueles que os têm, não faz parte das prioridades poder ter mais tempo para lhes dedicar, segundo dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) a propósito do Dia Internacional da Família.
Mais individualistas, mais autocentrados: é uma tendência que já não é nova, mas que se tem vindo a consolidar. Surpreendentes, contudo, são estas percentagens extraídas do Inquérito ao Emprego de 2005, agora divulgadas: 83,7 por cento da população empregada, com pelo menos um filho ou dependente a quem prestem cuidados, diz que não deseja alterar a sua vida profissional para poder dedicar mais tempo a cuidar deles. Os que admitem desejar trabalhar menos para conseguir aquele objectivo representam apenas 13,4 por cento. A percentagem de mulheres nesta situação mais do que duplica a dos homens (18,8 por cento contra 8,1).
Nos estudos realizados por organismos da União Europeia ressalta o contrário, com a maioria dos europeus a manifestar-se insatisfeito no que respeita à conciliação entre trabalho e família. Esta insatisfação foi mesmo apresentada como uma espécie de "moeda comum" europeia."

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1294522

As conclusões deste estudo vêm sublinhar muito do que os professores têm dito, quanto à cada vez mais acentuada falta de educação referente a atitudes, valores e princípios revelados pelas crianças/jovens e chamar a atenção para a enorme falta de apoio escolar, em casa, de que se queixam frequentemente.

Os elementos deste Governo terão também este perfil psicológico, ou apenas o têm aproveitado e fomentado para nos impor uma ideologia de desresponsabilização familiar, passando para a escola tudo o que são responsabilidades parentais, apoiados e defendidos por quem se diz representante das famílias?

A Ministra que, ao primeiro sinal de argumentação contrária, amua, faz beicinho e fica com as lágrimas nos olhos, seria capaz de enfrentar uma sala cheia de putos que, às leis da civilidade “dizem nada”?

Os “psis” que analisam situações como a ocorrida, recentemente, por causa dum telemóvel e que desculpabilizam “a jovem e os seus colegas” pela manifesta atitude de falta de respeito e agressividade, sublimarão, assim, os seus erros “caseiros”, desculpando-se, através dos comportamentos alheios, de possíveis comportamentos dos seus rebentos?

Os AA, desta terra, que apoiam a desculpabilização de todos os comportamentos disruptivos das crianças/jovens deste país, desde que cometidos intramuros da escola, assacando-os sistematicamente aos professores, estariam dispostos a suportar que, no seu emprego, “alguém” ou um “bando de vários alguéns”, lhes faltasse sistematicamente ao respeito, chegando muitas vezes à agressão verbal, psíquica e mesmo física?

Fazê-los é bom, dá prazer!
Para além do prazer, os filhos trazem, consigo, o status social dado pela paternidade/maternidade, como símbolo da contribuição para a sociedade, para o prolongamento da vida.
Só que este reconhecimento social implica(ria) um dever para com essa mesma sociedade – a educação dos filhos. Erradamente, “um saco de teorias libertárias” convenceu, essa mesma sociedade, que esse dever lhe competia a ela e só a ela, através da escola, e não aos pais. Aquilo que seria um direito, o completamento da educação através da instrução e da socialização, transformou-se, rapidamente, num nada. Às escolas, a quem estava outorgado o ofício de ensinar, foi-lhes atribuído o papel de “amas”.

E cientes desse novo papel da escola, todos lhe reclamam o cumprimento de um dever que não lhe compete, para o qual não tem estruturas, nem capacidade. Incapaz de responder a todas as solicitações, a escola perde-se nas suas inúmeras tarefas não sendo capaz de responder a nenhuma com sucesso.

Não consegue educar porque aquilo que ela faz é desfeito em casa, já que na maioria dos casos, os pais acabam por funcionar como “avós” deseducando aquilo que foi educado durante o dia, negando por completo a autoridade da escola.

Não consegue ensinar porque isso foi subtraído dos programas, já que apenas se tem que desenvolver competências, e mesmo assim não o conseguindo porque passa o tempo a interromper para educar e porque naquilo que tenta ensinar lhe é negado o apoio em casa.

Ainda não satisfeitos com a situação, o “patronato” (que define as regras do serviço prestado) e os pais (que deviam apoiar e exigir ao tal “patronato” melhores condições e melhor “produto”) em vez de exigirem, a quem devem, respeito e trabalho, reclamam, acirradamente e insultuosamente, contra os agentes que prestam um serviço que, neste momento, é uma manta de retalhos que não serve a ninguém, retirando-lhes qualquer hipótese de desenvolver um trabalho sério ao desculparem e minimizarem todos os desmandos e diatribes dos “meninos”.

Mas apesar, de como afirmam, a escola se constituir um local de insucesso, a todos os níveis, “patronato” e pais querem que os “meninos” aumentem o seu tempo de estadia nesse antro de inutilidade. Querem, transformar as 37 horas semanais, lá passadas pelos alunos, em 55 horas semanais!

Que o “patronato” defenda esta situação todos percebemos! Quer, simplesmente, agradar aos outros “patronatos” libertando os pais das “crianças/jovens” para que estes estejam disponíveis para ser esmifrados e escravizados até ao tutano.

Que os pais não percebam isto é que já é mais grave!
Que os pais, crentes de que estão a usufruir da sua liberdade de ter um emprego (e talvez um pouco de tempo livre), não compreendam que não têm que lutar por uma escola a tempo inteiro, falácia para ocupação de tempos livres mal geridos e mal implementados, como se vê com as actividades do 1º ciclo, mas sim, reivindicarem, à semelhança do que acontece em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, empregos (em que não sejam explorados, unicamente, para o bem do patronato) e tempo livre de qualidade para a família e para apoio aos filhos, é que não se compreende.

Que os pais não se apercebam dos objectivos dos diferentes “patronatos”, ao tão amavelmente lhes quererem fornecer a escola a tempo inteiro, para poder escravizá-los para seu lucro pessoal, implementando a precariedade laboral como forma de amordaçá-los; infantilizando-lhes e formatando-lhes os filhos, para uma futura sociedade sem reacção, ao gerir-lhes todos tempos, tornando-os incapazes de se organizar, com o objectivo de os poder comandar e controlar sem objecções, tudo isto feito sob a capa da protecção das crianças/jovens e da facilitação da vida familiar, também não se compreende.

Que os pais não compreendam as grades em que estão encarcerando o seu futuro e o dos seus filhos e ainda defendam todas as cretinices apresentadas, como redentoras da sociedade, por um (des)governo que nos vai afundando, diariamente, na ânsia de lucros cada vez maiores, aumentando, passo a passo, o fosso entre o trabalhador e o patronato, é desolador.

Que os pais não o percebam e ainda o defendam, só se compreende mesmo com esta constatação: “Mais individualistas, mais autocentrados: é uma tendência que já não é nova, mas que se tem vindo a consolidar”

Não chore a sociedade, num futuro muito próximo, os erros cometidos, porque avisados a horas. Os professores alertam, há demasiado tempo, para este fenómeno, mas como resposta a esta alerta só recebem o insulto de que o que querem é não fazer nenhum!

17/03/2008

Resposta aos "discursos com barbas" de David Justino

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E se começássemos por achar que a escola para todos não é apenas um direito para quem dela usufrui, mas também o cumprimento de um dever face à sociedade que a disponibiliza?

Como ninguém parte deste princípio, alunos e famílias sentem-se no direito de exigir, mas não no dever de dar nada em troca.

Quando for, socialmente, possível exigir atenção, comportamentos adequados, interesse e participação na aula, estudo e trabalho de casa, ida aos apoios disponibilizados nas escolas (a que os alunos faltam constantemente) peçam satisfações aos professores.

Quando a escola for socialmente valorizada como local de aprendizagens e não como local onde se colocam as crianças, sem que se lhes possa exigir trabalho (porque os "meninos" se cansam muito) peça-se satisfações aos professores.

Pode-se castigar os professores introduzindo mil e um diplomas:

- em que se preveja avaliação exaustiva do cumprimento dos seus conteúdos funcionais;
- em que se sobrecarregue o professor com montes de aulas de apoio, de substituição, de projectos de escola, de elaboração de relatórios para desmotivar as retenções, de reuniões de trabalho;
- em que se institua a figura de director para funcionar com um papão;
- em que se pretenda criar conselhos de escola que passarão a gerir toda a actividade escolar incluindo a pedagógica subordinando-a à administrativa;

que os resultados reais, respeitantes ao insucesso, não se modificarão, mesmo que as estatísticas se alterem.

Enquanto:

- não for decidido socialmente que cidadão se quer que a escola forme;
- não forem revistos os conteúdos necessários à formação desse cidadão; -
- não for implementada uma diversificação para aquisição desses conteúdos, dando possibilidade aos alunos/famílias de escolha de vias diferenciadas para a sua formação (a maioria não quer ser “doutor” e o ensino está todo vocacionado para essa via);
- a sociedade não deixar de desculpar o aluno, considerando-o como uma vítima, e não como um agente activo no seu processo de aprendizagem;
- se tentarem implementar reformas em cima de reformas sem que qualquer delas seja aferida e avaliada (ainda não acabámos de implementar uma, já outra está a surgir – não há escola que aguente);
- não houver um “pacto de regime no âmbito da educação” que permita uma continuidade do trabalho, independentemente do governo/ministro que de momento governa o país; -
- não se parar de fazer reformas enrolando sempre o sistema sem se tratar do núcleo principal;
- … enquanto não se parar para pensar qual é mesmo o problema;

não haverá resultados palpáveis em educação. Não haverá professor que os consiga, a não ser que trabalhe em escolas com determinadas elites sociais

Quando se compara com outros sistemas, convém analisá-los para perceber quais as diferenças e não importar fatias para implementar num sistema que nada tem a ver com os outros. Um sistema é um sistema porque constitui um todo… não pode ser remendado!

Desculpem-me "achar" tanta coisa, mas estando no terreno (ainda por cima num "terreno acidentado") e não nos gabinetes "acho isto tudo"!

http://quartarepublica.blogspot.com/2008/03/educao-e-os-discursos-com-barbas.html#comments

13/03/2008

Avaliações que não servem os desígnios para que dizem ter sido criadas

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Joaquim Farias (roubada em http://ferrao.org/2008/03/joaquim-farias-organizao.html

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Em tempos, chamei a atenção para este "fenómeno", esta enormidade chamada SIADAP, em diversos locais e a várias pessoas. Poucos ligaram, pensando que esta "coisa" talvez não fosse consigo. O que é certo é que já está implementado na maioria dos locais.
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Creio que a maioria dos funcionários não percebeu, ainda, o diabólico desta avaliação. Creio que os professores não se aperceberam, que apesar dos parâmetros “definidos no ECD”, iremos ser avaliados de acordo com uma dinâmica semelhante.
Creio que, dos que leram alguma coisa sobre o assunto, uns pensaram que aquilo nunca iria para a frente, outros que não seria aplicado aos professores. Infelizmente, parece-me que pelo andar da carruagem, tanto uns como outros estão errados.
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A aplicação do SIADAP como modelo de avaliação de funcionários públicos, nomeadamente dos funcionários das escolas, modelo global de avaliação, baseado em objectivos fixados de acordo com a avaliação de resultados (produto), a aplicação do SIADAP, mesmo que não o seja no “seu estado mais puro” aos professores a aplicação, à avaliação das escolas, do modelo de excelência da EFQM (European Foudation for Quality Management), modelo concebido para avaliar grandes empresas em que há um produto concreto e contabilizável a produzir, revela-nos bem a concepção empresarial que estão a atribuir quer às repartições de serviços públicos, quer às escolas.
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A aplicação das noçõezinhas de gestão, que uma qualquer cabeça não pensante introduz num sistema que não pode ser comparado com uma empresa, implementando o gestonês, à semelhança do que já aconteceu com o eduquês, não traz nada de bom para o sistema educativo e muito menos para as escolas.
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Ambos os sistemas são baseados num sistema de pontuação, em que existem tabelas com critérios cujas pontuações, específicas para cada item, são estabelecidas de acordo com a importância que lhes é atribuída. (isto lembra-lhes alguma coisa?), o que permite valorizar o que se pretende valorizar (um pleonasmo – não é bem, mas…- intencional). Este tipo de avaliação vai permitir uma comparação interna e externa, contribuindo para “rankingismo” exacerbado, comparando situações reais incomparáveis.
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No "SIADAP" existem 3 componentes básicas de avaliação de cada funcionário: alcance dos objectivos, competências comportamentais (têm a ver com os conteúdos funcionais) e atitude pessoal.
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Se no que respeita à definição de competências e de atitudes não se colocam muitos problemas porque não foge muito ao estabelecido anteriormente, já o mesmo não pode ser dito em relação à introdução do conceito de “trabalho por objectivos”, através da contratualização de objectivos individuais MENSURÁVEIS, nomeadamente, em profissões cujo conteúdo profissional principal se centra nas relações humanas.
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E estes objectivos tornam-se tão mais esquizofrénicos quanto mais são confundidos com os objectivos da organização, como no caso da avaliação do pessoal docente em que se pede a cada professor que tenha como objectivo individual a redução do insucesso ou do abandono, apontando para percentagens fixadas pela escola/agrupamento, como meta.
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Tomemos como exemplo, os parâmetros já referidos e considerados os mais controversos da avaliação proposta para os docentes: o insucesso e o abandono. O professor não se pode propor reduzir em x a taxa de insucesso e/ou abandono. O professor apenas se pode comprometer na realização de acções que possam contribuir para que isso possa acontecer, mas mesmo neste caso, fica sempre dependente da resposta do(s) aluno(s), já que esta variável não é completamente controlável pelo professor.
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A estes, seguem-se, inúmeros parâmetros, quase todos de uma subjectividade gritante. Como se mede o empenho, o rigor, a equidade, a qualidade, o grau de participação, …? Como se traduz tudo isto em pontos “grelháveis”.
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Mas no que respeita ao nosso conteúdo funcional principal, também não estamos melhor. Quem determina a correcção pedagógica? Se a minha corrente e a do avaliador forme diferentes, como é? A mesma dúvida se coloca relativamente à “adequação e correcção pedagógica das metodologias utilizadas”
Eu, por exemplo, sei que estou a utilizar metodologias e práticas pedagógicas completamente “fora de prazo” na maioria das minhas aulas. Sei-o e utilizo-as! Porquê? Porque com os alunos que tenho, neste momento, são as mais viáveis. Gosto? Não! Rendem menos, são menos interessantes, menos motivadoras, menos enriquecedoras! Sei disto tudo e no entanto utilizo-as? Sim. Noutras escolas utilizei outras. Nesta, depois de várias experiências mal sucedidas tive que voltar “ao século passado”. E agora vem alguém dizer-me que não é assim, que não concorda com "a correcção, a diversidade, a adequação"… Talvez não porque quem me avaliar (?) pertence à mesma escola e também está a utilizar o mesmo tipo de trabalho. Mas se (ou quando) fosse (for) o tal inspector, vindo de fora, desconhecendo a realidade?!
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E depois há o processo! Burocrático, contabilístico, desumano, numa profissão essencialmente baseada na relação humana.
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Por fim, surgem os resultados. Para que serve tudo isto? Para distinguir profissionais competentes? Para melhorar as organizações? Para determinar pontos fracos e tentar melhorá-los?
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Não, nada disto! Tudo isto tem como único objectivo o condicionamento das progressões. E tudo isto é feito sob a capa da promoção do mérito.
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Se fosse esta a verdade porque não são avaliadas as chefias da FP (como foi noticiado)? Se tudo isto é verdade porque é que os resultados não são todos ratificados? Sim. Nem todos os que tiverem as tais classificações que se enquadram no conceito de mérito têm direito a tê-las. Por isso não me digam que esta avaliação de desempenho seja a da FP, seja a nossa, pretende reconhecer o mérito.
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Nem os sindicatos, nem os próprios trabalhadores reivindicam que todos os trabalhadores sejam excelentes ou muito bons. O que contestam é que se limitem, dentro de cada serviço, o número de trabalhadores que o possam ser. Quanto a mim, e creio que também é esta posição deles, é possível que num serviço existam 2 ou 3 excelentes e no serviço ao lado não exista nenhum. O que está em causa é a possibilidade de ser reconhecido o mérito de quem o tem, não sendo limitado esse reconhecimento a números resultantes de uma simples proporção.
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Esta avaliação (SIADAP) está inquinada à partida.
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Está inquinada pelas cotas e pelas quotas, está inquinada por avaliadores e avaliados se misturarem na mesma “gamela”, está inquinada por avaliadores e avaliados “concorrerem”, dentro do mesmo grupo, para as quotas existentes dentro da cota de cada nível”.
As cotas de cada nível são 5% para o excelente, 20% para Muito Bom por organismo ou serviço. No entanto, para que possam existir estes níveis o grupo em causa tem que ter um mínimo de 20 funcionários. Se isso não acontecer, e os funcionários quiserem aceder as estes níveis, têm que se juntar vários serviços e/ou categorias.
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Fazendo as contas, facilmente se percebe que para 20 funcionários as quotas de Excelente e de MB são, respectivamente, 1 e 4.
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Encontramos, aqui, um dos pontos maquiavélicos da questão.
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Dando um exemplo:
Na minha escola, para que, na avaliação do pessoal não docente, tenhamos 20 funcionários, é necessário juntar todos os Auxiliares de Acção Educativa (AAE), todos os Assistentes Administrativos (AA), a Técnica do ASE e o Psicólogo do SPO (que sendo técnicos superiores não são do mesma categoria dos grupos anteriores).
Todos eles vão “concorrer” para aqueles dois números: 1 e 4..Entre estes encontram-se dois elementos avaliadores: CSAE (chefe da secretaria) que avalia os “seus” AA e a Chefe do Pessoal que avalia os “seus” AAE.
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Estes dois elementos avaliadores vão ser avaliados, tal como os dois técnicos por um elemento do CE.
A avaliação é feita entre o avaliador e o avaliado (negociação secreta entre cada um), o avaliador recebe a proposta de auto avaliação, mas antes da reunião final entre avaliadores não pode dar a conhecer a notação que atribuirá.
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Até aqui tudo bem, ou tudo mal, não interessa … é um processo.
Só que, agora, na reunião de avaliadores vão encontrar-se pessoas que são simultaneamente avaliados e avaliadores.
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Nessa reunião apenas o elemento do CE não está a lutar por um “lugar ao sol”.
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Cada um destes avaliadores pode trazer, em carteira, 1 excelente e alguns MB dependendo do número de avaliados.
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Nesta reunião vai ser negociado entre avaliadores qual o excelente mais excelente e quais os MB mais MB de entre todos.
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Não esquecer que dois dos avaliadores também são avaliados à procura do excelente!
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Nem vale a pena dizer mais nada quanto ao maquiavélico da situação!
Nem vale a pena equacionar as interacções negativas existentes dentro desta reunião!
Nem vale a pena explicar o que de pérfido existe numa situação em que avaliadores e avaliados estão em pé de igualdade na luta pelo mesmo “prémio”(!)e em que alguns (2) têm poderes que os outros não têm!
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E agora, falando de professores...
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Este é um dos problema que se vai colocar aos professores ao dividirem uma carreira horizontal, numa carreira horizontal com dois patamares em que todos fazem o mesmo, “concorrem” para o mesmo, mas em que uns têm que avaliar outros, não para que o trabalho se desenvolva em termos de excelência, mas sim para que essa avaliação tenha como resultado final a progressão estatutária e financeira de cada um.

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Este tipo de avaliação, já de si bastante má, porque não está prevista para a melhoria das organizações, mas para a criação da competitividade entre pares, indo buscar tudo o que de pior pode conter este conceito, é o mesmo que irá ser aplicado entre nós... ao englobar avaliadores e avaliados na mesma corrida não pode resultar de forma nenhuma numa melhoria do sistema (nem no nosso, nem noutro qualquer!).
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Vou continuar a utilizar o exemplo do pessoal não docente da minha escola para explicar o que esta avaliação tem de pérfido.
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Daqueles 20 funcionários que mencionei, apenas 1 poderá ser excelente!!!
Como bem se percebe, os serviços, os conteúdos funcionais e as categorias profissionais são completamente distintos, no entanto, estão todos dentro do mesmo “saco”!
Para além do excelente, e de acordo com as percentagens permitidas, apenas será possível a atribuição de 4 Muito Bons.
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Se houver mais do que um avaliador (como disse são 3, porque as categorias são diferentes, e portanto, os avaliadores são diferentes) com propostas de excelente ou muito bom, na reunião de avaliação os diferentes avaliadores terão que negociar entre si a quem sairá o “Óscar”, independentemente das categorias profissionais, independentemente da excelência dos diversos funcionários.
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Com este processo, os serviços/avaliadores podem jogar com os sistemas de créditos… basta que a avaliação de excelente e/ou de muito bom seja “distribuída” ano após ano, para que as progressões não aconteçam.
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É fazer um cálculo matemático e ver quantas pessoas progridem, e quantos anos se leva para progredir, independentemente da excelência... e, como já referi, dos jogos que se podem fazer para que as progressões sejam continuamente proteladas (é uma questão de consultar as condições para progressão - nº de avaliações com determinado índice qualitativo vs número de anos necessários).
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Passando novamente à avaliação de desempenho docente, penso que percebendo o SIADAP se percebem muitas coisas do processo que nos querem impor.
Só nos resta saber as quotas que nos destinam e como serão divididas.
Será num bolo para a escola toda?
Será esta uma das explicações da redução dos Departamentos existentes nas escolas a apenas 4? (as vagas para professor titular foram divididas por estes 4 departamentos…)
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Adenda:

... e a informação da DGRHE:


http://www.dgrhe.min-edu.pt/DOCENTES/PDF/Docente/AvaliacaoDesempenho/ImpedimentosAvDesempenho.pdf


Nem vale a pena ler mais…

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1 - Nenhum titular de órgão ou agente da Administração Pública pode intervir emprocedimento administrativo (…)
c) Quando, por si ou como representante de outra pessoa, tenha interesse em questãosemelhante à que deva ser decidida, (…)

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Como as quotas são para todos e todos concorrem às mesmas quotas de Exc e MB, incluindo o pres do CE, está resolvido o assunto.
Estamos todos impedidos!
Eu bem me fartei de avisar que não nos podíamos estar a avaliar para concorrermos todos para o mesmo fim
Mas o que é interessante é esta gentinha ir buscar o CPA e não perceber que está a enterrar o seu nascituro ainda antes do seu 1º berro.
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Estou legalmente impedida de avaliar!!!!! :)

11/03/2008

Avaliação ou classificação com vista a...?

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(roubada por aí...)

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A Srª ME diz que a avaliação entre pares é muito bonita. Diz-nos isto porque é a forma mais económica de a realizar e não porque fosse esse o caminho que escolhesse se por acaso tivesse uma miríade de inspectores disponíveis para andar por todas as escolas.
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Realmente, a avaliação entre pares seria óptima se se tratasse disso mesmo, de uma avaliação. Avaliação esta com carácter formativo, avaliação que até serviria ao avaliador e ao avaliado pela troca de saberes que daí poderia advir.
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O problema que se põe é que quando falamos da avaliação, proposta pelo ME, não falamos de uma avaliação, mas sim de uma classificação. E falamos de uma classificação que produz efeitos numa progressão profissional em função de níveis quantitativos diferenciados, como é próprio de uma classificação.
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E é nesta nuance da avaliação que irão emperrar a cooperação e o enriquecimento dos professores, enquanto actores de processos que se pretendem colegiais. Numa profissão em que este deveria ser um dos objectivos, este tipo de avaliação fará com que definhe qualquer partilha de conhecimentos, de materiais, de trocas pedagógicas. Todas as que acontecerem, resultarão, apenas, da necessidade de cumprimento de um qualquer objectivo individual e surgirão como uma acção para um determinado fim, e não como uma partilha.
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Numa avaliação classificativa, em que avaliadores, avaliadores-avaliados e só-avaliados concorrem todos para as MESMAS quotas de notações (Exc e MB) que possibilitam bonificações para progressão na carreira, alguma coisa está mal.
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E piora quando avaliadores (incluindo os avaliadores do CE) e avaliadores-avaliados participam em reuniões de decisão de avaliação nas quais são, simultaneamente, decisores e candidatos.
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Se forem ultrapassadas as quotas, qual é o Exc mais Exc, qual é o MB melhor MB? Como pode um avaliador defender a sua avaliação de um destes níveis se não pode ser defensor de um dos seus avaliados?
Se forem, ultrapassadas as quotas e algum dos decisores se encontrar, em situação de igualdade com outros candidatos (mesmo estando isento de votar em si) em quem votam os outros decisores? Naquele candidato que está com eles? Ou noutro candidato que nem está entre estes? (factor humano)
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Avaliações classificativas só se entendem numa perspectiva de carreiras verticais, onde existem patamares de chefias, em que determinado patamar é responsável pelo de baixo e responde ao de cima, e em que não existe concurso de uns e de outros para o mesmo fim.
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Analisem-se os diversos documentos existentes, nomeadamente um dos que está no site da dgrhe e do qual uma das autoras foi designada para o CCCA, e veja-se que nesses documentos as avaliações em causa se ficam pelo tipo de avaliação formativa. Repare-se, também, que mesmo em documentos de outros países que promovem o reconhecimento do tal mérito de que falam, o reconhecem na sua plenitude, não vindo dizer que em tal sítio apenas podem coexistir x Exc ou y MB.
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Sei que nem todos podem ser EXC ou MB, mas sei, também, que em determinados locais se pode concentrar um número maior destes elementos e noutros não existir nenhum. Estabelecer quotas por escolas/agrupamentos faz com que uns não possam ser reconhecidos e noutras haja casos de "em terra de cegos, quem tem olho é rei"
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Repare-se, que à excepção, da observação de aulas, o que até me foi pedido (e não só a mim) para fazer algumas vezes, e dos objectivos a cumprir em função da diminuição das taxas de insucesso/abandono, tudo o que consta da proposta do ME, constava da auto avaliação feita no relatório crítico que cada um de nós apresentava para a candidatura à mudança de escalão. Tudo era avaliado, só que de forma qualitativa. Agora passa a ser de forma quantitativa.
E não afirme o Governo que nunca houve quem não mudasse de escalão devido a uma classificação de Não Satisfaz porque isso é completamente falso. Houve casos desses, por isso informem-se. Não sei se houve pedidos de avaliação de bom ou de avaliação extraordinária de muito bom. Se não os houve foi porque quem os regulamentou não criou condições para que servissem para alguma coisa. Ter um bom, para que 15 anos depois se pudesse pedir um muito bom, que apenas daria direito a uma bonificação de dois anos na progressão na carreira, não era razão para o incómodo que implicava estas solicitações. O problema da avaliação contida no antigo ECD resultava de uma falta de cumprimento das obrigações de regulamentação dos sucessivos ME e não de uma má aplicação das escolas, ou de constituir aquilo a que os srs do governo entendem, agora, designar por progressão automática.
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Não é uma avaliação individual que vai produzir resultados melhores do que os que existem. A avaliação proposta, coarctando, à partida, a possibilidade de progressão na carreira e de ascensão ao seu topo, à maioria dos professores, é de tal forma desmotivadora, que a maioria não verá necessidade de se esforçar mais do que o suficiente para garantir a sua subsistência no sistema. O profissionalismo tem limites! E se a vontade de “fazer coisas” que nos caracteriza passa a estar condicionada por uma burocracia desmedida, se o espírito colegial que nos é inerente se transforma numa corrida individual para a conquista de um determinado nível qualitativo, se o trabalho passa a ser desenvolvido pela conquista de objectivos individuais, toda a vida da escola vai definhar, tornando-se numa profissão semelhante a uma qualquer repartição em que “as salas de aula se transformarão em guichets de atendimento” onde se “aviarão” os clientes.
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Só quem não faz a mínima ideia do que é uma escola pode propor formas de avaliação dos seus actores semelhantes às de uma empresa de produção de um qualquer artefacto.
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A avaliação no ensino deveria fazer-se pela avaliação das escolas e não pela avaliação minuciosa de cada um dos seus actores.
A avaliação interna implicaria um maior rigor e aferição de trabalho e resultados, com vista à avaliação externa, e conduziria à anulação de "discrepâncias negativas individuais" que pudessem existir. Se estas persistissem, seria assunto para análise/avaliação desse(s) caso(s) para perceber se o problema residia no(s) professor(es) em causa, ou noutro ponto, implicando, neste caso, observação de aulas ou mesmo intervenção de inspectores.
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Os professores são avaliados diariamente, hora a hora. Nas escolas, todos (professores, alunos, funcionários e pais) sabem quem são os professores excelentes, os bons professores, ou os menos bons professores.

04/03/2008

A bem do país!!!!

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Aí está! Não a bem da educação, do ensino, da formação do futuro cidadão interventor! E esse é o problema... o país é uma entidade de costas largas em nome da qual se têm feita politicamente os maiores disparates. E, normalmente, quando se vem com a história do "a bem do país" está-se, simplesmente, a tentar remediar asneiras que políticos fizeram, querendo deixar nome em DR com as mais absurdas "pseudo-reformas", nunca pensadas, nunca apropriadas às questões em causa, nunca para o bem dos cidadãos mas sempre para o bem de um país de que eles são os únicos "accionistas". E para o bem do país copiam-se reformas de países como a Inglaterra e outras “terras”, reformas essas que não tendo dado resultados já foram postas de lado nesses países.
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Sim. A Educação não vai bem.
Não há resultados!
Todos o sabemos e todos temos consciência disso.
Ninguém quer que fique como está.
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A Educação (falando dela como de um bolo, um todo) tem inúmeras variáveis de contexto, funciona como um puzzle. O problema é que este ME anda a colocar enfeites numa série de peças do puzzle, sem qualquer fundamentação, sem qualquer estudo que suporte as suas "reformas" e não toca na principal.
Partiram de estatísticas sobre insucesso e abandono, divulgadas a nível da Europa, mas não tentaram, nestes 3 anos, saber quais as suas causas, quais os problemas que levavam à sua existência. Chegaram insultando e denegrindo os professores, contribuindo ainda mais para que algumas causas desses resultados crescessem. Quiseram, apenas, através do que iniciaram, justificar a redução de professores, a sobrecarga de trabalho, as medidas que nos impuseram para castigar os calões, englobando nesta categoria todos os professores. Não analisaram condições de trabalho, não fizeram investigação de problemas. Fundamentaram-se nos resultados e no ouvir dizer. Nivelaram por baixo todo o trabalho existente nas escolas. Atribuíram-nos privilégios. Atribuíram-nos mordomias. Fizeram crer à opinião pública e aos ALUNOS e seus PAIS que os professores são um bando de malfeitores, ricos, sem escrúpulos, sem apresentar trabalho. Tiraram-nos toda a dignidade e todas as armas que pudéssemos usar nas escolas para pedir trabalho aos alunos. Não contentes com isso, dizem taxativamente aos alunos que não necessitam de ir à escola - haverá uma prova de recuperação! Como é que uma prova recupera?! Dizem aos alunos que os resultados deles não são culpa da sua falta de trabalho, mas sim da falta de trabalho dos professores! Onde fica a autoridade do professor para os obrigar a trabalhar?!
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Ainda não satisfeitos, apesar de todos os relatórios da IGE, inventam a figura de um Director, inventam que não deixamos entrar os pais nas escolas e que portanto têm que ser estes e as "forças vivas da terra" a mandar para pôr os professores nos eixos!
Cumulativamente inventam um processo de avaliação diabólico, em que se passa o ano a preencher fichas e mais fichas para implementar, sem qualquer experiência, com prazos e normas absurdas, tudo isso a meio dum ano lectivo, indo coincidir com a parte mais importante da vida das escolas – a aferição de resultados dos alunos.
Continuam, num ME que se pressupõe da educação, a não perceber que não trabalhamos "ao ano civil", mas sim de acordo com um calendário próprio que se chama ano lectivo. Continua, este ME a não perceber que não é pondo rendas nas peças do puzzle que envolve a peça principal chamada "ensino e consequente aprendizagem" que se vai lá.
Continua, este ME, a não perceber que não é uma questão de envolvimento, mas sim uma questão do que se ensina e de que exigências fazer, o problema principal. Ainda ontem, VL acusava AB de ter contribuído para a implementação da baixa sucessiva de resultados. Quer isto dizer que ele sabe exactamente qual é o problema da educação. No entanto não querem mexer-lhe porque ele próprio é um defensor das mesmas pedagogias e da mesma forma de estar relativamente às aprendizagens. Basta ver a sua proposta de um ensino básico "prolongado na vida" e a infantilização cada vez mais acentuada que isso vai provocar nos nossos jovens/adolescentes.
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Continuam a suceder-se reformazinhas a toda a volta da peça principal. Continua a sair legislação, diariamente: leis, decretos-leis, decretos regulamentares, despachos, circulares, memorandos, explicações de articulados que por não saberem escrever (culpa dos professores, de certeza!) podem ter diversas interpretações, power points que servem de legislação, e depois segue-se outra catadupa de documentos das mais variadas "etnias" legislativas que revogam o anterior, que alteram parte de um outro, que regulamentam aqueloutro, que explicam o que não souberam dizer. Não há escola nem professor que resista a toda esta diarreia legislativa, a este tsunami de leis! E tudo isto sem ter em conta os relatórios que vão produzindo ou as opiniões dos diversos suportes de aconselhamento que eles próprios instituem. E tudo isto sem mexer no cerne da questão: que cidadão se quer formar, que valores e que conhecimentos deve adquirir na escola, que expectativas para a vida activa se lhe deve propiciar.
Para isto diz-se aos alunos que não vale a pena estudar, no ciclo normal de estudos, porque quando deixarem de ter a idade de frequência obrigatória poderão "adquirir" um diploma em 2 ou 3 meses ainda por cima com "brinde" - um computador a preço da chuva.
Continua a ter-se um ensino para formar "dótôres", coisa que muitos dos nossos alunos não querem ser (grande parte do insucesso vem daqui) e depois inventam-se CEF e outros quejandos, em vez de se instituir, nas escolas, cursos de formação de raiz, para dar oportunidade, a quem quer ser um "especialista" em qualquer arte/ofício, a ter, simultaneamente, acesso a uma formação e à aquisição de uma cultura básica. E como o ensino assim não funciona, nivela-se por baixo, fazendo com que, quer os que querem ser doutores, quer os que querem ser profissionais de "qualquer coisa", tenham um número reduzido de aprendizagens e caminhem para o insucesso por falta de interesse, por falta de exigência (não nossa… mas sim institucional), por falta de oportunidades.
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Portanto não me falem de reformas, não me falem de castigos para os professores, não me falem da necessidade de intervenção de pais e forças vivas, não me falem de passagens para as autarquias (que como já vimos não cumpriram enquanto detentoras do domínio do pré-escolar e do 1º ciclo e ainda menos das AEC), não me falem de avaliações como medida de promoção do mérito, não me falem de cursos de formação (dos vários tipos) e de novas oportunidades. Falem-me, sim, do objectivo da escola, do que queremos que ela "produza". Dêem-me o direito a ter autoridade para exigir o cumprimento de normas e de aprendizagens. Depois disto peçam-me satisfações. Até lá metam a mão na consciência e reconheçam os erros dos sucessivos ME e não acusem os professores, em praça pública, apenas com o fito de arrecadarem 30 dinheiros para poderem pagar a "especialistas em não se sabe o quê" compilações em legislação educativa, ao preço mensal do custo de um campo de jogos (que a minha escola não tem), de um laboratório, ou mesmo de uma sala de convívio que faça com que os alunos sintam a escola como sua, e para os quais dizem não haver verbas para dispender, apesar da "srª ME" dizer que o problema do seu ministério não é dinheiro!
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Quanto à nossa avaliação de desempenho, vou só referir o problema último e mais grave deste "quiproquó" (explicá-lo-ei noutro post). A avaliação entre pares é muito bonita, diz a "srª"! Pois é! Só que a "srª" não explica a ninguém que avaliadores, avaliadores/avaliados e só-avaliados são decisores e simultaneamente candidatos às MESMAS CLASSIFICAÇÕES, às MESMAS QUOTAS de notações que dão benefícios para progressão na carreira. Nas reuniões de decisão quanto às classificações só não estarão os só-avaliados. E isto é maquiavélico!
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Sim! A escola não está nada bem!
Mas não são operações de lifting, nem maquilhagens que vão mudar os resultados. Podem mudar as estatísticas, mas não alteram os resultados!
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