17/03/2008

Resposta aos "discursos com barbas" de David Justino

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E se começássemos por achar que a escola para todos não é apenas um direito para quem dela usufrui, mas também o cumprimento de um dever face à sociedade que a disponibiliza?

Como ninguém parte deste princípio, alunos e famílias sentem-se no direito de exigir, mas não no dever de dar nada em troca.

Quando for, socialmente, possível exigir atenção, comportamentos adequados, interesse e participação na aula, estudo e trabalho de casa, ida aos apoios disponibilizados nas escolas (a que os alunos faltam constantemente) peçam satisfações aos professores.

Quando a escola for socialmente valorizada como local de aprendizagens e não como local onde se colocam as crianças, sem que se lhes possa exigir trabalho (porque os "meninos" se cansam muito) peça-se satisfações aos professores.

Pode-se castigar os professores introduzindo mil e um diplomas:

- em que se preveja avaliação exaustiva do cumprimento dos seus conteúdos funcionais;
- em que se sobrecarregue o professor com montes de aulas de apoio, de substituição, de projectos de escola, de elaboração de relatórios para desmotivar as retenções, de reuniões de trabalho;
- em que se institua a figura de director para funcionar com um papão;
- em que se pretenda criar conselhos de escola que passarão a gerir toda a actividade escolar incluindo a pedagógica subordinando-a à administrativa;

que os resultados reais, respeitantes ao insucesso, não se modificarão, mesmo que as estatísticas se alterem.

Enquanto:

- não for decidido socialmente que cidadão se quer que a escola forme;
- não forem revistos os conteúdos necessários à formação desse cidadão; -
- não for implementada uma diversificação para aquisição desses conteúdos, dando possibilidade aos alunos/famílias de escolha de vias diferenciadas para a sua formação (a maioria não quer ser “doutor” e o ensino está todo vocacionado para essa via);
- a sociedade não deixar de desculpar o aluno, considerando-o como uma vítima, e não como um agente activo no seu processo de aprendizagem;
- se tentarem implementar reformas em cima de reformas sem que qualquer delas seja aferida e avaliada (ainda não acabámos de implementar uma, já outra está a surgir – não há escola que aguente);
- não houver um “pacto de regime no âmbito da educação” que permita uma continuidade do trabalho, independentemente do governo/ministro que de momento governa o país; -
- não se parar de fazer reformas enrolando sempre o sistema sem se tratar do núcleo principal;
- … enquanto não se parar para pensar qual é mesmo o problema;

não haverá resultados palpáveis em educação. Não haverá professor que os consiga, a não ser que trabalhe em escolas com determinadas elites sociais

Quando se compara com outros sistemas, convém analisá-los para perceber quais as diferenças e não importar fatias para implementar num sistema que nada tem a ver com os outros. Um sistema é um sistema porque constitui um todo… não pode ser remendado!

Desculpem-me "achar" tanta coisa, mas estando no terreno (ainda por cima num "terreno acidentado") e não nos gabinetes "acho isto tudo"!

http://quartarepublica.blogspot.com/2008/03/educao-e-os-discursos-com-barbas.html#comments

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