(roubada por aí...)
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A Srª ME diz que a avaliação entre pares é muito bonita. Diz-nos isto porque é a forma mais económica de a realizar e não porque fosse esse o caminho que escolhesse se por acaso tivesse uma miríade de inspectores disponíveis para andar por todas as escolas.
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Realmente, a avaliação entre pares seria óptima se se tratasse disso mesmo, de uma avaliação. Avaliação esta com carácter formativo, avaliação que até serviria ao avaliador e ao avaliado pela troca de saberes que daí poderia advir.
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O problema que se põe é que quando falamos da avaliação, proposta pelo ME, não falamos de uma avaliação, mas sim de uma classificação. E falamos de uma classificação que produz efeitos numa progressão profissional em função de níveis quantitativos diferenciados, como é próprio de uma classificação.
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E é nesta nuance da avaliação que irão emperrar a cooperação e o enriquecimento dos professores, enquanto actores de processos que se pretendem colegiais. Numa profissão em que este deveria ser um dos objectivos, este tipo de avaliação fará com que definhe qualquer partilha de conhecimentos, de materiais, de trocas pedagógicas. Todas as que acontecerem, resultarão, apenas, da necessidade de cumprimento de um qualquer objectivo individual e surgirão como uma acção para um determinado fim, e não como uma partilha.
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Numa avaliação classificativa, em que avaliadores, avaliadores-avaliados e só-avaliados concorrem todos para as MESMAS quotas de notações (Exc e MB) que possibilitam bonificações para progressão na carreira, alguma coisa está mal.
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E piora quando avaliadores (incluindo os avaliadores do CE) e avaliadores-avaliados participam em reuniões de decisão de avaliação nas quais são, simultaneamente, decisores e candidatos.
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Se forem ultrapassadas as quotas, qual é o Exc mais Exc, qual é o MB melhor MB? Como pode um avaliador defender a sua avaliação de um destes níveis se não pode ser defensor de um dos seus avaliados?
Se forem, ultrapassadas as quotas e algum dos decisores se encontrar, em situação de igualdade com outros candidatos (mesmo estando isento de votar em si) em quem votam os outros decisores? Naquele candidato que está com eles? Ou noutro candidato que nem está entre estes? (factor humano)
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Avaliações classificativas só se entendem numa perspectiva de carreiras verticais, onde existem patamares de chefias, em que determinado patamar é responsável pelo de baixo e responde ao de cima, e em que não existe concurso de uns e de outros para o mesmo fim.
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Analisem-se os diversos documentos existentes, nomeadamente um dos que está no site da dgrhe e do qual uma das autoras foi designada para o CCCA, e veja-se que nesses documentos as avaliações em causa se ficam pelo tipo de avaliação formativa. Repare-se, também, que mesmo em documentos de outros países que promovem o reconhecimento do tal mérito de que falam, o reconhecem na sua plenitude, não vindo dizer que em tal sítio apenas podem coexistir x Exc ou y MB.
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Sei que nem todos podem ser EXC ou MB, mas sei, também, que em determinados locais se pode concentrar um número maior destes elementos e noutros não existir nenhum. Estabelecer quotas por escolas/agrupamentos faz com que uns não possam ser reconhecidos e noutras haja casos de "em terra de cegos, quem tem olho é rei"
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Repare-se, que à excepção, da observação de aulas, o que até me foi pedido (e não só a mim) para fazer algumas vezes, e dos objectivos a cumprir em função da diminuição das taxas de insucesso/abandono, tudo o que consta da proposta do ME, constava da auto avaliação feita no relatório crítico que cada um de nós apresentava para a candidatura à mudança de escalão. Tudo era avaliado, só que de forma qualitativa. Agora passa a ser de forma quantitativa.
E não afirme o Governo que nunca houve quem não mudasse de escalão devido a uma classificação de Não Satisfaz porque isso é completamente falso. Houve casos desses, por isso informem-se. Não sei se houve pedidos de avaliação de bom ou de avaliação extraordinária de muito bom. Se não os houve foi porque quem os regulamentou não criou condições para que servissem para alguma coisa. Ter um bom, para que 15 anos depois se pudesse pedir um muito bom, que apenas daria direito a uma bonificação de dois anos na progressão na carreira, não era razão para o incómodo que implicava estas solicitações. O problema da avaliação contida no antigo ECD resultava de uma falta de cumprimento das obrigações de regulamentação dos sucessivos ME e não de uma má aplicação das escolas, ou de constituir aquilo a que os srs do governo entendem, agora, designar por progressão automática.
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Não é uma avaliação individual que vai produzir resultados melhores do que os que existem. A avaliação proposta, coarctando, à partida, a possibilidade de progressão na carreira e de ascensão ao seu topo, à maioria dos professores, é de tal forma desmotivadora, que a maioria não verá necessidade de se esforçar mais do que o suficiente para garantir a sua subsistência no sistema. O profissionalismo tem limites! E se a vontade de “fazer coisas” que nos caracteriza passa a estar condicionada por uma burocracia desmedida, se o espírito colegial que nos é inerente se transforma numa corrida individual para a conquista de um determinado nível qualitativo, se o trabalho passa a ser desenvolvido pela conquista de objectivos individuais, toda a vida da escola vai definhar, tornando-se numa profissão semelhante a uma qualquer repartição em que “as salas de aula se transformarão em guichets de atendimento” onde se “aviarão” os clientes.
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Só quem não faz a mínima ideia do que é uma escola pode propor formas de avaliação dos seus actores semelhantes às de uma empresa de produção de um qualquer artefacto.
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A avaliação no ensino deveria fazer-se pela avaliação das escolas e não pela avaliação minuciosa de cada um dos seus actores.
A avaliação interna implicaria um maior rigor e aferição de trabalho e resultados, com vista à avaliação externa, e conduziria à anulação de "discrepâncias negativas individuais" que pudessem existir. Se estas persistissem, seria assunto para análise/avaliação desse(s) caso(s) para perceber se o problema residia no(s) professor(es) em causa, ou noutro ponto, implicando, neste caso, observação de aulas ou mesmo intervenção de inspectores.
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Os professores são avaliados diariamente, hora a hora. Nas escolas, todos (professores, alunos, funcionários e pais) sabem quem são os professores excelentes, os bons professores, ou os menos bons professores.
1 comentários:
Ah! Finalmente! Um professor com uma ideia correcta, a avaliação do ensino faz-se pela avaliação da escola. Mas onde está a defesa de que, da escola para baixo, só há uma forma de avaliar professores e essa é pelo livre arbítrio do responsável pela escola? Ah, pois é...
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