"É inquestionável que os professores sofrem as consequências da crise global que afecta todo o sistema de ensino e que tem como causa próxima as políticas educativas seguidas nos últimos anos, em Portugal e em todo o mundo ocidental. Como escreveu António Teodoro - em local e momento que não sei precisar -, «os professores acrescentaram à sua função tradicional de transmissores de conhecimentos a de animadores culturais, de assistentes sociais, de responsáveis administrativos e políticos.
Esta concepção multifuncional dos professores traduziu-se num factor de perturbação, transformando os professores em verdadeiras criadas para todo o serviço». Esta concepção aliada a valores que invadiram a escola e que transformam o trabalho docente. em nome do sucesso educativo, numa «taylorização camuflada» criaram uma evidente crise de identidade, de gosto e de prazer pelo exercício da profissão. O que existe é insegurança, desconforto e mal-estar.O professor viu desvalorizados os
conteúdos culturais e formativos das respectivas disciplinas, a primeira razão de ser da sua profissão, em nome de um pedagogismo falacioso, e caiu no logro de passar «a viver» a escola. Que se traduziu em passar lá mais tempo a fazer um pouco de tudo e a ensinar cada vez pior. Como se isto não fosse já suficiente, viu as suas condições de trabalho piorarem, o seu sistema remuneratório ser progressivamente desvalorizado, as escolas serem transformadas em locais de violência, e alunos, pais e administração a exigirem-lhe cada vez mais, quando não a responsabilizá-lo por as coisas não correrem bem. «O professor mal pago, isolado, denegrido e humilhado, quer pelos alunos, quer pela hierarquia interiorizou esta sua condição e despreza o seu próprio trabalho»12. E contrariado, é obrigado a participar em infindáveis reuniões para tudo e para nada. A fazer actas.A fazer planificações (a longo, médio e curto
prazo) que quase sempre se transformam em meras idealizações que a prática concreta não confirma. A definir objectivos, os quais têm que ser gerais e específicos e obedecera uma nomenclatura especializadíssima. A fazer avaliações as quais deverão ser formativas, sumativas e globais. A fazer matrículas. A organizar as turmas. A
contabilizar as faltas dos alunos. A preencher pautas, fichas, parâmetros e outras papeladas. A elaborar horários. A decorar a escola. A pintar campos de jogos. A fixar cabides em balneários. A recuperar material. A organizar o inventário. A receber os pais. A dar mais atenção aos filhos dos outros que os próprios pais lhes dão. E finalmente, também, a dar aulas. E aqui, a dispor de estratégias de remediação para
tudo, em nome, de uma eventual «ciência» educativa. Ou seja, a dar valor e importância a aspectos secundários e em alguns casos dispensáveis da acção docente e a se não dedicar ao essencial: a matéria de ensinar. não dedicar ao essencial: a matéria de ensino e o acto pedagógico. A extensão e a consequência desta situação está à vista de todos: transformados em «pau para toda a obra» têm do exercício da profissão uma imagem que não está apenas desvalorizada aos «olhos dos outros»: ela
está também instalada no seio dos professores. Basta para tanto que os oiçamos. E se possível, contabilizemos, quantos não mudariam rapidamente de profissão se acaso a oportunidade surgissel3. E quantos outros, não encontram em outras actividades profissionais exteriores à Escola, a compensação profissional que aquela lhe não oferece. Esta crise é geral, e afecta naturalmente e também os professores de Educação Física. E estes, tais como os restantes, são chamados a lutar pela alteração deste estado de coisas. Desde logo, recusando a funcionalização dás suas tarefas profissionais. Mas igualmente revalorizando o essencial das suas profissões: as matérias que têm para ensinar.
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