14/07/2005

Correio dos leitores: A opinião pública

“Toda a minha gente” opina sobre o ensino sem, no entanto, saber minimamente a “legislação” que rege o sistema, de modo que o resultado é a acusação fácil sobre os professores. Em 1997 (penso estar certa), um “responsável”, na altura, do ME disse-me "preto no branco", a propósito de não dever haver retenção em anos não terminais de ciclo: " Os alunos, só com a presença, adquirem muito mais valias do que os professores pensam." (aparte: até compreendo o que foi dito e até o aceitaria, se as escolas estivessem devidamente equipadas e preparadas para as consequências que advêm daquela afirmação). Claro que, depois, quando se fazem exames, as questões não recaem sobre essas mais valias! Outra questão que parece ser sistematicamente esquecida (para não dizer que "esquece muito a quem não sabe") por quem opina é a dos critérios de avaliação. A contrapor a um exame, um professor avalia um aluno de acordo com, em média, no Ensino Básico, 9 (NOVE) parâmetros de avaliação, entre os quais se encontram a “assiduidade”, “pontualidade”, “relações interpessoais”e “comportamento” – ora, em alguns casos, e de acordo com os critérios da escola, um aluno transitará ou será sempre aprovado, bastando ter 100% nesses parâmetros. Há uns anos (poucos) muito se comentou, neste país, o facto de haver uma escola que tinha tido 100% de sucesso. Vá lá que ainda houve uma ex-governante que teve a decência de lembrar os critérios de avaliação mas, como os jornalistas não faziam ideia do que ela estava a dizer, o que ficou na opinião pública foi o “sucesso”! Ora, a “coisa” era simples: 50% para “Valores e Atitudes” – pois, colegas, era praticamente impossível que um aluno não tivesse sucesso!!! Temos levado ao longo dos anos com verdadeiras lavagens ao cérebro, cujo único objectivo é criar uma imagem de sucesso, tendo-se tornado quase obrigatória a aprovação dos alunos, digam os governantes o que disserem e sobretudo passem o que passarem para a opinião pública. A verdade é que a conversa de que todas as aprendizagens eram passíveis de se realizar pelo lúdico, entre outras “pérolas”, como a que uma vez me disseram, na altura do lançamento de uma reforma (perdoem mas já não sei qual), a propósito do desenvolvimento da expressão escrita… sic “ Importa que os alunos escrevam muito"; não, nem sequer é necessário corrigir tudo isso. O que interessa é a quantidade e não a qualidade. De vez em quando, o professor pega num dos textos lê e comenta”(!), foi criando, ao longo de gerações, a noção de facilitismo. Até nos exames de 12º… é engraçado que, há não muito tempo, foi feita uma reclassificação de exames, porque se chegou à conclusão de que um determinado grupo de alunos tinha tido uma classificação muito abaixo da média – acho bem! Só não entendo é porque acontecendo o mesmo, mas relativamente a classificações muito acima da média, o mesmo não se faça! Também acho bem…apenas constato a diferença de atitudes.
A grande maioria dos alunos não trabalha, não estuda e nem a visitas de estudo (mesmo que sejam mais passeio, como uma ida ao Jardim Zoológico, Zoo Marine ou afins) quer ir! Estratégias como pintar, desenhar já são consideradas uma “seca” …comentário mais ouvido: “ ’borrece-me!”. Gosto do que faço, mas confesso que estou cansada, muito cansada, de ouvir uma contínua desconsideração pelos professores e o mais triste é verificar que a desconsideração começa na tutela. Sei que se disse, e estou a falar do presente (!), que se sabia que havia professores que trabalhavam muito para além das 35 h, mas que também havia muitos que não trabalhavam. Resultado: apliquem-se as medidas…! Não se disse, sancionem-se os que não trabalham! O que se disse foi “Espete-se” então com mais trabalho para cima dos que trabalham! E porquê? Para aumentar a qualidade? Não! Para calar a opinião pública, para calar os EE que, no 1º Ciclo, ficam descansados com o local
onde "largam" os filhos, para dar uma ideia de exigência, aumentar o desemprego e poupar meia dúzia de tostões que bem caros talvez lhes venham a sair – continuam, ao fim de tanto ano, a desinvestir no ensino. Já viram as consequências, mas ainda não aprenderam. Todas (ainda que poucas) as medidas que alguma vez se fizeram e realmente resolviam problemas dos alunos foram ”PROÍBIDAS", apenas e só porque custavam dinheiro! Tenho de perguntar: quantos ministros da educação tivemos desde 75? Quantas reformas ou pseudo houve? Quantos métodos se pretenderam implementar? Que avaliação se fez de cada um deles? Só este ano é que a Gestão Flexível foi alargada ao 9º ano em todas as escolas e já houve alterações, antes mesmo de ter chegado ao 9º ano! Digo mais: outras garantidamente se preparam! Quantas vezes se ouviram os professores sobre tudo o que se tem feito? Nunca! A única vez em que isso foi feito foi exactamente em 1996 (antes da implementação da Gestão) e não passou de um enorme, imenso, embuste! Quantos ex-ministros da educação estão neste governo e porquê? Professores revoltados por injustiças contínuas nenhum bem trará. Na Função Pública, precisavam de uma classe fácil de atingir – foi a nossa.

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