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Realizou-se, esta semana, a Conferência internacional sobre o ensino do Português. Esta conferência não foi uma qualquer conferência! Foi uma conferência organizada pelos serviços centrais do ME com objectivos precisos http://www.dgidc.min-edu.pt/conferenciaportugues/Apresentacao.htm. Não sendo a minha área, não quero, no entanto, deixar passar em claro, a organização e as conclusões que foram noticiadas:
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Porquê? Porque o que se passou aqui, é o que se passa relativamente a todas as outras disciplinas ... todos são especialistas!
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A conferência pressupunha que se falasse do ensino. E onde se faz esse ensino? Onde se geram as dúvidas? Quem está todos os dias com os alunos e conhece as dificuldades quer da transmissão, quer da aquisição de conhecimentos? Que eu saiba são os professores nas escolas!
Não seria importante que: quem está, perguntasse?... quem tem experiências válidas, contasse?... que se tivessem organizado, nas escolas, grupos de trabalho que, ao longo do ano, preparassem esta conferência, colocando os seus problemas, confrontando tentativas de solução?
No entanto, parece que nada disto é importante, que nada disto tem a ver com o ensino do português e com o seu insucesso. Importante é vir alguém explicar aos pobres e incompetentes professores como se faz! Quero afirmar que não tenho nada contra este tipo de conferências, se estas se constituirem como um local onde uns vão fazer currículo e outros vão buscar informações! Tenho tudo contra, numa conferência que se "propõe reflectir, de forma alargada, pluridisciplinar e transversal, sobre os grandes problemas que hoje se colocam ao ensino do português e à sua aprendizagem em contexto escolar, sem esquecer naturalmente o lastro de enquadramentos pedagógicos e de orientações políticas que desde há algumas décadas o determinam. Dentre aqueles problemas merece destaque o deficiente domínio da língua que é evidenciado pelos nossos estudantes, tanto em exames nacionais como em estudos internacionais".
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Sim, porque ao consultarmos a lista dos conferencistas encontramos professores universitários/politécnico com função de formação de professores, encontramos professores universitários sem função de formação, encontramos escritores, encontramos a presidente do Instituto Camões, encontramos outros conferencistas com cargos semelhantes, gente que fala e escreve muito bem português, mas que com toda a certeza nunca esteve numa sala de aula com vinte e tal putos... e finalmente encontramos o Presidente da APP que não sei se exerce, e um outro professor do Ensino Secundário que também não sei se exerce...
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Todos eles, segundo o programa, falaram do ensino do português! Todos eles expuseram as suas teorias! Teorias construídas ou apreendidas... mas onde? Teorias sobre as nossas áreas todos sabemos! Pesquisa e construção de materiais todos fazemos! O que os professores querem e precisam é a resposta às suas dúvidas!
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E foi aqui que a "porca torceu o rabo"! Foi quando confrontados com as dúvidas reais de quem está no terreno e conhece "a gente" que tem à sua frente que os sábios, os técnicos bem informados, os conselheiros do ME... todos eles tendo, anteriormente, "discursado" sobre o ensino do português sem terem a mínima noção do que é uma escola, do que é uma sala de aula, se irritaram, como se estivessem a falar com mentecaptos, e responderam com o absurdo "os professores têm que ser mais criativos" "há muito material didáctico na internet"!!!
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Como se não fosse isso que os professores fizessem todos os dias! Esmifrar-se na procura e construção de materiais (tudo do seu bolso, claro!!!) que sejam apelativos e consigam tirar quem têm à sua frente da apatia e desinteresse que manifestam por qualquer coisa que lhes seja transmitida na escola, e concluiram com uma tirada importantissima, quando confrontados com o problema dos alunos estrangeiros (a quem o ME achou por bem retirar as horas de apoio): "um apelo ao Ministério da Educação para pressionar as instituições do Ensino Superior a introduzirem línguas não maternas na formação dos professores". Apelo esse que o jornal, mencionado, aproveitou logo para o título da notícia: "Docentes pedem formação para ensinar estrangeiros"
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Voltámos à mesma estórea... aprendam romeno, ucraniano, chinês, tal como em tempos aprenderam crioulo!!!
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O ME cumpriu o seu papel, o da preocupação e tentativa de resolução do assunto. Os especialistas fizeram a sua boa acção em prol da língua portuguesa e contribuiram para dissipar as preocupações do ME. Os professores voltaram para casa, com o conselho "criem e procurem na net" (e se tiverem alunos estrangeiros, aprendam a sua língua)!
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O grande problema que se nos coloca é que os currículos, os programas, os exames, as provas, as normas de funcionamento, etc, são todos elaborados por estes ou outros especialistas!
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