Por cada treze portugueses, um é funcionário público. O que significa que quase um quinto da população activa tem o Estado como seu patrão. Por incrível que pareça, o número é inferior ao de quase todos os países da União Europeia (Só em Espanha e no Luxemburgo é que há mais pessoas a receberem a conta-ordenado no sector privado). Na Suécia, país do Estado-Previdência, um terço da população tem uma função pública. Quantidade nem sempre é sinónimo de mais despesas.
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Desde que José Sócrates abriu a boca para falar em reformas, os sindicatos atiraram-se às suas canelas anunciando greves para todos os gostos. O final do ano promete ser ainda mais tempestuoso, a avaliar pelas declarações contundentes do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que já disse alto e bom som: “vamos reduzir drasticamente o número de funcionários públicos”. Quantos ao certo, ninguém sabe.
CÉLIA ANTUNES, PROFESSORA
'HÁ MUITA GENTE A PENSAR QUE TAMBÉM TEMOS FÉRIAS DE TRÊS MESES'
Idade: 30 anos
Salário líquido: 1150 euros
Horas trabalho: 35 Horas semanais
Hobbies: leitura
É uma professora atípica. Célia Antunes não teve de carregar com a casa às costas, como a maioria dos colegas em início de actividade. Em 1998, quando começou a dar aulas, ficou logo colocada na escola mais próxima de casa, em Oeiras. A sorte não mudou nos anos que se seguiram. Também não a veremos nas ruas a protestar contra as aulas de substituição, o alargamento do horário lectivo ou o encerramento das escolas no interior do país.
“Compreendo os meus colegas, mas acho que até devíamos ter mais horas de trabalho nas escolas. Assim, tudo o que fazemos estará à vista. Quando estou em casa a corrigir testes ou a preparar as aulas até às tantas ninguém o sabe”, explica a professora do ensino básico da Escola Orlando Gonçalves, em Alfornelos. Os pais continuam a ter a ideia, errada, de que os professores dos seus alunos trabalham pouco. “É triste. Há muita gente a pensar que também temos férias de três meses.”
Numa escola, rodeada pelo cimento sem alma das torres suburbanas, costumam desaguar os problemas sociais do costume: “Já senti agressividade de alunos que vêm perturbados com problemas de casa.”
Os dramas sempre tiveram final feliz. Pelo menos até agora. Nas escolas, sente-se que falta um pouco de tudo: desde um simples aquecedor a um assistente social. Muitas vezes, são os professores quem veste a farda de pai, psicólogo ou especialista informático. “Somos pau para toda a colher”, queixa-se. Ela estima que por cada dez colegas no activo, nove estejam desmoralizados. “Eu devo ser uma minoria”, brinca. Este ano, Célia não passará para o 5.º escalão, como esperava, mas não se preocupa demasiado com o assunto: “Se quisesse ter uma vida mais desafogada teria escolhido outra profissão.”
19/07/2006
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