1 - Nos moldes em que a sociedade está estruturada os trabalhadores necessitam de uma organização intermédia que os represente não só junto da entidade empregadora e dos diferentes ministérios, a que a sua actividade se liga, para dirimir possíveis conflitos laborais, mas também que negoceie os direitos e deveres de cada classe. Enfim, que seja a voz dos trabalhadores no garante das suas condições sócio-profissionais. Sem este tipo de organizações, sem esta voz, voltaríamos ao tempo em que não existiam classes profissionais, em que os trabalhadores viviam, cada um per si, explorados e humilhados pelos patrões, sujeitos a uma enorme precariedade a nível de direitos (factos que não vale a pena relembrar). Se repararem estamos a regressar a passos largos a esse estádio. Basta olhar para as novas leis sobre contratação para nos apercebermos da tentativa (já bastante conseguida – vejam-se as novas ofertas de escola!) de isolar o trabalhador através de um contrato individual de trabalho e, posteriormente, através de uma avaliação que se quer secreta entre o avaliado e o avaliador. E não me falem numa nova recessão porque ao analisarmos, criticamente, os factos, o desemprego, a individualização do emprego e o aniquilamento dos direitos que estão a ser feitos em nome de uma instabilidade económica internacional, os argumentos não colhem. Há cada vez mais “os mesmos a engordar” na proporção inversa “aos mesmos que cada vez mais apertam o cinto” (também já vi isto algures pela história do mundo…). E cada vez mais se culpa o trabalhador, por reflectir na prática, o descalabro das más políticas, das gestões de jeitos, da ganância, dos sonhos individuais de promoção pessoal a todo o custo (que se tornam pesadelos para quem trabalha), do querer de um dia para o outro o lucro que demora anos a construir, de tudo o que tem conduzido os países, em geral, e Portugal, em particular, ao estado em que se encontram neste momento.
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Os sindicatos são necessários, mas os sindicatos são os sócios e não (apenas) as direcções. E aqui começa o 1º problema: as pessoas sindicalizam-se e pensam que, ao fazê-lo, “adquiriram” voz directa nos órgãos de decisão. Por isso descansam. Por isso ficam em casa achando que “o advogado” está tratando do seu caso. Quando são chamadas a dar opinião, em reuniões, na rua, seja em que acção for, dizem “estará lá quem me represente”. Quando descobrem que afinal todos pensaram da mesma maneira, viram-se contra os sindicatos… não mobilizaram, não estão à altura, não têm capacidade… Afinal não têm força, afinal não representam ninguém! Esquecem-se que a força dos sindicatos é a força que todos e cada um dos sindicalizados lhes derem.
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Historicamente, em quase todos os países, e em especial em Portugal, o sindicalismo está conotado com a contestação sistemática, a acção de rua, o esquerdismo (mais especificamente com os “comunas”). Aqui reside o 2º problema: as pessoas, apesar de um 25 de Abril, não consciencializaram a sua capacidade de exigir o que lhes é devido, nem a necessidade de “luta” por direitos, quer pelos que lhes são inerentes enquanto cidadãos produtores, quer pela sua manutenção. “Lutar” é feio… não fica bem, é conotado com os esquerdistas. Mais… as pessoas têm medo! As pessoas cultivam o medo do que lhes pode acontecer se fizerem isto ou aquilo (nas salas de professores isso é cada vez mais perceptível). E o “patrão” é como o cão… cheira o medo, cheira-o e avança a passos cada vez maiores, com os dentes cada vez mais arreganhados. O “patrão” conhece o seu poder sobre o resultado dos 50 anos que nos (de)formaram (e que continua a ser transmitido no íntimo da maioria das casas portuguesas) e usa-o.
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2 – No sindicalismo docente passa-se o mesmo que em todas as profissões, mas com sérias agravantes. É uma classe de intelectuais, o que muitas vezes se torna um impedimento a uma acção (embora esta condição devesse ser uma mola, torna-se em geral handicap). O conhecimento da história, das filosofias, das teorias é, muitas vezes, um entrave à manifestação dinâmica do que se quer, daquilo a que se tem direito. Perdemo-nos em “tertúlias”, em debates, em ler nas linhas e nas entrelinhas, e acabamos por agir tarde, ou por não agir. Não fica bem a um intelectual meter-se em lutas “materiais”. Por outro lado, a classe é constituída, maioritariamente, por mulheres com um “certo” status, a quem também não fica bem a tomada de determinadas posições/acções. Temos, ainda, as opções partidárias, que tolhem muitos dos nossos movimentos. Infelizmente, a maioria, quando tem um “cartão”, torna-se cega à realidade e acrítica relativamente às posições que se vão tomando, não fazendo mais do que baixar a cabeça e dizer amem. Por isso, vamos todos deixando andar, na convicção de que alguém nos defenderá. E não vou referir que o enorme desemprego existente dentro da classe e que todos os documentos emanados deste ME estão a ferir gravemente o já “pequeníssimo” espírito de classe existente, fazendo com que se olhe exclusivamente para o próprio umbigo (exactamente o que eles pretendem).
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3 – Todos sabemos que a proliferação de sindicatos tem diversas origens. Desde as políticas, nomeadamente das que se dizem de não-alinhamento, às que são da cor da ocasião (que apenas serviram para, na altura, serem apoiantes e signatários das propostas de momento), às de protagonismo individual, há de tudo um pouco. Um exemplo interessante é o de um colega (por acaso do meu grupo) que aquando da saída dos primeiros formados pelas ESE (que na altura não saíam licenciados) ter ficado indignado com os sindicatos existentes por os aceitarem como sócios e ter resolvido constituir um sindicato destinado apenas a professores licenciados. Soube, não muito tempo depois, que paralelamente a esse seu acto, tinha aceite ser professor numa dessas escolas que formavam professores que ele não considerava ao nível de se sindicalizarem nos sindicatos de professores. Enfim… protagonismos e hipocrisias!!!
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Os sindicatos são necessários, mas os sindicatos são os sócios e não (apenas) as direcções. E aqui começa o 1º problema: as pessoas sindicalizam-se e pensam que, ao fazê-lo, “adquiriram” voz directa nos órgãos de decisão. Por isso descansam. Por isso ficam em casa achando que “o advogado” está tratando do seu caso. Quando são chamadas a dar opinião, em reuniões, na rua, seja em que acção for, dizem “estará lá quem me represente”. Quando descobrem que afinal todos pensaram da mesma maneira, viram-se contra os sindicatos… não mobilizaram, não estão à altura, não têm capacidade… Afinal não têm força, afinal não representam ninguém! Esquecem-se que a força dos sindicatos é a força que todos e cada um dos sindicalizados lhes derem.
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Historicamente, em quase todos os países, e em especial em Portugal, o sindicalismo está conotado com a contestação sistemática, a acção de rua, o esquerdismo (mais especificamente com os “comunas”). Aqui reside o 2º problema: as pessoas, apesar de um 25 de Abril, não consciencializaram a sua capacidade de exigir o que lhes é devido, nem a necessidade de “luta” por direitos, quer pelos que lhes são inerentes enquanto cidadãos produtores, quer pela sua manutenção. “Lutar” é feio… não fica bem, é conotado com os esquerdistas. Mais… as pessoas têm medo! As pessoas cultivam o medo do que lhes pode acontecer se fizerem isto ou aquilo (nas salas de professores isso é cada vez mais perceptível). E o “patrão” é como o cão… cheira o medo, cheira-o e avança a passos cada vez maiores, com os dentes cada vez mais arreganhados. O “patrão” conhece o seu poder sobre o resultado dos 50 anos que nos (de)formaram (e que continua a ser transmitido no íntimo da maioria das casas portuguesas) e usa-o.
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2 – No sindicalismo docente passa-se o mesmo que em todas as profissões, mas com sérias agravantes. É uma classe de intelectuais, o que muitas vezes se torna um impedimento a uma acção (embora esta condição devesse ser uma mola, torna-se em geral handicap). O conhecimento da história, das filosofias, das teorias é, muitas vezes, um entrave à manifestação dinâmica do que se quer, daquilo a que se tem direito. Perdemo-nos em “tertúlias”, em debates, em ler nas linhas e nas entrelinhas, e acabamos por agir tarde, ou por não agir. Não fica bem a um intelectual meter-se em lutas “materiais”. Por outro lado, a classe é constituída, maioritariamente, por mulheres com um “certo” status, a quem também não fica bem a tomada de determinadas posições/acções. Temos, ainda, as opções partidárias, que tolhem muitos dos nossos movimentos. Infelizmente, a maioria, quando tem um “cartão”, torna-se cega à realidade e acrítica relativamente às posições que se vão tomando, não fazendo mais do que baixar a cabeça e dizer amem. Por isso, vamos todos deixando andar, na convicção de que alguém nos defenderá. E não vou referir que o enorme desemprego existente dentro da classe e que todos os documentos emanados deste ME estão a ferir gravemente o já “pequeníssimo” espírito de classe existente, fazendo com que se olhe exclusivamente para o próprio umbigo (exactamente o que eles pretendem).
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3 – Todos sabemos que a proliferação de sindicatos tem diversas origens. Desde as políticas, nomeadamente das que se dizem de não-alinhamento, às que são da cor da ocasião (que apenas serviram para, na altura, serem apoiantes e signatários das propostas de momento), às de protagonismo individual, há de tudo um pouco. Um exemplo interessante é o de um colega (por acaso do meu grupo) que aquando da saída dos primeiros formados pelas ESE (que na altura não saíam licenciados) ter ficado indignado com os sindicatos existentes por os aceitarem como sócios e ter resolvido constituir um sindicato destinado apenas a professores licenciados. Soube, não muito tempo depois, que paralelamente a esse seu acto, tinha aceite ser professor numa dessas escolas que formavam professores que ele não considerava ao nível de se sindicalizarem nos sindicatos de professores. Enfim… protagonismos e hipocrisias!!!
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Todos sabemos, também, que a maioria dos professores (com uma formação cada vez menos politizada, por ausência quase total de associativismo estudantil), que se sindicaliza, o faz no princípio da carreira e que quase nenhum tem conhecimento dos sindicatos que existem. Por isso pergunta ao amigo, ao colega mais próximo, e acaba por sindicalizar-se no que aquela pessoa que considera de confiança indicou. Não há uma análise, não há uma escolha do que é oferecido.
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Todos sabemos, ainda, que muitos dos sindicatos existentes poucos sócios têm para além dos que constituem os seus órgãos sendo, no entanto, legais… já o mesmo não posso dizer da sua representatividade (talvez não seja ilegal… representativa é que não o é de certeza... pelo menos para mim.).
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4 – O movimento sindical deve ser da responsabilidade de todos os que dele são sócios. Essa responsabilidade passa pela participação crítica dentro do próprio sindicato, passa pela discussão dos problemas reais e pelo fazer ver a quem não está na escola (e aqui refiro-me a sindicalistas que se acomodaram) que lá não se vivem teorias mas práticas. Se o não faz dentro do sindicato não lhe reconheço o direito de o fazer fora. Se o fizer lá dentro e, sentindo-se dentro da razão, achar que o deve fazer fora do sindicato, aí sim, considero que tem o direito de o fazer, embora a “ética me possa fazer cócegas”. O grande problema é que a maioria das pessoas (sindicalizadas) que criticam a actuação dos sindicatos nunca apareceram numa reunião para dar a sua opinião, para apresentar as suas críticas. A maioria, não conhece, inclusivamente, as linhas com que se cose (falo de legislação que os beneficia e/ou prejudica – pelo que vejo/oiço a maioria não leu uma linha dos últimos documentos, apenas conhece “alguns títulos de jornais” o que é muito pouco abonatório da nossa classe; muitas vezes ouviram uma noticiazita e quando me vêm perguntar do que se trata e eu os elucido dizem-me “não pode ser, lá estás tu a exagerar” – o problema é quando não há nada a fazer e reconhecem que até lhes dei uma explicação soft… mesmo assim não aprendem; na vez seguinte acontece a mesma “cena”).
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Creio que os não sindicalizados também têm a obrigação de contribuir com a sua opinião, já que apesar de não serem sindicalizados acabam por vir a ser beneficiados/ prejudicados pelas decisões/negociações decorrentes da actividade sindical. E assim como acho que se devem pronunciar, acho que também deveriam ser ouvidos pelos sindicatos. Talvez esta atitude, se assumida por ambos os lados, se constituísse num foco de maior dinamização e unidade da classe.
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4 – O movimento sindical deve ser da responsabilidade de todos os que dele são sócios. Essa responsabilidade passa pela participação crítica dentro do próprio sindicato, passa pela discussão dos problemas reais e pelo fazer ver a quem não está na escola (e aqui refiro-me a sindicalistas que se acomodaram) que lá não se vivem teorias mas práticas. Se o não faz dentro do sindicato não lhe reconheço o direito de o fazer fora. Se o fizer lá dentro e, sentindo-se dentro da razão, achar que o deve fazer fora do sindicato, aí sim, considero que tem o direito de o fazer, embora a “ética me possa fazer cócegas”. O grande problema é que a maioria das pessoas (sindicalizadas) que criticam a actuação dos sindicatos nunca apareceram numa reunião para dar a sua opinião, para apresentar as suas críticas. A maioria, não conhece, inclusivamente, as linhas com que se cose (falo de legislação que os beneficia e/ou prejudica – pelo que vejo/oiço a maioria não leu uma linha dos últimos documentos, apenas conhece “alguns títulos de jornais” o que é muito pouco abonatório da nossa classe; muitas vezes ouviram uma noticiazita e quando me vêm perguntar do que se trata e eu os elucido dizem-me “não pode ser, lá estás tu a exagerar” – o problema é quando não há nada a fazer e reconhecem que até lhes dei uma explicação soft… mesmo assim não aprendem; na vez seguinte acontece a mesma “cena”).
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Creio que os não sindicalizados também têm a obrigação de contribuir com a sua opinião, já que apesar de não serem sindicalizados acabam por vir a ser beneficiados/ prejudicados pelas decisões/negociações decorrentes da actividade sindical. E assim como acho que se devem pronunciar, acho que também deveriam ser ouvidos pelos sindicatos. Talvez esta atitude, se assumida por ambos os lados, se constituísse num foco de maior dinamização e unidade da classe.
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Sei que há muita gente desiludida com a actividade sindical. Este facto resulta da pouca participação dos sócios por um lado e da pouca actividade (perceptível) dos sindicalistas por outro. Tal como em altura de tempestades, só nos lembramos de Santa Bárbara quando há trovões. Também aqui se passa o mesmo. Só nos lembramos dos sindicatos em momentos de crise. Durante o resto do tempo abandonamo-los à sua sorte, não lhes damos apoio, deixamo-los decidir sozinhos. Isso aconteceu nos últimos anos. Houve um ligeiro tempo de bonança em que não fomos grandemente atacados, grandemente prejudicados… acomodámo-nos e deixámos os sindicatos sozinhos… também um pouco acomodados pela falta de grandes lutas, diga-se em abono da verdade…. Quando, de repente, chegou a crise, iniciada com o concurso de 2004, aqui d`el rei, “os sindicatos não fizeram, os sindicatos não aconteceram”…
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Os sindicatos somos nós … mas nunca dizemos “nós não fizemos, nós não acontecemos”. Depois queixamo-nos deles porque se sentiram sozinhos e agiram quase sozinhos, porque tentaram mobilizar-nos mas nós estávamos amuados e fizemos beicinho e dissemos “agora não brincamos”. Pois é … talvez nos falte a todos uma consciência política, uma consciência de classe, uma consciência de direitos, uma consciência dos deveres que temos para connosco e para com a classe, enquanto profissionais. Sim, porque ser profissional não é, apenas, exercer a profissão no nosso localzinho de trabalho. Ser profissional é ser crítico, é ser membro de uma classe, é lutar pela dignificação dessa classe nos seus diferentes status: social, científico, pedagógico, laboral. E essa luta não pode ser individual, já que numa luta desse tipo não se marcam muitos pontos. Os itens, que referi, constituem os pilares de uma profissão. Faltando a autenticidade de um deles que seja o estatuto do profissional fica ferido e a profissão de todos e de cada um é afectada.
6 comentários:
Nem mais... ;)
Gostei bastante do teu texto. Toca em pontos que são fundamentais.
concordo e agradeço.
Teria sido uma boa intervenção para o congresso da Fenprof (não digo optima, porque poderia exceder o tempo permitido... ;)
abraço, lm
Muito bem Maria Lisboa! Realmente teria sido muito bem empregue no Congresso! Olha, envia para a revista do sindicato ou fenprof. É preciso abordar este assunto de forma clara como o fazes.
Beijinho!
Ora deixa-me juntar ao coro do elogios, ainda que atrasada, pois só hoje dei com o post. Magnífico! É de mandar mesmo para a revista do Sindicato. Eu vou publicitá-lo na minha chafarica!
Maria Lisboa
Ver assim o mundo, construido de baixo para cima, já vai sendo raro.
Intervenção muito oportuna para os dias que vamos vivendo.
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