06/04/2008

A Hidra de Lerna da nossa educação

Processo, de nome próprio
Burocrático, de apelido
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Recupero, aqui, um texto que coloquei há mais de 2 anos e que já, nessa altura, tinha alguns anos (1995)
Continua actualizadíssimo!
Quando o colega Manuel Constantino o publicou, fê-lo como uma chamada de atenção para o que estava a acontecer.
À época o "menino"- Processo, de nome próprio, Burocrático, de apelido - era apenas uma criança. Andava pelos 5/6 anos e estava “a entrar na primária”. Surgiu como se fosse um sobredotado e por isso tratámo-lo como se fosse um génio. Trabalhámos, “com este aluno”, como manda o eduquês. Centrámo-nos nele, acarinhámo-lo, apaparicámo-lo, demos-lhe força e vida e deixámos que fosse ele a mandar em nós. A cada birra e a cada exigência inventámos mais uma ficha, mais um documento, mais um objectivo, mais uma estratégia para lhe resolver a vida. E o “menino” cresceu, e fez a escolaridade toda, habituado a “ser bem alimentado”: fichas, grelhas, planos, relatórios, reuniões, recuperações, acompanhamentos, apoios… Não o soubemos disciplinar a tempo. Entretanto o “menino” entrou na universidade e formou-se. Cada vez mais bem alimentado, cada vez mais senhor de si, já não é um menino a quem podíamos ter educado, transmitido princípios de contenção e de respeito pela função primária e última de quem o educava. Não soubemos perceber que não era nenhum génio, que não era nenhum salvador, que não tínhamos que nos subjugar a ele, mas sim aprender a contê-lo nos limites do desejável. Não soubemos fazê-lo... por inércia? por convicção? Não interessa, só sei que não o soubemos!
Neste momento, o Dr. Processo Burocrático está formado. Sente-se dono do mundo. Manda em todos nós. Exige, reclama, ameaça, chantageia… Só lhe falta começar a punir! E para isto pouco falta… Transformou-se num tirano absoluto!
Não actuámos a tempo! Agora enfrentamos o monstro que acalentámos no nosso seio, que alimentámos querendo ser sempre “mais papistas que o papa”, que mimámos, tentando, sempre, mostrar mais apoio, ao menino, do que o colega do lado.

Colaborámos na criação deste monstro… demos-lhe 7 cabeças, como à Hidra de Lerna!

Como podemos, agora, sufocar “o menino” que ajudámos a criar?
Como podemos lidar com tantos sentimentos díspares, entranhados na nossa formação e na nossa forma de estar, que nos levam a continuarmos a subjugar-nos a este bicho?
Como podemos abjurar um monstro por quem também somos responsáveis?
Que armas poderemos “inventar” para cortar as cabeças e os tentáculos deste bicho que nos sufoca e nos impede de exercer a nossa profissão?

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1 comentários:

paula montez disse...

DIA D: Que os professores possam decidir em plena consciência!
http://escolapublica2.blogspot.com/2008/04/dia-d-que-os-professores-possam-decidir.html