Não me apetece escrever. Portanto cá vai - e quem quiser que peça explicações.
A escola pública, dominada pelas "ciências da educação", esse misto de ocultismo e charlatanice, responde cada vez menos às necessidades da sociedade. No caso particular do ensino secundário e superior, necessariamente orientados para o ingresso no mundo do trabalho, há muito que os pais perceberam que os seus educandos não ficam suficientemente preparados. Enquanto isso, alguns vão enchendo os bolsos constituindo escolas privadas financiadas pelo Estado. E temos então esta pérola durkheimiana: os ricos formam-se bem e conseguem bons empregos; os pobres mal sabem ler e escrever e são conduzidos para empregos mal remunerados.
Por isso quero, no meu país, um ensino público de qualidade e exigente. Um ensino que dê respostas a todos. Um ensino que não nivele todos por baixo. Um ensino que promova a democracia.
É pedir muito?
23/07/2006
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10 comentários:
"Por isso quero, no meu país, um ensino público de qualidade e exigente. Um ensino que dê respostas a todos. Um ensino que não nivele todos por baixo. Um ensino que promova a democracia."
Neste país onde a mediocridade é rainha, parece-me que talvez seja pedir demasiado :(
Caro Prof24
o colega prova aqui que depressa e bem há pouco quem:
parte dum conjunto de mitos que considero não fundados mas que de muito batidos na comunicação social adquirem estatuto de verdades. São eles:
-a escola pública está dominada pelas CE;
-a escola responde cada vez menos às necessidades da sociedade;
-o ensino sec e superior devem estar necessáriamente orientados para o mercado de trabalho;
-os alunos estão cada vez menos preparados.
-os ricos obtém bons empregos por se formarem bem;
-os pobres vão para empregos mal remunerados por estarem mal formados.
-Faltou o mito de que a má formação escolar é que promove o desemprego. Ou, que a escola é que cria emprego.
Pelo contrário subscrevo totalmente o seu último parágrafo e a frase em que diz "alguns vão enchendo os bolsos constituindo escolas privadas financiadas pelo Estado."
Explicar o porquê destas minhas afirmações fica para outra oportunidade, pois tal como o colega, também não me apetece escrever muito.
Um abraço para si e para todos os profs contratados e desempregados, que são uma das provas que o nosso sistema de ensino já forma bem demais para as necessidades da sociedade que temos.
Cá espero, sinceramente, pela demonstração de que são mesmo mitos. Estou empenhado em mostrar-lhe exactamente o contrário, mas se me convencer terei todo o gosto em aprender alguma coisa.
Um abraço também para si, agradecendo o espírito aberto e frontal com que postou neste blog.
Caro colega o assunto é difícil mas penso que vale a pena discutir:
1.º- Nas nossas escolas o ensino é baseado muitas vezes nos métodos expositivos, por vezes expositivo melhorado, como alguns lhe chamam. Isso é natural pois métodos activos, construivistas como agora lhes chamam as "ciências da educação" não são compatíveis com turmas enormes e heterogéneas como as que temos todos os dias à nossa frente. Ora as "teorias" das ciências da educação, e algumas não passam de más teorias como também existem noutras áreas científicas, não têm dominado as nossas práticas nas escolas. Os discursos talvez sejam afectados por elas mas as práticas reais não. Daí ter discordado de si. Também não concordo que o colega qualifique de ocultistas e charlatãs as ciências da Ed em geral. É uma generalização incorrecta a meu ver, que mete no mesmo saco tudo. Será que a Educação é "doméstica" ou fácil demais para que as ciências não sejam necessárias para desocultarem os seus mecanismos menos visíveis? Acho que a Educação é campo de processos complexos que só as ciências poderão contribuir para os fazerem conhecer e melhorar as suas práticas. Será um processo pedagógico menos cientificável ou merecedor de conhecimento científico do que um mecanismo físico?
2.º Educação como resposta à sociedade. Neste momento a educação para ser verdadeiramente educativa, democrática como o colega diz, deveria responder disfuncionalmente à sociedade que temos. A nossa sociedade actual é profundamente desigual e promove activamente, através de muitos meios extraescolares a desigualdade. A igualdade de acesso e sucesso na escola é uma intenção discursiva profundamente desmentida pela realidade. As nossas escolas, basicamente, transformam desigualdades de base que as crianças trazem para dentro dela, em desigualdades legitimadas à saída dela. A nossa escola actual não resolverá os problemas da sociedade pois está feita, na sua generalidade para reproduzir a hierarquia social e a hierarquia de competências que a sociedade tal como existe, necessita. Penso que, ao contrário do que se diz, uma das crises da nossa escola actual, portuguesa e não só,é uma crise de abundância de formação em relação às necessidades da nossa sociedade de mercado como é a nossa. Começa a formar-se gente com demasiada formação para as necessidades do mercado. Se se for confrontar a capacidade "produtiva" dos nossos sistemas de educação com as necessidades formativas das profissões do futuro, verifica-se que as pessoas que irão para as profissões tipo "hamburger jobs" estão demasiadamente formadas. Para a nossa sociedade dual o que é preciso, segundo os empregadores, é um sistema dual de formação: uma formação básica, curta e orientada directamente para o mercado de trabalho, para a maioria dos que vão aceder a empregos mal remunerados, de baixo nível. Uma formação de alto nível de especialização para alguns que também serão precisos e nada mais. Dar uma formação para a cidadania e de alto nível de qualificação em áreas humanísticas ou científicas a gente que depois será explorada em empregos de necessidade de formação reduzida é deitar dinheiro fora e criar necessidades culturais e visões do mundo que estão longe de interessar a quem manda na nossa sociedade.
A relação entre escola e sociedade é fundamental para compreender a actual crise. Conhecer a sociedade, como ela é, é fundamental. É importantíssimo, ler as intenções reais que subjazem aos discursos de alguns poderosos, quando eles enviam para a escola responsabilidades que a escola, simplesmente não pode nem deve ter.
A escola só se democratizará verdadeiramente quando na sociedade se encetarem processos de democratização. A escola só formará realmente indivíduos responsáveis, solidários, críticos quando na sociedade essas qualidades forem realmente solicitadas. Actualmente o que a sociedade pede aos indivíduos é algo de profundamente antidemocrático: é que entrem numa selva competitiva em que muitos estão condenados ao desemprego, outros a empregos precários e de baixo nível. É a visao e a prática de uma sociedade assim que cria dificuldades insuperáveis a uma escola que se queira democrática e de qualidade para todos. Para mudar a escola verdadeiramente a sociedade terá de ser mudada concomitantemente.
Outras questões ficarão para uma próxima oportunidade.
Compreendo a posição do colega Henrique Santos. E agradeço-lhe ter-me ajudado a formular algo que sinto mas que ainda não tinha conseguido pôr claramente em palavras: é que nós lutamos constantemente para que a escola faça algo melhor do que a sociedade que temos. Mas a verdade é que somos um reflexo dessa mesma sociedade, ou, noutras palavras, REPRODUZIMO-LA. Mas todos - a começar, se calhar, por NÓS - culpam a escola pelo facto de o rei ir nu... Clarificar este imbroglio é capaz de ser algo importante mesmo!... Era capaz de ser uma questão pertinente para as ciências da educação!... ;)
Há ainda outra coisa que esquecemos facilmente: é que as crianças dos meios desfavorecidos se calhar só precisavam de COMER BEM para terem melhores condições de aprendizagem. Não precisariam de currículos alternativos (o que quer que isso signifique!) e muito menos de serem tratadas como coitadinhas-destituídas-mas-não-têm-culpa: precisam apenas de começar por se alimentar de acordo com as necessidades do ser humano que são. Lá está, é um dos tais casos: contra a fome, não são precisas estratégias pedagógicas, mas sim COMIDA! Cada coisa em su sitio!
Concordo com o colega anterior.
Desde há mais de 30 anos que se sabe que as crianças provenientes dos meios populares são as que têm mais insucesso escolar, nos vários modos em que se pode definir este insucesso escolar.
Quando se fazem discursos gerais sobre o insucesso e abandono escolar muito grande, (como é o caso da nossa ministra em Portugal, mas não só), está a esquecer-se o carácter socialmente determinado deste insucesso e abandono. Parece que todas as crianças e jovens portuguesas estão sujeitas da mesma maneira a esta praga que caiu sobre nós. Esta é uma maneira distorcida de ver as coisas e de escamotear os verdadeiros problemas. Em Portugal não há estatísticas que nos mostrem a incidência de insucesso escolar em função dos estratos sociais. Se houvesse com certeza demonstraria que ele recai em grande parte sobre os filhos das classes populares.
Essa constatação é importante para demonstrar a injustiça da nossa sociedade e do nosso sistema de ensino, mas não chega. é preciso saber porque é que isso acontece.
Ora em primeiro lugar é óbvio que as crianças quando chegam às portas da escolas não chegam lá com igualdade de oportunidades: problemas de alimentação, de alojamento, de acompanhamento familiar, etc, fazem com que alguns estejam em desvantagem relativamente a outros. Esses problemas não deveria caber à escola resolver. Terão a ver com políticas sociais gerais.
De qualquer forma dentro da própria escola, umas crianças têm mais insucesso do que outras e verifica-se que esse insucesso está correlacionado maciçamente com as origens sociais. Então é preciso procurar o que dentro das escolas contribui para que desigualdades de origem se transformem em desigualdades de resultados. Saber porque é que uns têm sucesso e outros não têm. Várias hipóteses têm sido apontadas no tempo: 1.º a teoria dos dons. Os inteligentes ou os mais esforçados é que têm sucesso. Só que então questiona-se como é que a inteligência cai quase toda nos filhos dos bem colocados socialmente?
Outra hipótese, foi a da desvantagem sóciocultural. Esta teoria colocava a relação entre a escola e a situação familiar. E a culpa era colocada em cima das famílias. Deixava tansparecer no entanto um fatalismo social (ao contrário do fatalismo biológico da teoria dos dons) que não era apropriado para que as escolas e professores tomassem em mãos a mudança da situação dos alunos.
Outras hipóteses surgiram que colocaram na própria instituição escolar as razões para que o insucesso fosse desigualmente istribuído pelos diferentes estratos sociais.
Muitas vezes esquecemos que os nossos jovens não têm as mesmas perspectivas de vida. Como é diferente um filho de operários não qualificados desempregados e um filho de quadros superiores em termos de perspectivas de futuro. Isso reflecte-se na forma como encaram negativa ou positivamente a escola.
Enfim. As razões para o insucesso maciço de alguns são variadas. Começam na desigualdade de condições de que os alunos disfrutam fora da escola, mesmo antes de nela entrarem e continuam dentro dela.
Há livros muito interessantes que estudam estas questões de uma forma prática e sem jargão.
Um dos autores em Portugal que mais avançou nestas questões foi Rui Grácio. Nos seus livros ou nas suas Obras Completas da Gulbenkian encontram-se muitos artigos sobre esta temática.
Um site que recomendo para quem domina a língua francesa é o site:
http://www.ecoledemocratique.org/
nele ncontram-se muitos artigos (e propostas de livros) sobre a desigualdade escolar, as suas causas e propostas para uma educação democrática.
1.Sou professora.
2.Admiro o trabalho deste Ministério da Educação.
3.Lamento a falta de urbanidade assim como de seriedade das criticas formuladas à Sra. Ministra por parte de alguns colegas.
4.Acredito sinceramente, porque sei do que falo, que esses colegas apenas têm raiva à ministra porque ela os mandou trabalhar mais e melhor.(Foi vergonhosa a reação às aulas de substituição, uma figura praticada pelos colégios privados com todo o sucesso!)
5. Acho que toda a nossa classe tem responsabilidades nos resultados dos alunos.
6. Liguem menos aos sindicatos (eles nem leccionam) e oiçam mais mães como a que encontrei em http://educare.blogs.sapo.pt/
7. Venha a avaliação dos professores feita por elementos externos, pois há muito que merecem é ir para o olho da rua!(os das baixas fraudulentas, por exemplo)
8. Quando se exprimem em publico na qualidade de professores, é toda a classe que põem em causa...por isso, tenham vergonha.
9. Os que se enganaram na vocação - mudem de profissão!
Henrique Santos: perdoe-me a demora mas estou indisponível. Respondo-lhe na próxima semana.
Joana: não me enganei na vocação, mas estou a mudar de profissão. Será que isso significa alguma coisa?
Cara professora Joana
pode crer que há professores que trabalham e trabalhavam muito antes desta Ministra aparecer, e de excelente qualidade, que têm razões para estar contra, globalmente, as medidas do Ministério da Educação.
A forma insultuosa como o Ministério tem vindo a denegrir os professores ao longo de ano e meio e as propostas de alteração ao Estatuto da Carreira Docente são motivos mais do que suficientes para os professores estarem contra esta Ministra.
Ora vamos lá por partes:
Em primeiro lugar, de que falamos quando discutimos o "eduquês"?
Já toda a gente sabe que a expressão nasceu de um desabafo de Marçal Grilo, designando uma linguagem própria muito utilizada pelos especialistas em educação. Para simplificar, digamos que o eduquês é o "espantalho" ou a "máscara" obviamente pejorativa pela qual designamos as ciências da educação. Todas as ciências da educação? Não. Apenas aquelas pedagogias que Nuno Crato designou, quanto a mim bem, como pedagogias românticas e construtivistas. Podemos fazer recuar esse romantismo pedagógico a Rousseau ou mesmo a Sócrates.
Parece-me que o "eduquês" é mais a depreciação da "pedagogia romântica" do que da didáctica. Ou seja, as opções pedagógicas estruturantes parecem-me mais dominadas pelo eduquês do que a didáctica efectiva na sala de aula. Mas tentarei ser breve.
1. "a escola pública está dominada pelas CE".
Parece-me claro: os ministros e secretários e estado apoiam-se em supostos estudops de supostos especialistas em ciências da educação; os professores são formados por mestres e doutores em ciências da educação; e as escolas superiores de educação têm um peso inegável na formação de professores em Portugal.
2. "a escola responde cada vez menos às necessidades da sociedade."
Ao nível do ensino básico, sim, porque efectivamente os pais têm necessidade de uma escola a tempo inteiro que os substitua na sua ausência. E isso é mais preocupante para aqueles que dispõem de menos recursos financeiros. Ao nível do ensino secundário, também, mas por outros motivos: os empregadores não parecem particularmente satisfeitos com a qualidade da mão-de-obra que lhes chega às mãos -- e digo isso em função da experiência que tenho do ensino secundário e do ensino profissional.
3. o ensino sec e superior devem estar necessáriamente orientados para o mercado de trabalho;
Não só, mas também. Mas não afirmei a exclusividade dessa formação. Para que me faça entender melhor: faz-me cnfusão que os aliunos não tenham no secundário disciplinas de FORMAÇÃO como Artes, Línguas, Música, Formação Cívica. Pelo contrário, abundam disciplinas eventualmente demasiado técnicas, tecnológicas ou, se quisermos, neo-liberais.
4. os alunos estão cada vez menos preparados.
É o que me dizem as entidades empregadoras dos cursos profissionais por onde andei. Quanto aos do secundário geral, nada há a declarar, dada a sua orientação evidente para o superior. Aliás, não é por isso que se acusa o secundário de "falta de identidade"?
5. os ricos obtém bons empregos por se formarem bem;
6. os pobres vão para empregos mal remunerados por estarem mal formados.
Não disponho de dados estatísticos. Mas não vejo muitas pessoas oriundas de classes sociais mais humildes a chegar a altos cargos. Basta olhar para o BES, para o Governo, para as administrações das maiores empresas. Será mesmo um mito? Veja o que diz J.P. Serralheiro em http://www.apagina.pt/EdiPDF/aPagina154Mar2006.pdf : "Os ricos aprendem a tocar violino, os outros a dar pancada num tambor"
7. Faltou o mito de que a má formação escolar é que promove o desemprego. Ou, que a escola é que cria emprego.
E não deve a escola proporcionar perspectivas de emprego aos seus estudantes? Não deveria, pela inversa, evitar situações enganosas como a formação de professores em excesso que poderá levar à existência de 95 mil professores em excesso em 2020, a crer no estudo publicado no mesmo link do ponto anterior?
Cumprimentos cordiais,
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