Do que não precisamos...
Acabei de ouvir o Mário Nogueira na 2 e gostei.
No entanto há uma pergunta recorrente a que eu não vejo dar a resposta que explique as nossas razões. Essa pergunta tem a ver com a recusa das quotas e do espartilho da carreira.
Passam o tempo a comparar-nos com outras carreiras, com a progressão a que estão sujeitas, com a impossibilidade de todos atingirem o topo. Comparam a nossa carreira com a carreira militar, com a carreira dos médicos, e agora até com as outras carreiras da FP. (até já nos compararam a vendedores!!!!)
E sobre esta comparação não temos sido felizes na contestação da igualdade de situações.
Quer-me parecer que deveríamos explicar a estes srs que todas as carreiras à excepção da carreira de professores são de progressão vertical. A nossa é diferente… é de progressão horizontal.
Qual é a diferença?
Nas carreiras de progressão vertical as tarefas vão-se tornando diferentes e específicas conforme se vai progredindo. São, todas elas, carreiras em que existe uma cadeia de comando, em que cada “posto” chefia, com todas as implicações que daí advêm, o “posto” abaixo, pelo qual é responsável e responde perante o “posto” acima. A razão para nem todos poderem progredir prende-se com a existência de uma estrutura piramidal, em que 1 chefia 2, que chefiam 4, que chefiam 8, etc… Em cada patamar existem funções diferenciadas… não continuando todos a desempenhar a mesma função que no patamar anterior. E em cada patamar vão existindo cada vez menos “funcionários” já que se vai entrando nos patamares das chefias. E para “chefes”, “subchefes”, etc., são necessárias cotas. Estas são as características de uma carreira de progressão vertical.
Na única carreira de progressão horizontal que existe, a dos professores, nada daquilo se passa. Todos desempenhamos, desde o princípio até ao fim, a mesma função básica… somos professores e damos aulas (e ainda bem!). Para além das aulas, todos desempenhamos, em pé de igualdade, as mesmas funções, fazendo todos os outros serviços existentes nas escolas, quer se prendam com as actividades que foram recentemente adstritas à componente não lectiva, quer se prendam com as burocracias existentes, quer ainda com os denominados cargos existentes. Acrescente-se o facto de considerarem que quanto mais “acima” se está menos respeito se merece já que como menos carga lectiva se tem mais se serve para “pau para toda a obra” – para estes sobraram, para encher os tempos não lectivos, as substituições e as tarefas similares. Estes tempos não foram destinados à produção de trabalho que a experiência acumulada poderia produzir, mas sim a suprir as faltas de condições existentes nas escolas. Não há diferenciação de tarefas … e não é a atribuição de cargos de coordenação, apenas aos futuros professores titulares, que vai fazer essa diferenciação. Estes cargos não implicam uma cadeia de comando… não são cargos de chefia (mesmo que daí advenha a responsabilidade de avaliar os colegas. Estes cargos não são mais do que cargos de coordenação e orientação do trabalho de um grupo. Todos os professores que tenham estes cargos, continuam a dar aulas… e por força do estatuto que nos querem impor, estes professores aumentarão ainda a sua carga lectiva. Não há portanto nada de similar com uma carreira de progressão vertical. Os patamares são horizontais, não em degraus de uma escala.
Há razão para haver avaliação para se progredir na carreira porque não há profissão que resista a um patamar único já que isso desmotiva. Há razão para haver uma avaliação exigente, centrada em parâmetros de profissionalismo, de competência e de formação, para que se possa progredir entre os diversos patamares. Não há razão para que numa carreira com estas características não possam ser todos excelentes, já que o que se pretende, exactamente, é que todos os professores sejam os melhores. Não há razão para que meia dúzia estejam “no topo” e a outra dúzia não possa lá estar já que não desempenham funções, diferenciadas o suficiente, para o justificar.
f... (professora no 10º escalão… o que quer dizer que não está a defender nenhum tacho, mas sim uma causa justa)
4 comentários:
Pois é, explica-lhes lá isso . Acho que todos têm um problema de literacia... Mas começa pela Sra. Ministra . Alguém lhe meteu aquilo na cabeça ... Foi na Finlândia?
Caro colegas. O facto da carreira de professores não ter quotas tem duas razões:
1- a primeira é porque a carreira de soldado raso não tem escalões. A função é idênctica, as habilitações são idênticas, os diveres e direitos são os mesmos. Sendo uma carreira onde todos podem desempenhar cargos e etc.. não faz sentido que nem todos subam. Isto tem a ver com uma visão mais democrática da organização escolar, ou mais empresarial como nos querem agora vender.
2- Porque na altura de negociação dos actual ECD foi consensual que o Estado não estava em condições de remunerar os seus melhores quadros (licenciados), ao nível do privado, o que ainda hoje se mantém. Por isso a carreira tem também esta visão de justiça para com os professores, que atingem pela antiguidade, aquilo que não lhes é dado por direito como seria desejável. Qualquer funcionário de um banco com o 12º ano ganha mais que um professor.
Portanto defender este ECD não é só uma questão de visão da escola e da sua organização, mas também uma questão de simples justiça.
Estes e outros desabafos no meu novo e modesto blog: http://escolaescola.blogspot.com/
isso dos Bancos é chão que já deu uvas! Hoje já não é assim!
bom mesmo, é Gilmar, que essa hora tá com o bolço cheio e a cueca tambem...
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