09/06/2007

A ministra eduquesa

Já por mais de uma vez afirmei que nunca nenhum outro ministro da educação esteve tão claramente ao lado do pensamento pós-modernaço das teorias vulgarmente associadas ao “eduquês” (seja lá o que isso for). Infelizmente, numa cobarde demonstração de renúncia ao debate livre de preconceitos, os meus fascinantes colegas de trabalho que obtêm orgasmos intelectuais à custa da leitura de imbecilidades que deveriam fazer corar de vergonha qualquer relapso mental, nunca tiveram um assomo de dignidade para dizer o que quer que fosse — e não é na internet que o farão, com certeza.

O facto é que tenho aqui em casa, por manifesta falta de lembrança de o usar como fonte de combustível no fogão de sala, um daqueles livrinhos típicos do “pensamento” eduquês: “Projecto Educativo”, de A. Carvalho e F. Diogo, edições Afrontamento, com o altíssmo patrocínio do Miistério da Educação, na altura liderado por alguém que, se tivesse polegar oponível, teria sido um excelente escritor de historinhas.

Reza assim:

“A evolução, nos últimos anos, do Estado-Providência para um Estado que se anuncia como catalizador das iniciativas locais conduz a uma cada vez maior transformação da concepção escola. Do núcleo professor-aluno passa-se a um espaço comunitário, envolvendo todos os actores que nela interaccionam. De sistema fechado passa-se ao conceito de comunidade educativa onde muros e fronteiras se esbatem, ligadas a outras comunidades (familiares, recreativas, económicas, etc.). (…) Esta visão de uma escola de interesse público é compatível com uma concepção de escola que tem como função participar no alargamento e aprofundamento da educação fundamental, não ignorando a sua relação com a comunidade envolvente que será também agente educativo.”

Ora muito bem. Traga-se lá a comunidade para dentro da Escola e institua-se o Encarregado de Educação como “agente de ensino”: passa ele a avaliar os professores.

Mas vem isto a propósito das palavras da senhora ministra, hoje, à TSF:

Para Maria de Lurdes Rodrigues a transferência de competências de matérias de educação para as autarquias vai permitir fazer mais e melhor, conseguido melhor qualidade.

A governante acrescentou que é sempre possível efectuar a transferência do pessoal docente se for essa a forma de conseguir «uma educação de melhor qualidade e mais eficiente». No que respeita à possibilidade dos professores do Ensino Básico serem também transferidos para as autarquias, Maria de Lurdes Rodrigues garantiu que esta é uma possibilidade que não está a ser equacionada nesta altura.


Digam lá agora se há ministra mais neoliberal e mais eduquesa do que esta.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ó senhores ouvintes!, como se dizia na minha menicce: esta equipa ministerial parece saída de uma qualquer twilight zone!

Anónimo disse...

Refrão eduquês


E se eles querem ensinar com dignidade- nós pimba, nós pimba!

E se reclamam de avaliações com parcialidade - nós pimba, nós pimba!



(entoe-se com a melodia da nacional-canção)