20/11/2008

Imagine, Srª Ministra, imagine...

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Jacques Louis David
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Infelizmente a Sr. Ministra ainda não percebeu o que pede aos professores!

Vou tentar explicar-lhe, utilizando-a como exemplo.

O que a Sr. Ministra nos pede é qualquer coisa como isto:
Feito um plano de actividades do Governo, cada ministro tem que apresentar os objectivos individuais ao seu “chefe”.
Até aqui tudo bem; é lógico que cada um se proponha desenvolver isto ou aquilo (aliás, o seu parece ter sido a implementação da avaliação docente). O que já não é lógico é que o seu “chefe” a vá classificar, digo bem, classificar, atribuindo-lhe 3 pontos, 5 pontos, ou quaisquer outros pontos em função do que consegue fazer com esse objectivo. Está a ver… para mim o seu trabalho situa-se abaixo de zero, para o pai da nação só tem 3 pontos porque não está a conseguir prender-nos à sua decisão, para os seus pares, tem 10 pontos, está a conseguir desviar todas as atenções do não cumprimento de objectivos deles, para o seu chefe, tem 5 pontos pela atitude de teimosia, – 5 pontos por lhe estar a causar um grande rombo na futura contagem de votos, ficando portanto a zero e ainda -5 pontos por ter tido que sair em defesa dos seus objectivos.

.Como vê, para a mesma consecução de objectivos, cada um atribui os pontos que entende, conforme a percepção do valor que o objectivo e a sua acção para o desenvolver, tem em função do seu próprio conceito.
.O seu objectivo era uma acção específica! No entanto, como vê essa acção não pode ser mensurável. Não pode ser classificada linearmente porque não se trata de produzir x artefactos. É uma acção que envolve parâmetros não quantificáveis, que envolve contextos mutáveis, que envolve variáveis de todas as espécies e que, sobretudo, envolve "outros", com vontade própria, que por isso podem ou não contribuir para a consecução do seu objectivo .É este um dos nossos problemas. Sr.ª Ministra!
Como quantifica uma acção de escola que me proponho desenvolver? No ano passado, por exemplo, propus um projecto ao agrupamento – os jogos olímpicos (já era a 3ª edição, veja bem). Do projecto constavam várias itens, alguns dos quais de cooperação. O projecto foi aceite, com grande entusiasmo, no entanto, ao longo do ano, a cooperação não foi sendo a que poderia esperar aquando das “conversas” iniciais. O projecto correu bem, a festa final foi bonita, mas não tinha tudo o que eu tinha proposto. Como classifica isto? Como traduz isto em pontos? Que pontos me atribui a mim e que pontos atribui ao resto do grupo? Houve pessoas que gostaram muito, houve pessoas que acharam que se podia ter ido mais longe, houve pessoas que talvez não tenham gostado. É o chefe que tem que decidir. E se, apesar de todo o trabalho, o chefe até nem gosta daquele tipo de acção, porque lhe alterou a rotina do funcionamento habitual do agrupamento? Ou porque ele achou que distraiu as pessoas doutras “coisas” a que ele dá mais importância? E se o chefe prefere outro tipo de acções e acha que aquele tipo de trabalho nada tem a ver com o que ele gosta? E se o “chefe” não gosta de mim e, apesar da concretização do projecto ter sido um sucesso, ele descobre defeitos, ou decide que, como projecto comum que era, os “louros” podem ser atribuídos a outros, diminuindo ou mesmo anulando a minha acção?
.Pois, srª ministra! Isto é tudo muito subjectivo!
.Imagine, agora, srª ministra que a srª é a avaliadora aí do seu governo. Imagine que tem que avaliar os seus pares, por exemplo, os ministros Santos Silva, Mário Lino, Luís Amado (bem bastam estes… eu tenho 17!) e os seus Secretários de Estado. Para isso, depois de ter passado horas infindáveis em reuniões para elaborar umas grelhas de registo de itens em que vai ter que medir coisas como empenho, participação, conhecimento, cientificidade, etc, tem que ir assistir a reuniões de cada um deles, tem que analisar as suas propostas no contexto das propostas que efectuam para saber se estão em consonância com os pressupostos da planificação que fizeram, se estão em consonância com o programa do governo, se estão em consonância com o programa do partido. Tem que verificar se são adequadas à população a que se destinam, se são viáveis, se estão enquadradas com a realidade, se eles as expuseram de uma forma equilibrada, clara, perceptível a todos, se são cientificamente correctas. Tem que saber quantos dos destinatários as aceitam e desenvolvem, quantos abandonam o projecto, quantos são incapazes de o cumprir. Tem que analisar os meios de divulgação, ver se utilizam meios audiovisuais, meios tecnológicos de informação, se esses meios são atraentes, cativantes, produtores de mais adesões aos projectos. Tem que analisar a capacidade dos seus “avaliados” de interagir com os diferentes elementos presentes nas reuniões.

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Antes e depois de cada reunião, tem que conversar com os seus avaliados para saber o que vão fazer, o que foi feito, como acham que se “saíram”, se conseguiram o que se propunham, se não o conseguiram porquê; para lhes dizer que achava melhor que tivessem “ido” por aqui… ou por ali…, que talvez se tivessem utilizado “isto” ou “aquilo” tivessem “prendido” e/ou “convencido” melhor os seus interlocutores, etc. Tem que saber o que vai avaliar, penso eu… a não ser que, talvez siga o conselho que nos deram: se não for da sua área, observa apenas “o clima da reunião”.
A seguir, terá que ir, in loco, fazer a observação de 3 sessões práticas da implementação de acções que propuseram fazer e registar, mais uma vez, tudo o que observou.
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Depois disto, tem que fazer, nas tais grelhas, nas grelhas que foram aprovadas no início do processo, iguais para todos, independentemente da especificidade da sua área, o registo de tudo o que viu e “avaliou”, atribuindo classificações a cada item não esquecendo a sua infinita divisão em descritores.
Tem que classificar, cada um dos seus pares, e dos seus “quase” pares! Tem que classificar o Ministro que já foi Ministro do seu ministério e que agora tem a seu cargo os Assuntos Parlamentares. Tem que classificar o Ministro das obras Públicas. Tem que classificar o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Tem que classificar os seus Secretários.
Tem que classificar cada um dentro da área deles, área que não é a sua .
Tem que fazer isto várias vezes para cada um dos seus avaliados.
(E não se esqueça que alguém lhe está a fazer o mesmo!)
Diga-me, agora, quando tem tempo para “ministeriar” o seu ministério? (bem… se isto lhe tivesse acontecido, teria sido uma bênção para nós!)
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Ah! Mas isto ainda não está concluído!
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Chegou o final do ano! Entretanto o seu “chefe” teve que avaliar a prestação de cada um dos seus avaliados e a sua, e ainda as dos outros todos, avaliadores e avaliados! Teve que ver quantas vezes faltaram, mesmo quando estiveram doentes, quando foram a consultas médicas, quando o motorista apanhou trânsito e chegaram 5 minutos atrasados, etc; se conseguiram os objectivos a que se propuseram; se houve gente que tivesse abandonado os vossos projectos; como se processou a vossa relação com a comunidade; se apoiaram quem não vos percebia desenvolvendo acções de apoio individualizado para além do vosso horário de trabalho; etc.
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Agora, terá que fazer uma reunião conjunta, com o seu “chefe” e com cada um dos seus avaliados, para "apreciar" a ficha de auto-avaliação de cada um deles. Em seguida quer o seu chefe, quer a Srª Ministra terão que atribuir a classificação de cada um dos avaliados. Tudo isto depois de ter preenchido, nas inúmeras fichas que existem para registo dos resultados, as classificações, em pontos, de cada item que era obrigada a observar, mesmo que esses itens sejam completamente subjectivos, mesmo que nada tivessem a ver com a sua área específica de acção (tem, por exemplo, que classificar o projecto do aeroporto do ministro Mário Lino, analisando todos os itens do projecto – tipos de construção, materiais utilizados, adequação às necessidades dos utentes, ligação aos outros planos de intervenção local, verbas gastas, etc).
Feita a reunião de avaliadores, terão que chamar, novamente, cada avaliado para lhe dar conhecimento da classificação obtida. (Diga-me, Srª Ministra, conseguiu produzir mais algum trabalho, além do trabalho de andar a avaliar?)
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Imagine, agora, Srª Ministra, que para Ministros as quotas de Excelentes se traduzem em 1 (vocês nem 20 são... e este é o número necessário para que haja pelo menos 1 excelente!) e as quotas de Muito Bom em 4. Diga-me como as atribui? Diga-me onde e como se enquadra entre os seus pares? Diga-me, como na reunião de avaliadores, a Srª que é avaliadora, os outros avaliadores e o nosso 1º, avaliador chefe, vão "distribuir" os ministros pelas diferentes quotas. Lembre-se de que só há 1 Excelente!
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Diga-me, Srª Ministra, no seu entender (não no meu) acha que só há 1 Ministro Excelente? Acha que não, que todos o foram… ou que talvez haja alguns que tenham sido apenas Muito Bons. Pois é, Srª Ministra! Mas só há 1 lugar para 1 Excelente e para 4 Muito Bons! O resto terá que se ficar pelo Bom (já nem falo de Regulares e Insuficientes porque sei que acha que no seu governo não existe disso...).
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Está-me a dizer que uma escola e um governo são coisas completamente diferentes?!
Porquê, Srª Ministra? Não precisamos de saber qual o grau da vossa excelência, quais os produtores de boas práticas? Não precisamos que no governo seja diferenciado o mérito, para termos pontos de referência?
Diz-me que o governo é avaliado, todos os dias, pelo povo, porque o governo é avaliado em cada ciclo eleitoral, pelos eleitores.
E depois, Srª Ministra? Também nós, nas escolas, para além da nossa avaliação interna, somos avaliados todos os dias pelos pares, pelos funcionários, pelos alunos, pelos pais.
.No entanto, não é por isso, não é por já sermos sobejamente avaliados, que não queremos esta avaliação que nos quis oferecer. Não queremos esta avaliação porque não tem lógica, porque não serve para melhorarmos e porque não nos deixa trabalhar, como lhe mostrei que lhe aconteceria se aplicasse, a si e ao seu governo, o que nos quer aplicar a nós.

Nota: E nem falei das horas e horas perdidas na concepção dos instrumentos de registo (horas roubadas ao trabalho com alunos, horas roubadas ao trabalho de preparação das aulas, horas roubadas ao descanso). Instrumentos estes que irão ser demasiado diferentes de escola para escola, para um universo de pessoas que concorrem a um mesmo concurso e vão ser penalizadas ou beneficiadas de acordo com a população da sua escola e o número de elementos existentes em cada categoria a classificar.

17/11/2008

Vergonha, Srª Ministra?!

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Francisco Goya - Vergonha
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Vergonha, Srª Ministra?!
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Vergonha alterar um documento que as escolas e os professores, apesar de não concordarem tentaram implementar, reconhecendo na prática a sua quase impossibilidade de operacionalização e a sua inutilidade enquanto promotor de melhores práticas e de diferenciação de méritos?
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Vergonha, Srª Ministra, é não reconhecer que os professores que foram avaliados no ano passado o foram, única exclusivamente pelas faltas dadas, tendo sido classificados só por isso.
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Vergonha, Srª Ministra, é não querer reconhecer que os professores estão muito mais interessados na melhoria do sistema de ensino e no sucesso escolar dos alunos do que parece estar o seu ministério.
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Vergonha, Srª Ministra, é enganar, vilipendiar, difamar e destratar os profissionais sujeitos à sua tutela, utilizando, para isso, todos os meios à sua disposição: órgãos de comunicação social; distribuição de “cartilhas” aos militantes do partido do governo, para que estes catequizem os incautos; virar toda a opinião pública contra os professores através das mais torpes insinuações de falta de profissionalismo e contribuir com o desrespeito que mostrou para com os professores para o desrespeito dos alunos por esses mesmos professores.
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Vergonha, Srª Ministra, foi ter fundamentado toda a sua reforma na opinião de uma única pessoa que, no seu “parecer”, confessa não ter tido tempo de pesquisar e de se informar sobre os problemas existentes, resultando o seu trabalho, única e simplesmente, da sua opinião pessoal.
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Vergonha, Srª Ministra, é alterar ilegalmente um diploma legal alegando que o mesmo “clarifica de uma vez por todas", quando este não clarifica nada, mas altera significativamente a lei publicada. Vergonha é dar a entender que esta necessidade de “clarificação” resulta de uma má interpretação, da letra da lei, feita pelas escolas.
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Vergonha, Srª Ministra, foi a Srª e os Secretários de Estado terem assumido funções a insultar os professores, sem se terem dado ao trabalho de tentar perceber em que se fundamentavam os males do sistema que todos reconhecemos existir.
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Vergonha, Srª Ministra, foi não ter reconhecido o profissionalismo dos professores e as tentativas que todos faziam para equilibrar a sua prática em função das teorias e métodos de acção, completamente disparatados, emanados de um sucedâneo de ministérios da educação que mais não fizeram do que legislar para transformar as escolas em simples parques de recreio.
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Vergonha, Srª Ministra, deveria ter por tudo isto e não por emendar um erro.

14/11/2008

O pesadelo burocrático e a desobediência à lei

Aires de Almeida*

“O facto de os cidadãos estarem em geral dispostos a recorrer à desobediência civil justificada é um elemento de estabilidade numa sociedade bem ordenada, ou seja, quase justa”
John Rawls, Uma Teoria da Justiça

Tenho 48 anos e sou professor do ensino secundário há quase 26. Sou professor titular de Filosofia, não estou sindicalizado, não me recordo de ter faltado ao trabalho, mesmo em dias de greve, e não costumo participar em manifestações – nem sequer participei nas duas últimas grandes manifestações de professores, se bem que tenha pena de não o ter podido fazer. Nunca me passou pela cabeça ter outra actividade profissional, mesmo ganhando mais do que os 1850 euros que, após todos estes anos, recebo no final do mês.Sei que para ensinar bem os meus alunos tenho de continuar a estudar, a ler e a aprender. Como costuma dizer um amigo meu, Desidério Murcho, para se ensinar bem até à letra C é preciso dominar as matérias até pelo menos à letra M: é preciso um grande à vontade e um bom domínio do que se ensina para se antecipar dificuldades dos alunos, para se responder a dúvidas inesperadas, para se encontrar o exemplo certeiro, para indicar as leituras adequadas, etc. Isto exige uma grande preparação e uma actualização permanente do professor, além de um ambiente de trabalho tranquilo e estimulante. Até porque são as deficiências científicas que originam, na maior parte da vezes, as situações pedagogicamente mais desagradáveis. Infelizmente, os escassos estímulos que ainda poderiam existir nesse sentido parecem pertencer ao passado. As escolas transformaram-se, de há dois anos para cá, numa balbúrdia constante e num verdadeiro pesadelo burocrático em que ninguém parece entender-se. E, com muita tristeza minha, vejo os livros de filosofia que todas as semanas encomendo na Amazon ou outras livrarias acumular-se sem quase ter tempo para os folhear. Preparar aulas decentemente é algo que também deixei de fazer, caso contrário nem sequer vida familiar poderia ter. Não fosse o caso de os alunos estudarem por um manual que conheço de cor – porque sou um dos seus autores – e as aulas seriam um completo improviso. Comparar o que se tem passado nas escolas nos últimos dois anos com a barafunda gerada com o atraso da colocação de professores no tempo do ministro David Justino é como comparar um episódio infeliz com a própria infelicidade. E o ministro David Justino caiu por causa disso. Creio poder dizer, sem qualquer exagero nem arrogância, que conheço melhor do que a senhora ministra o que se passa nas escolas, pois há 25 anos que passo a maior parte da minha vida nelas. Ora, nunca, mas mesmo nunca, houve tanta confusão e um ambiente tão pouco adequado ao ensino e à aprendizagem como o que se verifica actualmente.Perguntar-se-á: o que ando então a fazer o tempo todo para deixar de preparar as minhas aulas como deve ser? A resposta poderia ser dada até pelo meu filho, apesar de ainda ser criança: além das aulas, passo os dias em reuniões intermináveis para entender o sentido do terrorismo legislativo com que se tolhem e intimidam os professores. Na verdade são muito mais as horas que tenho gasto a reunir por causa da avaliação do que com aulas. E o pior ainda nem sequer chegou. Como avaliador de oito colegas, terei de inventar mais 36 horas para assistir a aulas suas, além das reuniões preparatórias que tenho de fazer com cada um deles e dos quilos de papelada para preencher. De resto, na minha escola os professores irão passar o ano a assistir às aulas uns dos outros, pois somos 165 professores, o que dá cerca de 500 aulas assistidas por ano. Além disso, terei de preparar tudo para o meu avaliador – um colega de Economia que não tem culpa de nada e que fará certamente o seu melhor – poder assistir às minhas aulas de Filosofia.Que o novo modelo de avaliação é inútil e ineficaz já o provou definitivamente, sem o querer, a senhora ministra. Diz ela repetidamente que esta avaliação é absolutamente necessária para a qualidade do ensino e para a melhoria dos resultados. Porém, anunciou com grande pompa ao país que os resultados melhoraram no último ano, o que acabou por ser reforçado com a divulgação dos resultados dos exames nacionais. Só que esta apregoada melhoria da qualidade e dos resultados verificou-se ainda antes de o modelo de avaliação produzir qualquer efeito. Logo, fica provado que a avaliação não é uma condição necessária para a melhoria da qualidade e dos resultados. O que leva então a ministra a dizer que a avaliação é absolutamente necessária? Os responsáveis pelo actual ministério da educação parecem, talvez inconscientemente, querer pôr em prática o cenário tenebroso descrito por George Orwell em "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro", em que a catadupa de despachos, decretos regulamentares, documentos orientadores, ordens de serviço, instruções superiores, recomendações, etc., frequentemente incoerentes – vale a pena dizer que acumulo em casa mais de mil fotocópias sobre avaliação, que me foram entregues na escola –, são a tradução quase literal do "Big Brother is watching you" da 5 de Outubro. A obsessão do ministério por controlar tudo e todos até ao mais pequeno detalhe está bem patente no modelo de fichas de avaliação que impõe às escolas e aos professores (parece que a ideia é a de que, entre tanta coisa pedagogicamente inane, sempre há-de haver uns quantos aspectos em que o avaliado vai falhar, de modo a não atrapalhar as escassas cotas disponíveis para progressão na carreira). E o mais irónico é que, quando se encontram incoerências e impasses nas instruções oriundas do ministério, a ministra deixa o problema para as próprias escolas com o argumento de que lhes quer dar autonomia na construção dos seus instrumentos de avaliação. Não é, pois, surpreendente que os professores se sintam desorientados, cansados, chantageados e até insultados. Isso acaba naturalmente por se reflectir na sua prática lectiva e os alunos notam bem a diferença quando o professor dá as aulas cansado.Mas o pior de tudo é que o modelo de avaliação fabricado na 5 de Outubro não vai permitir distinguir os bons dos maus professores, ao contrário do que a senhora ministra alega. Talvez seja até pior do que a completa ausência de avaliação, premiando arbitrariamente alguns dos maus e castigando cegamente muitos dos bons. Se assim não fosse, que razões teriam os bons professores que desfilaram na manifestação de sábado para lá estarem? Ou será que os mais de cem mil são todos maus ou simplesmente estúpidos? Os professores sentem-se compreensivelmente ameaçados porque o modelo, além de burocrático, como convém ao Big Brother, obedece a uma espécie de pensamento único pedagógico: há um dogma pedagógico subjacente a que todos têm de aderir, tal como se emanasse do Ministério da Verdade orwelliano. Esse dogma é o da pedagogia do eduquês: são os resultados a qualquer preço, é a inovação a martelo, são as “estratégias de ensino-aprendizagem” como se o professor fosse o aprendiz (também o é, mas noutro sentido). Enfim, é a avaliação do portfólio e dossiê do professor para ver se ele tem o seu caderno diário em ordem, infantilizando uma actividade em que, pelo contrário, se exige autonomia e auto-confiança. De resto, não é preciso muita atenção para ser confrontado com essa novilíngua do eduquês que, de há muitos anos para cá, tem caracterizado o Ministério da Verdade. Só que agora passou a ter uma força imparável, pois vai ser a destreza no uso dessa novilíngua a determinar se o professor é dos bons ou dos maus. Esta é, sem dúvida, a avaliação do pior eduquês em todo o seu esplendor. É um enorme passo para a asfixia intelectual dos professores e para a sua menoridade profissional. E é a negação da desejável diversidade pedagógica, transformando os professores em meros instrumentos de uma cadeia de produção em série e impedindo os alunos de se enriquecer no contacto com diferentes estilos e metodologias. Mas o que realmente importa no desempenho do professor é, respeitando os alunos e os seus direitos, ensinar-lhes e ajudá-los a aprender o que é suposto aprenderem, recorrendo às concepções pedagógicas que muito bem se entender. É relativamente fácil apurar se o professor soube realmente ensinar e se os alunos conseguiram realmente aprender, independentemente da metodologia usada e das concepções pedagógicas em jogo, desde que os seus alunos realizem no final do percurso exames bem concebidos. E se se ponderarem os resultados dos exames comparando-os com a média de cada disciplina nas respectivas escolas, estamos muito próximos de um sistema de avaliação muito mais justo, simples, eficaz e dignificante para todos. Claro que para isso era preciso haver mais exames, além de melhores programas e de mais formação de professores, coisas que não parecem interessar minimamente a senhora ministra. Assim, tudo indica que quando a senhora ministra afirma totalitariamente que ou se aplica o seu modelo ou não há outro, só pode estar a fazer chantagem, o termo que utiliza para descrever o comportamento dos sindicatos junto dos professores, como se os professores fossem idiotas. A verdade é que neste momento já não são os sindicatos a comandar os professores, mas os professores a empurrar os sindicatos, de tal modo que os próprios sindicatos já não estão em condições de cumprir o acordo assinado há meses com o ministério. De nada serve, portanto, ao primeiro-ministro apontar o dedo ao incumprimento dos sindicatos. Se estes tivessem representado devidamente os professores, nunca teriam de voltar agora atrás com a palavra. Por isso, não vale a pena recorrer a fantasias e negar uma realidade muito crua: a insistência do governo no actual modelo está a degradar como nunca o sistema educativo nacional e a pôr em causa o normal funcionamento das escolas. E esta ministra ficará seguramente na história como a maior desgraça que se abateu nos últimos tempos sobre a educação em Portugal. Isso só ainda não é mais notório porque os efeitos das políticas educativas só se tornam evidentes passados vários anos. Por isso é arrepiante ver a senhora ministra insistir – contra tudo e contra todos os que, em Portugal, já alguma vez revelaram interesse pelas questões da educação – numa teimosia própria de mentes obstinadas e dogmáticas. E é também por isso um imperativo de justiça desobedecer a esta lei arbitrária e injusta, sobre uma questão de tão grande importância. Chama-se a isto desobediência civil e foi isso que fizeram em diferentes circunstâncias Gandi, Luther King, Bertrand Russell e muitas das referências cívicas e culturais do nosso mundo. É ilegítimo não cumprir a lei, diz a senhora ministra sem se aperceber que está a ser redundante. Pois é, é ilegítimo não obedecer à senhora ministra, pois foi ela que fez a lei. Mas terá mesmo de ser.

*Professor titular de Filosofia da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão

A NOVA FORMA DE REPRESSÃO

ou os Paradoxos da Política Educativa

Paradoxo número um

O Estatuto da Carreira Docente (ECD) dicotomizou os professores em duas categorias: titulares e não titulares. Sob esta nomenclatura opera uma falsa hierarquização: serão os não titulares menos preparados, do ponto de vista científico-pedagógico, do que os titulares?
No Decreto-Lei 200/2007, que regulamentou o primeiro concurso de acesso à categoria de professor titular, pode ler-se “a criação da categoria de professor titular tem como objectivo dotar as escolas de um corpo docente altamente qualificado, com mais experiência e formação (...)”.
Como compatibilizar a “experiência” profissional do professor com o facto de, para efeitos do referido concurso, terem sido apenas validados os últimos sete anos de experiência profissional? Por um lado, a idade surge como fonte de experiência e de formação; por outro, a história profissional que antecede o período mencionado foi reduzida a zero.

Paradoxo número dois

O novo modelo de Avaliação de Desempenho Docente (ADD) , não obstante a sua simplificação apressada, é medíocre.
Em primeiro lugar, dado o número excessivo de instrumentos de registo, a saber: grelha de avaliação do desempenho pelo Presidente do Conselho Executivo/Director; grelha de avaliação efectuada pelo Coordenador do Departamento; grelha de avaliação efectuada pelo professor Avaliador.
Do seu cariz excessivamente burocrático, infere-se a sua falta de exequibilidade.
Segundo, porque estes instrumentos de registo denotam falta de rigor, porquanto como é possível que numa turma de 25-30 alunos e durante uma aula de 90 minutos, um professor avaliador classifique o professor avaliado, por exemplo no parâmetro da “promoção de trabalho autónomo” ou no da “concessão de iguais oportunidades de participação” dos alunos?! A partir de que número é considerada a igualdade de oportunidades e a participação aceitável?
O número de alunos por turma é variável e eles possuem traços de personalidade heterógeneos: uns são tímidos, outros mais extrovertidos, etc.
Instrumentos de registo pouco rigorosos poderão avaliar com rigor?
A desmesura burocrática é proporcional à ineficácia.


Paradoxo número três

A Srª Ministra alega que muitas escolas já procederam à implementação do modelo de ADD. Não são muitas, são muito poucas. E nessas, houve falhas na rede de comunicação (vertical) que mobiliza. Caso contrário, como tornar intelígivel que algumas escolas tivessem avançado com a avaliação dos professores e a maioria não? Que no seio da mesma escola uns departamentos avancem e outros não?
Sim, as directrizes do ministério são incumpridas em muitas escolas do País.
Onde estarão colocados os 120 000 professores, presentes na manifestação do passado dia 8 em Lisboa? Em poucas, pouquíssimas escolas?!
Não é admissível o argumento segundo o qual estes professores foram manipulados por organismos sindicais, partidos da oposição, etc.
Sei pensar autonomamente e estive presente na referida manifestação!
Por outro lado, inverter o argumento dizendo que constituímos agentes de manipulação e de chantagem é, como política, não compreender um dos mais importantes pilares da Democracia: o direito à contestação. Neste caso, a uma política educativa lúcida e autêntica.
É curioso constatar que a obsessão pela quantificação sirva os propósitos do Ministério da Educação nalguns casos como, por exemplo, para avaliar a percentagem de aprovação dos alunos, do 9º ano, nos exames nacionais, para discriminar escolas mediante um ranking cujas variáveis são díspares (não têm todas os mesmos exames, os mesmos níveis, o mesmo número de alunos inscritos) e seja irrelevante quando se trata de uma manifestação que envolve 120 000 professores!

Paradoxo número quatro

Eu e outros colegas fomos obrigados, em Outubro, a elaborar as taxas de sucesso e de abandono para o presente ano lectivo!
Aqui a política dos números é, novamente, valorizada.
Pergunto: Poderei pronunciar-me do ponto de vista psico-cognitivo sobre alunos que desconheço? Sobre quantos abandonarão a escola? Poderei prever e controlar as variáveis inerentes ao processo de ensino-aprendizagem antes deste ocorrer?
Os alunos não são meros produtos, resultados e, como tal, não podem ser coisificados, enformados, deformados, enclausurados em taxas e taxinhas pré-fixadas!
Não me revejo na política do facilitismo, do “laissez faire, laissez passer”. Pugno, como professora-educadora, pela qualidade dos conteúdos, dos materiais e recursos utilizados, pelas pedagogias viabilizadas nas minhas aulas.
Não fiquei indiferente ao facto dos alunos do 9º ano – e sei bem do que falo porque o meu filho frequentou-o no ano transacto –, terem ficado muito mais “inteligentes” no exame nacional da disciplina de matemática. Não poderei esquecer que o elemento decisivo, que se repercutiu nestes resultados, foi o baixo nível de competências exigidas para a resolução dos problemas propostos.
O facilitismo é inversamente proporcional à qualidade do ensino-aprendizagem.

Paradoxo número cinco

E que dizer das quotas para as classificações agregadas a este modelo de ADD?
Sei o que valho como docente, sei o nível de conhecimentos que possuo na minha área. Terei que me submeter a este regime de classificações, também elas pré-anunciadas? Quem manipula quem?
Imaginem que possuo uma turma com dois alunos excelentes e que lhes digo: “x terá a classificação final de 19 valores e y não”. O que sentiriam eles? E os seus encarregados de educação?
Defraudados.
Este sistema de quotas é um mecanismo de distorção da avaliação. E um modelo de ADD que não admite rigor e se furta à autenticidade dos resultados servirá para avaliar? Terá alguma fecundidade?

Paradoxo final

Sou a favor da A.D.D. Estou é contra este modelo. Se pudesse classificar este e o anterior modelo diria, apenas, que o Relatório de reflexão Crítica de Desempenho era uma farsa, sobretudo devido à inoperância dos órgãos a quem competia tornar credível todo esse processo de avalição e este, que se pretende implementar, uma farsa hiperbolizada.
Sou professora/educadora e a minha primacial tarefa é ensinar/educar com qualidade, desenvolvendo nos alunos o gosto pelo Saber, pelo Fazer e pelo Ser. Serem Pessoas dotadas, no futuro, de competências indispensáveis ao exercício de uma cidadania esclarecida, activa e interventiva. O legado de um professor é re-actualizado ao longo de cada minuto das suas existências.
Os meus alunos estão e estarão sempre em primeiro lugar.
Eis uma Política Educativa repleta de paradoxos, implementando o absurdo. Há, todavia, um sentido oculto no des-sentido: o autismo político instituiu-se como forma de repressão e a renúncia ao princípio da discutibilidade a morte da Democracia.

Paradoxo mortal.



Elsa Cerqueira,
Professora de Filosofia




Nota: Sugiro que todos os que queiram enveredar pela carreira política, bem como todos os profissionais da política, leiam a obra “Górgias” de Platão e se submetam a um exame teórico-prático. Talvez percebessem porque é que a retórica que praticam não passa de “um simulacro de uma parte da política” e se consciencializassem do quão impreparados estão para o exercício da (actividade) política.

01/11/2008

Temos problemas de classe para resolver, ou não?


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(Foto: Filipe Caetano, PortugalDiario.pt)
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Porque não nos questionamos todos sobre as culpas que temos no cartório?!

Os sindicatos assinaram o memorando? Assinaram! Não concordei com parte desse acordo? Não concordei! Mas compreendo a posição dos sindicatos.

Há muita gente desiludida com a actividade sindical? Há!

Mas onde estão as pessoas quando os sindicatos precisam de uma rectaguarda de apoio? Onde estão as pessoas quando eles precisam que as suas posições tenham a força dada pela nossa força?
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Elegemos os órgãos sindicais ou tornamo-nos sócios dos sindicatos, como o fazemos em relação às Associações Profissionais, e depois esperamos que nos resolvam os problemas todos sem nos lembrarmos de lhes dar apoio, de participar por dentro com a nossa opinião e a nossa força. A maioria nem sequer participa nas reuniões sindicais na sua escola, nem emite qualquer opinião até se sentir prejudicado... e, nesta altura, apenas parte para a crítica "externa", do "não nos ligam nenhuma", do não fazem nada". Normalmente, só se manifesta quando o problema é pessoal. Todos os problemas relativos aos diversos sectores da classe são sistematicamente esquecidos por quem os já tem resolvidos. Não há uma consciência de classe. Não há um apoio a lutas que não digam respeito ao próprio.
O problema é que, tal como em altura de tempestades, só nos lembramos de Santa Bárbara quando há trovões. Só nos lembramos dos sindicatos em momentos de crise. Durante o resto do tempo abandonamo-los à sua sorte, não lhes damos apoio, deixamo-los decidir sozinhos. Isso aconteceu nos últimos anos. Houve um ligeiro tempo de bonança em que não fomos grandemente atacados, grandemente prejudicados… acomodámo-nos e deixámos os sindicatos sozinhos… também um pouco acomodados pela falta de grandes lutas, diga-se em abono da verdade…. Quando, de repente, chegou a crise, iniciada com o concurso de 2004, aqui d`el rei, “os sindicatos não fizeram, os sindicatos não aconteceram…
Os sindicatos somos nós … mas nunca dizemos “nós não fizemos, nós não acontecemos”. Depois queixamo-nos deles porque se sentiram sozinhos e agiram quase sozinhos, porque tentaram mobilizar-nos mas nós estávamos amuados e fizemos beicinho e dissemos “agora não brincamos”. Pois é … talvez nos falte a todos uma consciência política, uma consciência de classe, uma consciência de direitos, uma consciência dos deveres que temos para connosco enquanto profissionais. Sim, porque ser profissional não é, apenas, exercer a profissão no nosso localzinho de trabalho. Ser profissional é ser crítico, é ser membro de uma classe, é lutar pela dignificação dessa classe nos seus diferentes status: social, científico, pedagógico, laboral. E essa luta não pode ser individual, já que numa luta desse tipo não se marcam muitos pontos. Os itens, que referi, constituem os pilares de uma profissão. Faltando a autenticidade de um deles que seja o estatuto do profissional fica ferido e a profissão de todos e de cada um é afectada.
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Participámos em força no 8 de Março e nas manifestações que se seguiram! Sim participámos! Mas depois?
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Cumpridos que foram o 8 de Março e as suas sequelas locais:
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- alguém se perguntou quantos professores se empenhariam numa luta que tivesse sido convocada no pós 8 de Março?
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- alguém se questionou sobre que formas de luta estariam os professores prontos para aguentar?
...
- alguém contabilizou "munições in loco" para saber até onde cada colega estaria disposto a ir?
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A minha percepção é que a maioria considerou que, com a ida à manifestação, tinha completado a sua contribuição e que para a frente o caminho seriam rosas. Quando falei, a muitos, logo a seguir ao 8 de Março, em tomadas de posição, em novas formas de luta, em possíveis novas saídas para a rua, ou mesmo em greves a reacção foi a de que já tinham feito a sua obra.
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Que força de apoio teriam os sindicatos para continuar uma luta?
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Paralelamente, surgiram os movimentos. Esses movimentos são importantes? São, se souberem construir a consciência de classe, se souberem aproveitar o espaço de debate para unir, se souberem que a luta de uma classe não vive de protagonismos, nem de lutas intestinas pelo poder, se souberem compreender que, apesar da sua importância, quem negoceia, com o governo, são os sindicatos e que é necessário que a força da classe, adquirida pelos movimentos, seja capaz de falar com os sindicatos, apoiando-os e/ou mostrando-lhes no caso de estarem errados, que o que a classe quer não é o mesmo que eles querem. Não serve de nada, a ninguém, nem aos sindicatos, nem aos movimentos, nem aos professores as posições, que publicamente foram veiculadas, de atrito…, de diz que disse…, de eu sou melhor porque… Os movimentos surgiram como pontos de discussão, como pontos para dinamização de alertas, como núcleos locais para apresentação de propostas de acção/contestação, e todos os que vêem os sindicatos como o bicho papão aproveitaram para os considerar os seus defensores, nomeadamente quando aconteceu a assinatura do memorando. E gritou-se traição.
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Mais uma vez pergunto se os sindicatos tivessem “partido” para formas de luta mais “fortes” se teriam tido o apoio dos movimentos, se teriam tido o apoio dos 100.000 mil?
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Agora, surgem queixas de que os sindicatos só estão a "apanhar a onda" para não perderem a face!
No entanto, quantos os teriam apoiado se a "onda" tivesse sido provocada por eles?
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Que nos interessa de onde veio o movimento que nos vai levar à rua em defesa dos nossos direitos?
Temos problemas para resolver ou não?
Precisamos de estar todos juntos, ou não?
Não será já tempo de nos unirmos sem querermos protagonismos, sem queremos pôrmo-nos em bicos dos pés para ficar melhor na fotografia do que o vizinho?
Não será já tempo de nos deixarmos de arrastar a classe por um divisionismo que só nos trará amargos de boca?
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31/10/2008

TODOS NO DIA 8 DE NOVEMBRO

Declaração Conjunta – FENPROF - MOVIMENTOS
A Federação Nacional dos Professores, FENPROF, representada por alguns elementos do seu Secretariado Nacional, e 3 Movimentos de Professores (APEDE, MUP e Promova), representados por alguns professores mandatados para o efeito, reuniram na noite do dia 29 de Outubro de 2008, em Lisboa, com o objectivo de trocarem impressões sobre a situação que se vive hoje nas escolas portuguesas, as movimentações de professores que resultam da necessidade de enfrentar a ofensiva sobre a escola pública (e os professores em concreto) que este Governo continua a desenvolver e, concretamente - conforme constava da iniciativa que estes 3 Movimentos tomaram ao solicitar este encontro à FENPROF - , serem explicitados os motivos que levaram à convocatória de uma iniciativa pública de professores marcada para o próximo dia 15 de Novembro.
Em relação à análise da situação hoje vivida nas escolas portuguesas, às causas e objectivos dos grandes factores de constrangimento a uma actividade lectiva encarada e desenvolvida com normalidade, e à ideia de ser imprescindível pôr cobro de imediato aos principais eixos da política educativa levada a cabo por este Governo, verificou-se uma grande convergência de opiniões entre todos os presentes, nomeadamente quanto:
· à mensagem que é necessário transmitir, para todos os sectores da sociedade civil, de que a luta actual dos professores não é movida por meros interesses corporativos, já que reflecte antes uma profunda preocupação com o futuro da escola pública e com as condições indispensáveis a uma dignificação da profissão docente enquanto factor indispensável a um ensino de qualidade
· ao repúdio, veemente e inequívoco, deste modelo de avaliação do desempenho docente, à necessidade de incentivar e apoiar todas as movimentações de escola que conduzam à suspensão imediata da sua aplicação e à urgente perspectiva de se abrirem negociações sobre outras soluções alternativas, que traduzam um novo modelo de avaliação, tanto mais que sucessivos incumprimentos do ME do memorando de entendimento que foi forçado a assinar no ano lectivo anterior com a Plataforma de Sindicatos praticamente o esvaziam de conteúdo e a delirante investida na alteração da legislação sobre concursos mais não faz do que confirmar
. à recusa dos princípios fundamentais em que assenta o Estatuto de Carreira Docente imposto pelo ME aos professores, nomeadamente a criação de duas carreiras, a hierarquização aí estabelecida e os constrangimentos ao acesso e à progressão na carreira, apontando-se também a divisão arbitrária e injusta da carreira como um factor que condiciona e desacredita as soluções ao nível de avaliação do desempenho docente e não só, pelo que urge a abertura de processos negociais tendentes à sua profunda revisão;
· à rejeição de um modelo de gestão e administração escolares que visa, essencialmente, o regresso ao poder centralizado de uma figura que foge ao controlo democrático dos estabelecimentos de ensino e se assume unicamente como representante da administração educativa nas escolas.
Por último, os representantes das estruturas, assim reunidos, reafirmam a sua intenção de tudo fazerem no sentido da convergência das lutas, para incrementar e reforçar a unidade entre todos os professores e em defesa da Escola Pública.
Lisboa, 30 de Outubro de 2008
FENPROFAPEDE/MUP/PROmova

Citação

Post retirado de Profavaliação:

Vem em todo o lado. O Público dá-lhe um grande destaque. Se o ministério aceitar uma recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE), os alunos deixarão de reprovar na escola até que completem os 12 anos. A proposta, revelada ontem no “Diário Económico” baseia-se nas recomendações da OCDE.


No projecto de parecer “A educação das crianças dos 0 aos 12 anos”, o CNE sugere, em alternativa ao chumbo, “medidas eficazes de apoio”, como “intervenções aos primeiros sinais de dificuldades e estratégias de diferenciação pedagógica”.
Segundo o CNE o actual sistema que obriga o aluno a repetir o ano em caso de uma avaliação negativa dos seus conhecimentos, penaliza exclusivamente o aluno e as famílias numa altura em que a escola tem de partilhar a responsabilidade pelo insucesso. “Há alunos que acumulam insucessos em anos educativos, ficando desenquadrados nas turmas em que são colocados e, em muitos casos, não encontrando alternativas a não ser o abandono”, diz o documento que frisa que o aluno é penalizado por uma falha do sistema.

Ana Maria Bettencourt, relatora da recomendação do CNE, lembra ainda que, segundo estudos da OCDE, as dificuldades dos alunos portugueses prendem-se na maior parte das vezes com graves problemas a nível sócio-económico e que os alunos não encontram na escola uma saída para os seus problemas.

Comentário do autor dos post:

Conheço a Ana Maria Bettencourt há mais de 25 anos. É uma mulher voluntariosa e bem intencionada mas esteve sempre do lado errado da barricada em tudo o que diga respeito à educação. Foi ela a mãe de uma das maiores inutilidades pedagógicas do sistema educativo português: as Actividades Curriculares Não Disciplinares. Nunca a vi defender uma proposta sensata em Educação. Nunca a vi defender a primazia dos conteúdos face ao discurso oco das competências vazias. Nunca a vi defender o reforço dos conteúdos funcionais relacionados directamente com o ensino. Esteve sempre comprometida com as políticas educativas do PS. Foi conselheira para a Educação de Jorge Sampaio. É uma veterana do Conselho Nacional de Educação. Há mais de 25 anos que a oiço dizer que as reprovações não resolvem problema nenhum e que a escola e os professores têm de dar respostas aos problemas que os alunos trazem de casa. Sempre o mesmo discurso: a culpa é dos professores que não sabem ensinar, que desvalorizam a cultura materna dos alunos, bla´, blá, blá...Sempre a mesma retórica a desresponsabilizar os alunos e a tratá-los com indigentes intelectuais e coitadinhos. Sempre a mesma defesa de um paradigma de escola assistencialista e de uma perspectiva do professor assistente social.
Quanto ao CNE, apenas meia dúzia de palavras. Fui membro do Conselho Nacional de Educação na década de 90, durante 3 longos e penosos anos. Fui membro do CNE por indicação das associações pedagógicas. Aceitei porque não sabia o que aquilo era. Verifiquei depressa que aquilo era um órgão inútil, repleto de individualidades (membros de partidos, dos sindicatos, das associações de pais e personalidades do mundo das ciências da educação) há muito tempo afastadas das escolas. O que caracterizava aquela gente era, naquela altura, a insensatez das propostas, a defesa do experimentalismo pedagógico, o discurso anti-conteúdos e a retórica do aluno coitadinho, a quem tudo se desculpa e nada exige. Fugi de lá logo que pude e nunca mais voltei.


Meu comentário:
Leio, e não quero acreditar, as sucessivas entradas do blog de Ana Maria Bettencourt há muito tempo. Está lá tudo aquilo co que não concordo e que designo deliberadamente por eduquês: a desresponsabilização dos alunos, a culpabilização dos professores, o romantismo construtivista, o experimentalismo pedagógico, o espírito missionário da docência, o apelo ao multiculturalismo (sinónimo de uma profunda ignorância filosófica e de um lamentável anacronismo conceptual), a defesa do relativismo moral, a deificação da Escola Moderna, o ódio aos exames, a lógica da panelinha, em que todos se protegem uns aos outros. Enfim, tudo aquilo que é verdadeiramente detestável em matéria de educação.

Quem quiser que os ature.

30/10/2008

Resistências!

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26/10/2008

Loucura ou maldade?

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Salvador Dali


Que o diploma sobre a avaliação docente é um verdadeiro monstro burocrático já todos constatámos. Que a esse monstro foram sendo implementadas mais cabeças, com os diferentes despachos e memorandos que lhe foram sendo anexados, em nome da regulamentação do monstro, transformando-o numa hidra de Lerna, também já todos nos apercebemos. Que os serviços intermédios do ME, com as suas estranhas interpretações, ainda, o “amostrenguem” mais, também já todos sabemos.

Que entre nós ainda consigamos aprimorar o “bicho” tornando-o ainda pior do que é, é que já ninguém entende.

Espanto-me, cada vez mais, como alguns elementos de uma classe diferenciada, portadora das mais altas habilitações académicas, revela a sua total iliteracia quanto à leitura, interpretação e aplicação de simples articulados de uma legislação.

Que a maioria das leis são mal redigidas é uma verdade. Que a maioria das leis são dúbias é outra verdade. Que nós não somos juristas também é verdade.

Por isso, o que temos que fazer é, apenas, ler. Ler como quem lê um texto. Ler, analisar e aplicar. Não temos que inventar. Não temos que devanear sobre… Não temos que inventar sobre…

Também sabemos que o considerar os resultados dos alunos, como um dos pontos chaves desta avaliação, é um dos maiores erros do monstro. Todos estamos cientes de que este item apenas visa a obrigatoriedade de mostrar resultados para as estatísticas e não o melhorar do ensino e ou da aprendizagem. Por isso mesmo, ainda se torna mais compungente o resultado da criatividade de que enfermam alguns “artistas grelhadores”.


Vejamos o que diz o 2/2008 sobre a relação entre: os resultados dos alunos, a definição de objectivos individuais a auto-avaliação e a avaliação do Presidente do Conselho Executivo (e onde me refiro a resultados dos alunos poderia referir abandono):

Quais são os elementos de referência para a definição de objectivos individuais?

Os objectivos individuais são formulados tendo por referência os seguintes itens:
A melhoria dos resultados escolares dos alunos;
(…)


Quais são os elementos de referência para a avaliação? *

A avaliação do desempenho tem por referência:
a) Os objectivos e metas fixados no projecto educativo e no plano anual de actividades para o agrupamento de escolas ou escola não agrupada;
b) Os indicadores de medida previamente estabelecidos pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada, nomeadamente quanto ao progresso dos resultados escolares esperados para os alunos e a redução das taxas de abandono escolar tendo em conta o contexto socioeducativo.

* Reiterados neste ponto que consigna as competências da Comissão de Coordenação da Avaliação do Desempenho:

Os objectivos fixados e os resultados a atingir pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada no âmbito do respectivo projecto educativo ou plano de actividades são considerados pela comissão de coordenação da avaliação do desempenho no estabelecimento de directivas para uma aplicação objectiva e harmónica do sistema de avaliação do desempenho.

Que diz sobre a auto-avaliação?

A ficha de auto-avaliação é entregue aos avaliadores em momento anterior ao preenchimento, por estes, das fichas de avaliação, constituindo elemento a considerar na avaliação de desempenho mas não sendo os seus resultados vinculativos para a classificação a atribuir.

A ficha de auto-avaliação deve explicitar o contributo do docente, durante o exercício das suas funções, para o cumprimento dos objectivos individuais fixados, em particular os relativos à melhoria dos resultados escolares obtidos pelos seus alunos.

Para o efeito da parte final do número anterior o docente apresenta, na ficha de auto -avaliação, os seguintes elementos:
a) Resultados do progresso de cada um dos seus alunos nos anos lectivos em avaliação:
i) Por ano, quando se trate da educação pré -escolar e do 1.º ciclo do ensino básico;
ii) Por disciplina, quando se trate dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário;
b) A evolução dos resultados dos seus alunos face à evolução média dos resultados:
i) Dos alunos daquele ano de escolaridade ou daquela disciplina naquele agrupamento de escolas ou escola não agrupada;
ii) Dos mesmos alunos no conjunto das outras disciplinas da turma no caso de alunos dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário;
c) Resultados dos seus alunos nas provas de avaliação externa, tendo presente a diferença entre as classificações internas e externas.

Além dos referidos no número anterior, pode o docente apresentar outros elementos (…) que permitam comprovar o seu contributo para o progresso dos resultados escolares dos alunos, a redução das taxas de abandono escolar e a apreciação do respectivo contexto socioeducativo
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E sobre a avaliação realizada pela direcção executiva?

Na avaliação efectuada pelo órgão de direcção executiva os indicadores de classificação ponderam o seguinte:
Progresso dos resultados escolares esperados para os alunos e redução das taxas de abandono escolar, tendo em conta o contexto socioeducativo — aprecia os dados apresentados pelo docente na ficha de auto-avaliação os quais são objecto de validação pelos avaliadores;


Como é possível que lendo o mesmo que eu li (e transcrevi) haja quem seja capaz de fazer uma ficha de registo de avaliação do PCE, como esta?

http://www.scribd.com/doc/6431579/Peninsula-Setubal-Fichas


Ou uma ficha de definição de objectivos individuais, como esta?

http://www.scribd.com/doc/6499599/Grelha-Objectivos-Individuais-2o-e-3o-Ciclo-1

Ou seja obrigado, como noutra que eu conheço, a, na ficha de objectivos individuais, indicar a média de cada turma no ano anterior e a definir objectivos de manutenção ou superação dessas médias (indicando critérios de êxito/superação), não tendo em conta se a turma era do professor, se as notas/níveis foram resultado de subida por votação em conselho de turma, se existem alunos novos na turma, etc.

Ou ainda como noutra, em que foi definida uma determinada média de sucesso por ano de escolaridade e “foi decidido” que se, por acaso existe uma turma mais fraca, outra turma desse ano, que seja melhor, tem que compensar a média (“ganhando” o seu sucesso e mais o sucesso que a outra não conseguir, para cumprir a média).

Só posso dizer que não são os deuses que devem estar loucos, mas sim os humanos! Neste caso específico, alguns humanos-professores!

Será assim tão difícil perceber o que está escrito?

Será difícil perceber que a escola/agrupamento (departamentos e conselho pedagógico) propõe uma meta de consecução de resultados, quer seja em % de redução do insucesso, quer seja em % de aumento do sucesso, que essa meta estabelecida a nível de escola/agrupamento (em geral, ou considerando excepções em determinadas disciplinas que pensem não conseguir atingir a % proposta)
deverá constar do Projecto Educativo e que todos os professores deverão trabalhar com os seus alunos para essa meta?

Será difícil perceber que o que se pretende é a melhoria dos resultados, através da redução/aumento da média do insucesso/sucesso obtida na globalidade dos alunos/disciplinas/anos de escolaridade,
em função da tal % estabelecida no PE, e não em cada um per si?

Será difícil perceber que só no final é que o professor, na sua auto-avaliação deve fazer a análise, em função dos diferentes itens contidos na ficha de auto-avaliação, justificando aí o seu trabalho neste item? E que será a partir dessa análise que o PCE considerará se houve ou não cumprimento do objectivo neste campo?

Será tão difícil perceber que o professor não pode trabalhar em função de uma média de turma, pré-definida, garantindo que a terá de manter, ou melhorar? É isso que se pretende, mas as circunstâncias variam de ano para ano.

Será difícil perceber um professor não pode definir como objectivo individual o número de 2, 3, 4 ou 5 que vai dar no final do ano… e muito menos ser penalizado porque em vez de cinco 4, e três 5, deu sete 4 e um 5?

Será difícil perceber que um professor não é um fabricante de peças avulso cuja produção pode ser incrementada (… e mesmo aqui só até um certo patamar)?

E que dizer da “definição das médias” encontrada na 1ª ficha de que dou o link? E que dizer quando se considera que um professor é
excelente quando atinge uma progressão superior a 100%?

Só pode! Está tudo louco! Ou será que é mesmo, e só, maldade?
Esta ADD é impossível e mais impossível se torna quando os "grelhadores" atingem níveis de loucura que a tornam num inferno de que nem Dante se lembraria.

21/10/2008

Santana Castilho

20/10/2008

A educação no século XXI

Veja-se e reflicta-se(via Rerum Natura):













17/10/2008

Medina Carreira

Mais alguém que defende que estamos a formar hordas de semi-analfabetos.

16/10/2008

Magalhães, o Conquistador

Os adeptos das Ciências da Educação exultam. Nunca como agora um ME foi tão proactivo, tão centrado no aluno, tão pedagogicamente construtivista e colaboativo. Isto sim, são as novas maravilhas da educação. Os amanhãs que cantam ocorrem já hoje, nem que seja nos degraus de uma escada.



Professores fazem músicas de louvor ao Magalhães e colocam-nas no YouTube

Um grupo de professores coordenadores de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) a entoar melodias de músicas como Esta Vida de Marinheiro ou Grândola Vila Morena com letras de louvor ao computador Magalhães é o quê? Para Paulo Carvalho, que lançou a polémica na blogosfera, é "uma sessão de circo", algo "surreal" que prova que os docentes "tudo são capazes de fazer, mesmo o ridículo". Para o Ministério da Educação e para a multinacional Intel, que promoveram o evento, trata-se de uma acção de formação para aqueles a quem caberá ensinar os professores do 1.º ciclo do Ensino Básico a usar, nas salas de aulas, os portáteis oferecidos às crianças pelo Governo.Ao fim da tarde de ontem, Paulo Carvalho, professor da EB 2-3 de Castro Daire, dizia-se "estupefacto" com o impacte do texto publicado em http://paulocarvalhotecnologias.wordpress.com/, no qual descreve uma das cinco acções de formação de dois dias promovidas, de norte a sul do país, no âmbito do Plano Tecnológico de Educação. "Primeiro foi a Antena 1, e agora é só jornalistas a telefonarem-me!", exclamava o professor, que se apercebeu, também, de que, desde que fora escrito, a 29 de Setembro, o texto já tinha sido reproduzido em inúmeros blogues.Por aquela altura, mais de 12 mil pessoas tinham visto o filme que Paulo Carvalho colocou no YouTube com o título de Formação Magalhães e que diz ter "apanhado" durante "uma das actuações" dos professores "que mais aplausos arrancaram". Mas, à mesma hora, outros filmes concorriam com aquele. Como o que tem como título Sailling with Magellan PC e em que vários docentes, sentados nos degraus de uma escada, simulam remar, ao mesmo tempo que, entoando a melodia de Grândola Vila Morena, elogiam "um PC de encantar" que, "já não há volta a dar/veio para ficar". Num outro vídeo (Coordenador TIC), Esta Vida de Marinheiro serviu de inspiração aos professores que cantam assim sobre o Magalhães: "A trabalhar é um desembaraço/ para nós foi uma alegria/ para dar mais um passo/ com esta nova tecnologia".Como surgiram estas cenas no decorrer das acções de formação? É isso que explica Paulo Carvalho. "Três senhoras que tinham vindo expressamente dos States", conta, propuseram aos "200 professores" presentes em Cantanhede que inventassem "uma cantiga ao Magalhães e, se possível, com teatro à mistura". (...) "Tudo de 'útil' passou por aquele palco, até as náuseas me obrigarem a sair", comenta. Contactado pelo PÚBLICO, Nuno Martins, da Intel, explicou que as três pessoas a que se refere Paulo Carvalho são professoras, especialistas na utilização das novas tecnologias na sala de aula e no "método colaborativo". "Foi pedido àqueles pessoas, que vão formar professores do básico, que participassem numa actividade dinâmica, semelhante às que podem ser desenvolvidas na sala de aula por crianças de seis aos dez anos, usando como ferramenta o computador", explicou. Numa nota divulgada pelo Gabinete de Comunicação do Plano Tecnológico da Educação, sublinha-se que as acções constituíram, para os professores, uma "mais-valia". 850 coordenadores de Tecnologias de Educação e Informação participaram nas acções.

13/10/2008

Uma certa esquerda

Uma certa esquerda insiste nas ladaínhas do costume, com defesas teóricas de inanidades conceptuais cujo único destino possível é o cesto dos papéis. Depois de neste mesmo blog se ter mostrado quem são, afinal, os filhos de Rousseau e se ter denunciado a quem convém o actual estado de imbecilização da população, eis que outros começam a abrir os olhos e, oxalá, mostrar o caminho da tal esquerda.

A ler:
"Aprender a aprender: um slogan para promover a ignorância"
"O slogan «aprender a aprender» serve os interesses do capitalismo neoliberal e globalista"

Claro que muitos não querem que se lhes enfie isto pelos neurónios adentro. Para eles, o mais eficaz seria um clistér pelas orelhas. Esses, encostados a um sistema que os promove (onde? adivinhe o leitor...), preferem manter o silêncio antes que lhes descubram a careca.

12/06/2008

Os fascistas

Os fascistas espalharam-se por todo o lado. Alguns até se espalharam pela esquerda - ou será que a esquerda se espalho pelo fascismo?

Os combustíveis estão cada vez mais caros. E no entanto, o preço do barril de petróleo está, em 2008, exactamente ao mesmo valor de 2000: 70 euros.

De um lado, estão fascistas totalitários que esmagam os povos com preços absolutamente especulativos. Do outro, estão camionistas anarquistas, que atacam à lei da pedra e da grunharia os colegas de trabalho que apenas querem, imagine-se, trabalhar. Como se o direito à greve implicasse o não-direito à não-greve.

Se abomino os fascistas de direita, não faço por menos o fascismo de esquerda. Esses trastes anarquistas que constituem piquetes de greve são, geralmente, escumalha nojenta de que a humanidade se envergonha. Na fábrica onde uma pessoa conhecida trabalhava, os piquetes de greve juntavam-se à porta para impedir, com base na força de paus e pedras, que alguém exercesse o direito a não fazer greve. Mas, vermes nojentos como são, esses anarquistas da merda nem percebem que são tão fascistas como os fascistas que eles próprios criticam.

Polícia de choque em cima deles, com força e sem cerimónia. Só se lamentam os que ficarem de pé.

Outros fascismos existem, mas na Escola.
Num determinado dia da semana, A. tem três horas de CNL marcadas no horário. Mas A. não as cumpre, tal como não cumpre todas as horas lectivas porque deixa os alunos sair mais cedo. Uma horita de cada vez. Só que A. é dono de meia aldeia. Funcionários e professores, noutros locais de trabalho, são seus assalariados. E certo familiar de A. é profissional de medicina, o que lhe permite atestar tudo e todos. Portanto, A. recebe tacitamente a conivência de toda a gente. E niguém se atreve, nem quer atrever, a colocar em causa as benesses de A.
É outra forma de fascismo: o fascismo dos acomodados do sistema que, não podendo em caso algum ser exonerados da função pública, dela vivem cegamente, como carraças agarradas ao corpo do animal.

Darwin estava errado. Nem sempre as espécies evoluem.

20/04/2008

Os cravos também se abatem!


(roubado por aí...)



… e há muitas formas de os abater!

Não bastavam as manhãs de sábado (que nalgumas modalidades se estendiam pelas tardes), não pagas, agora até para os feriados se marcam campeonatos! E o problema é que nem é um feriado qualquer, porque existem feriados que pouco nos dizem em termos de comemorações. Mas um feriado é um feriado. É feriado para todos! E existem feriados especiais. E este de que falo é um feriado especial, um feriado em que “ainda” se comemoram, com diversas manifestações uma data muito especial para o povo português. Um feriado em que, em tempos, até os cafés fechavam. Um feriado, em que todos deveriam ter a liberdade de poder usar a sua liberdade para comemorar como quisessem a data que relembra. Um feriado em que o Estado não pode mandar trabalhar funcionários cujos serviços não estão enquadrados na definição de serviços sociais necessários, ou mais especificamente serviços mínimos de apoio social.

No entanto, sem que exista razão para que isso aconteça, porque o calendário nacional não obriga a que seja necessário utilizar esta data, nas escolas da DREL há quem não possa comemorar este feriado como quer. Há professores, alunos e famílias de alunos a quem foi sonegado este feriado.

Falo do 25 de Abril. Falo de Desporto Escolar. Falo da DRELVT. Falo de Campeonatos Regionais de algumas modalidades marcados para o dia 25 de Abril.

ATLETISMO DE PISTA - DRELVT - EAE Setúbal Norte - Pista Municipal da Sobreda - 25 de Abril
TÉNIS - DRELVT - EAE Lezíria - Clube de Ténis de Santarém - 25, 26 e 27 Abril

BASQUETEBOL (JUVENIS) - EAE Lisboa Oriental - agendado para Vila Franca de Xira/Loures - 19 Abril, foi adiado para Mafra - 25 de Abril


http://sitio.dgidc.min-edu.pt/desporto/Documents/campeonatos_regionais/DEscolar_Calendarização_Camp_Regionais_08_Final.pdf

06/04/2008

A Hidra de Lerna da nossa educação

Processo, de nome próprio
Burocrático, de apelido
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Recupero, aqui, um texto que coloquei há mais de 2 anos e que já, nessa altura, tinha alguns anos (1995)
Continua actualizadíssimo!
Quando o colega Manuel Constantino o publicou, fê-lo como uma chamada de atenção para o que estava a acontecer.
À época o "menino"- Processo, de nome próprio, Burocrático, de apelido - era apenas uma criança. Andava pelos 5/6 anos e estava “a entrar na primária”. Surgiu como se fosse um sobredotado e por isso tratámo-lo como se fosse um génio. Trabalhámos, “com este aluno”, como manda o eduquês. Centrámo-nos nele, acarinhámo-lo, apaparicámo-lo, demos-lhe força e vida e deixámos que fosse ele a mandar em nós. A cada birra e a cada exigência inventámos mais uma ficha, mais um documento, mais um objectivo, mais uma estratégia para lhe resolver a vida. E o “menino” cresceu, e fez a escolaridade toda, habituado a “ser bem alimentado”: fichas, grelhas, planos, relatórios, reuniões, recuperações, acompanhamentos, apoios… Não o soubemos disciplinar a tempo. Entretanto o “menino” entrou na universidade e formou-se. Cada vez mais bem alimentado, cada vez mais senhor de si, já não é um menino a quem podíamos ter educado, transmitido princípios de contenção e de respeito pela função primária e última de quem o educava. Não soubemos perceber que não era nenhum génio, que não era nenhum salvador, que não tínhamos que nos subjugar a ele, mas sim aprender a contê-lo nos limites do desejável. Não soubemos fazê-lo... por inércia? por convicção? Não interessa, só sei que não o soubemos!
Neste momento, o Dr. Processo Burocrático está formado. Sente-se dono do mundo. Manda em todos nós. Exige, reclama, ameaça, chantageia… Só lhe falta começar a punir! E para isto pouco falta… Transformou-se num tirano absoluto!
Não actuámos a tempo! Agora enfrentamos o monstro que acalentámos no nosso seio, que alimentámos querendo ser sempre “mais papistas que o papa”, que mimámos, tentando, sempre, mostrar mais apoio, ao menino, do que o colega do lado.

Colaborámos na criação deste monstro… demos-lhe 7 cabeças, como à Hidra de Lerna!

Como podemos, agora, sufocar “o menino” que ajudámos a criar?
Como podemos lidar com tantos sentimentos díspares, entranhados na nossa formação e na nossa forma de estar, que nos levam a continuarmos a subjugar-nos a este bicho?
Como podemos abjurar um monstro por quem também somos responsáveis?
Que armas poderemos “inventar” para cortar as cabeças e os tentáculos deste bicho que nos sufoca e nos impede de exercer a nossa profissão?

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05/04/2008

Foi a vez das “Lisboas” (Oriental e Ocidental)!

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Estavam os dois Secretários!
Da Ordem de Trabalhos constava: avaliação de desempenho, gestão, formação contínua.
A convocatória era destinada ao Pres do CE e ao Pres do CP, mas trazia a ressalva de, no caso, de serem uma e a mesma pessoa, o PCE deveria fazer-se acompanhar de um elemento da comissão de coordenação da avaliação, para garantir a presença de dois elementos de cada escola/agrupamento.
Se existem n escolas a organização deveria providenciar uma sala que comportasse n x 2 pessoas. Tal não aconteceu. A sala deitava gente por fora! Gente que deveria merecer o mínimo respeito do ME, gente que o ME deveria considerar as faces das suas escolas e receber condignamente. Tal não aconteceu! Havia professores sentados nas escadarias do anfiteatro. Havia professores de pé encostados às paredes. Havia professores sentados em cadeiras que vieram colocar, com grande barulho, já durante o monólogo do Sec. Pedreira, nos patamares das entradas situadas nos topos das filas de cadeiras.
Não, não foi um acaso por excesso de participação. Vim a saber que esta falta de respeito se repete, frequentemente, nas diversas “conversas em família”.

Durante quase hora e meia, este sr discursou sobre o DR 2/2008, tendo como pano de fundo um power point com partes do referido decreto. Durante quase hora e meia o sr tratou quem ali estava como se fosse mentecapto. Durante quase hora e meia o sr “vendeu” a sua avaliação, qual cigano em dia de feira.

E que "vendeu" ele? Vendeu o Dec. Reg 2/2008… comentado!

- que já todos sabíamos com o que contar porque desde Janeiro de 2007 já sabíamos com o que devíamos contar porque o ECD já continha tudo o que precisávamos de saber e preparar e que por isso não nos podíamos queixar de retroactividade da lei quando se propõe que a avaliação se reporte a Setembro de 2007;
- que não compreende porque é que toda a gente “embirra” que a avaliação considere os resultados dos alunos se o peso desse item é de apenas 6%;
- que não aceita que se diga que a contabilização deste item irá provocar subidas artificiais de notas, porque os professores são profissionais responsáveis e que se existe esse medo, nas escolas, estas deveriam (podem) fazer provas internas (finais) para segurança da avaliação dos professores (!);
- que as quotas, como diz o decreto, irão ser atribuídas em função das avaliações externas das escolas já que, como é lógico e de acordo com todos os estudos (!), se uma escola tem melhores resultados, é porque com toda a certeza tem melhores professores (não põe sequer a hipótese de os alunos terem a ver com o assunto!!!) e portanto precisa de quotas mais dilatadas para poderem abranger toda essa excelência;
- que as quotas serão diferenciadas em função das categorias de professores – contratados, professores, professores titulares (se por acaso queriam acabar com os conflitos de interesses, não o conseguiram – há professores titulares avaliados, professores titulares avaliadores-avaliados e professores titulares só avaliadores, a continuarem a concorrer para o mesmo objectivo);
- que as classificações inerentes a cada menção qualitativa são: Ins - 3; Reg - 6; Bom - 7; M.B. - 8; Exc – 10; sobre ponderações não falou;
- que a assiduidade é contabilizada pela soma do número de aulas do 1º ano com o número de aulas do 2º ano de avaliação;
- que a formação contínua contabilizará tantos pontos quanto o resultado da multiplicação do número de créditos das acções pelos pontos obtidos na avaliação de cada acção;
- que a flexibilização das grelhas pode ir “até ao nível mais baixo de desagregação dos itens contidos nos parâmetros, pela agregação destes, mas nunca pela agregação de parâmetros;
- que o objectivo do ME é que o regime legal seja aplicado até onde for possível, uma vez que, desde a 1ª hora reconheceram existir dificuldades das escolas em fazer a sua implementação na totalidade;
- que “eles” sabem que há resistências à aplicação da avaliação,
e que tenhamos atenção porque eles sabem distinguir resistências de dificuldades;
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que o objectivo do ME é garantir o mínimo inultrapassável – o do direito do avaliado (!!!)
- que no final do 1º ciclo avaliativo será feita a aferição (técnica portuguesa - testagem em massa!);
- que na próxima semana irá sair um despacho, “despachando” o Simplex (afinal já não é nesta semana…)

E termina com a grande tirada:

Não vale a pena complicar, o que já de si é complexo!

explicando que a complexidade e a diversidade são formas de garantir os direitos dos avaliados e fazendo um apelo ao pragmatismo porque todos os instrumentos são susceptíveis de aperfeiçoamento.

Ao fim de quase hora e meia de arrazoado sobre um diploma que todos estamos fartos de conhecer, já com uma sala à beira de um ataque de nervosos, os srs secretários abriram o período de perguntas e as reacções não se fizeram esperar!

“Intervenções da bancada”

- Chega de doutrinação. Perdemos hora e meia do nosso tempo ouvindo enunciar um diploma que já todos conhecemos. Respostas aos problemas, nenhuma. Que dirá o despacho?
- Senti-me numa aula para alunos mesmo muito burros! Isto não se faz! Quero deixar uma palavra aos contratados que, pelos vistos, vão legitimar este processo!
- Viemos, aqui, para ponderar e debater assuntos para os quais não vai haver tempo. Não foi só hoje que nos trataram como débeis mentais…já desde há uns tempos que isso acontece…
- Como querem que se quantifiquem e cumpram percentagens baseados em pessoas (ciências humanas)?
- Resultado do aumento da idade da reforma, que incentivos para o último escalão que viu redobrado o tempo e o trabalho?
- O ME tem dito que somos peritos em avaliação, mas sabe perfeitamente que avaliar alunos e colegas não é a mesma coisa, que um enorme abismo separa estas duas funções. Onde está a formação?
- Onde está a definição dos principais conceitos (abandono, etc) que constam dos parâmetros de avaliação?
- Como é possível dizer a cada escola para fazer o que “puder” só para afirmar que se implementou a avaliação, fazendo proliferar a disparidade de processos e de critérios?
- Está tudo misturado! Como é possível que em cada parâmetro exista mais do que um elemento de análise?
- Como é possível querer que definam objectivos, tendo em conta o PE, no fim do 3º período do final do 3º triénio da existência deste documento? Não seria mais coerente iniciar tudo no início do novo triénio que se inicia em Setembro?
- Simplificar? Até que ponto? Onde está o documento que o permite? Nesta altura do ano a 2 meses de terminar o ano não existe nada... e exige-se às escolas?!
- Quotas em função das avaliações externas? A maioria das escolas ainda não a teve.
- Aulas assistidas no próximo ano – quantas?
- Saberá a tutela que muitos departamentos não têm professores titulares?
- Saberá a tutela que haverá professores de escalões mais baixos a avaliar professores de escalões mais altos o que é, manifestamente, incorrecto em qualquer hierarquia?
- A tutela tem consciência que no “país dos professores” existem 3 países dentro do mesmo país?
- A tutela tem consciência do que a interacção contexto sócio-educativo /avaliações externa pode conter em si? E continua a achar que é pela avaliação externa que serão indexadas as quotas?

Também foram feitas perguntas sobre casos específicos de avaliação: PIEF, Centro de Novas Oportunidades; EFA, Educadores em apoio domiciliário, Ensino Especial em diferentes escolas, licença sabática, …)

Respostas (uma ou duas foram dadas pelo Sec VL):

- o despacho sairá no início da próxima semana;
- já estão a trabalhar com centros de formação para que se implementem acções no âmbito da avaliação e já existem algumas a decorrer;
- a definição de conceitos depende do CCCA que, com certeza, irá ter isso em conta;
- a falta de titulares está coberta pela figura de comissão de serviço para exercício dessa função;
- aulas assistidas no próximo ano: 3… ou mais se a escola o entender;
- cada escola pode ter o desenho operacional que entender, elaborado de acordo com as suas condições
- há sempre um topo de carreira, por isso, os incentivos para o último escalão são obtidos pela conversão dos Exc e MB, que nos outros dão bonificação para a transição de escalão, em prémios de desempenho;
- irão ser criados prémios de desempenho à semelhança da FP (aqui não percebi se era para todos como na FP, se era apenas para obviar ao ponto anterior);
- a avaliação externa é sempre considerada no contexto em que se insere a escola em questão; logicamente que uma escola que nos 5 pontos da avaliação é considerada muito boa ou excelente é porque tem que ter professores muito bons ou excelentes e, portanto, tem que ter direito a uma maior quota;

O Sec aproveitou para explicar, caso a caso, como se fará a avaliação para os diferentes casos em dúvida (resumidos, são praticamente iguais, mas assim “ganhou” mais um bocado de tempo…

Sobre a “simplificação” referiu que o despacho irá conter a concretização do que foi combinado com o Conselho de Escolas:

- princípio do respeito pelo trabalho realizado;
- não estar em causa a uniformização pelo mínimo;
- se existem condições diferentes, haverá processos internos diferentes;
- formas de diferenciação de registo, com o juízo que o avaliado faz sobre o seu próprio trabalho, cruzado com os elementos da ficha do CE que a escolha já recolhe habitualmente (assiduidade?);
- as escolas que puderem fazer mais, podem e devem fazê-lo, nomeadamente, quanto à recolha de elementos sobre o processo de ensino/aprendizagem;

E acrescentou, novamente, não há nenhuma aplicação retroactiva da lei, já que o tempo de serviço apenas foi descongelado a 1 de Janeiro e já todos sabiam com o que contar!
E concluíram… o tempo esgotou-se! Os outros dois pontos da OT ficam para uma próxima reunião a agendar.
Durante o processo, o microfone avariou, e "mandaram-nos para o intervalo". Na volta ainda foram feitas mais duas perguntas, mas por razões de agenda (descobri que pelo menos um deles foi para o Porto) teriam que adiar a reunião com os professores “do deserto” (expressão minha), marcada para a tarde. A sala também iria ser necessária às 13h 30m, por isso tivemos que nos despachar!


Notas soltas:

Quero, ainda, referir que uma das colegas realçou a falta de apoio que o ME deu às escolas para a concepção e implementação deste processo, apenas exigindo, pressionando, nada dando e ainda por cima não cumprindo a sua parte no que respeita a normativos atempados.
Frisou que os professores se viram sozinhos, num processo completamente novo, e que foi apenas através dos blogs e da troca de informação on-line que se conseguiram “orientar”. E aqui, expressou um profundo agradecimento a todos os que contribuíram para isso, em especial, ao colega Ramiro Marques que foi compilando e divulgando diversos instrumentos de registo.

A mesma colega, também, questionou o “ME” sobre os relatórios (mencionando alguns) que não publica ou que publica incompletos, apenas com a parte que lhes interessa.

Neste relato, parece ter havido muitas “intervenções da bancada”, no entanto, não foram tantas como isso, já que algumas das que anotei foram feitas pela mesma pessoa. O tempo dispendido no discurso e “o intervalo”, deram pouca possibilidade de intervenção… também não lhes interessa mais! Tratar-nos como burros é o que dá!

Um debate sério, para ser feito em pouco tempo, não se coaduna com o gasto de tempo perdido com a intervenção desnecessária do Sec. A ele só lhe competia referir ou explicitar alguma alteração que estivesse em cima da mesa, nomeadamente o conteúdo do despacho que diz ir mandar publicar. Se dúvidas houvesse, sobre o Decreto da avaliação, essas surgiriam durante o debate. Continuam a tratar-nos como incompetentes e a não nos levar a sério. Depois dizem, para os OCS, que reuniram “imenso” com os professores, que ouviram as suas opiniões. Falso! Nós é que os ouvimos. E sem possibilidade de contraditório porque respostas, só ao que lhes interessa.

03/04/2008

Propostas do BE ... mais um penso para uma ferida que do que precisa é de cirurgia?

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Não me parece que qualquer destas propostas:
vá contribuir muito para a diminuição do insucesso ou do abandono escolares. Não traz propostas novas, não acrescenta nada, contém, apenas, remendos legislativos e explicitações de muitos articulados já existentes.
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O problema principal do nosso sistema de ensino radica na sua concepção de base e no seu currículo.
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Fala-se repetidamente de escola democrática e considera-se, apenas, como conceito de escola democrática, o esta, ser igual e obrigatória para todos.
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O conceito de escola democrática deveria conter, em si, o conceito da escolha de um futuro. Esta escola, que temos, não é democrática porque não o contém.
O ser igual para todos torna-a, de imediato, anti-democrática. O tipo de ensino que se oferece é o ensino vocacionado para quem quer ser “doutor”. Está todo construído nessa base. Por isso o insucesso, por isso o abandono, por isso o desinteresse. Muitos alunos, e isto não tem nada a ver com classes sociais, não querem ser ”doutores” e por isso não vêem qualquer mais valia no que deve(ria)m apre(e)nder na escola.
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Inventam-se Currículos Alternativos (CA), inventam-se CEF, inventam-se outras formas de colmatar o insucesso e os resultados continuam a ficar muito, muito aquém das expectativas.
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E o que há de errado com os CA e os CEF, é serem uma tentativa de cura para uma doença que o sistema criou, e não uma profilaxia para que essa doença não tivesse chegado a existir.
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O que há de errado com os CA e os CEF, resulta de uma política de ensino completamente errada, completamente obtusa, completamente cega.
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O que há de errado com esta política de educação é pensar que todos querem/têm que ser doutores, acabando por afastar muita gente da escola.
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E este é o enorme erro que produz a necessidade de CEF.
A massificação do ensino, deveria prever diversas vias de acesso ao conhecimento, criando saídas profissionais variadas, mas sem cortar caminhos. O maior erro deste país foi querer que todos aprendessem tudo da mesma forma, copiando essa forma do antigo liceu, cuja via era unicamente a universidade.
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Quando fecharam os cursos técnicos e comerciais fartei-me de dizer que estávamos a cometer um enorme erro social e que haveríamos de pagá-lo a muito curto prazo. Chamaram-me imensos nomes, desde elitista a segregacionista. Quanto a mim, elitismo e segregacionismo foi o de quem não soube ler a sociedade.
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Correndo o risco de me continuarem a chamar elitista, continuo a insistir que nem todos os alunos querem ser doutores e como expliquei na altura, e continuo a acreditar agora, isso não tem nada a ver com classes sociais, mas com apetências.
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Há muitos alunos, nomeadamente os da minha escola, para quem este tipo de ensino não lhes diz nada. Não lhe vêem sentido, não vêem que lhes sirva para o futuro. Não lhes interessa.
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No entanto, aqui há uns 3/4 anos, um colega, abriu um atelier de electricidade, promovido pela Câmara com uns dinheiros do PRODEP. Esse cursozito teve que rejeitar alunos porque não tinha capacidade para tanta inscrição.
E no ano seguinte, devido às mudanças de horários dos alunos, para que estes tivessem a possibilidade de continuar a frequentar o curso, o colega teve que se disponibilizar para dar aulas ao sábado.
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O interesse neste atelier, motivou, paralelamente, a subida de notas de muitos alunos, mais especificamente em física e matemática.
Os alunos perceberam uma relação entre a prática e a teoria, perceberam que o conhecimento teórico tinha uma aplicação, e gostaram e perceberam também que o que estudavam servia para alguma coisa objectiva, nomeadamente, se quisessem vir a ser profissionais de electricidade!
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E perceberam, também, que se quisessem continuar a frequentar o curso, tinham que se portar bem (e não só ali, em toda a escola) porque havia mais gente interessada e aquele direito implicava deveres.
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O que está errado com os CA e os CEF é que estes vêm tentar resolver problemas de gente que já se desinteressou por completo pelos estudos, que já criou um conjunto de atitudes de rejeição ao ensino, que já enquistou um conjunto de maus comportamentos e que, ainda por cima, é reunida toda numa mesma turma, dentro do mesmo espaço que aprendeu a abominar.
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Creio que a única forma é criar vias de aprendizagem/formação diferenciadas. Vias estas que não impeçam os alunos que descubram que afinal gostam de estudar e aprender de poderem seguir o caminho da universidade se o quiserem. Vias que não se fechem em si próprias, mas que permitam caminhos de formação alternativos, desde o início, para que não tenhamos que andar a colocar pensos em feridas que, em muitos casos, já são incuráveis.
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Só assim é que entendo a escola democrática. Só assim vejo um caminho para a diminuição do insucesso e do abandono escolares.
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Sobre a constituição de turmas só quero lembrar que existem escolas (e se calhar não são tão poucas como isso) para quem aquele diploma não tem qualquer razão de ser. A minha escola, por ex, não tem um único filho de doutor ou socialmente equiparado, na minha escola, os repetentes estão equitativamente distribuídos pelas turmas (variam entre os 6 e os 10)… e mais não vale a pena acrescentar. Não são estes os remédios necessários.
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Equipas de apoio, tutorias, projectos de acompanhamento escola/família, possibilidade de acompanhamento psicológico, animadores e assistentes sociais… temos de tudo um pouco.
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Vontade de trabalhar e interesse pela escola/aula (porque da escola gostam todos) praticamente não existe. Para este problema, alertei tanto as deputadas que reuniram connosco, como os elementos da DREL e parcerias institucionais presentes, tentando fazer-lhes ver que, socialmente, estávamos a estragar aquela população. Não existem bairros sociais mais bem equipados e com melhores apoios do que aqueles que “fornecem” os alunos para aquela escola. Habituaram-nos a que praticamente tudo o que precisam lhes “cai do céu”. Tudo lhes é dado ou cedido a preços módicos, sem que lhes seja exigido nada em troca, o que faz com que todos se sintam no direito de, mas não no dever de…
Quando dizemos a um aluno “tem cuidado, não estragues o material”, a resposta é invariavelmente “porquê, depois não vem mais?” ou “deixe lá, eles depois mandam mais”.
Quando lhes dizemos que têm que estudar e trabalhar, a grande maioria acha que não precisa de o fazer porque vai viver do rendimento mínimo e que, portanto, não tem que se preocupar, porque nem precisa de trabalhar agora, nem quando for grande. Estas “pequenas grandes visões” do futuro espelham o que eles vivem, sentem e ouvem: não há problema, alguém nos sustentará… temos esse direito!
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E os que até estudam alguma coisita e conseguem fazer o 9º ano? A maioria destes não tem posses (?), interesse (?), vontade (?) de continuar. E para que serve o 9º ano? Que emprego, que estatuto lhes dá? Vão para o balcão do MacDonalds ou para uma qualquer outra loja do estilo, onde encontram outros que não tinham completado o 9º ano. Que incentivo têm os colegas, vizinhos, amigos, para fazerem, sequer, o 9º ano?
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Como o que queremos que aprendam, não lhes mostra nenhum futuro, não vale mesmo a pena pensarem em fazê-lo. É preciso conquistá-los com coisas que lhes interessem! E todas as nossas actividades práticas estão cheias de gente…
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