14/09/2006

Justiça nos vencimentos

Como salientou a colega f... num comentário de um post anterior, não me parece que tenhamos grande coisa a ganhar em virarmo-nos uns contra os outros, como quer a Ministra, alegando que "os mais velhos isto" ou "os mais novos aquilo". Bons e maus profissionais existem em todas as classes e a percepção do que é um mau profissional varia muitas vezes de acordo com percepções subjectivas que temos da pessoa em questão.

Mas há um ponto que é importante: trata-se da igualitarização dos professores. Não há nenhum mecanismo que permita premiar o mérito, seja ele de colegas novos ou colegas mais antigos.

O actual sistema é igualitarista: desde que entre na carreira, o professor vai subindo de escalão em função da idade. Se alguém me disser que não é bem assim porque tem de cumprir créditos de formação, respondo desde já: treta! As acções de formação são uma grandessíssima treta e os professores deveriam ser os primeiros a exigir que elas acabassem. Só contribuem para a indignidade da carreira docente, e dispenso-me de explicar porquê.
Portanto,, no actual sistema tanto faz que o Professor X seja mais ou menos aplicado, consiga melhores ou piores resultados, seja ou não portador de um mestrado na área de leccionação ou em áreas pedagógicas, seja ou não portador de outros cursos de valorização profissional relacionados com a profissão. Tudo o que interessa é que dê as suas aulinhas e contribua para enriquecer as entidades "formadoras".

Num sistema não igualitarista, independentemente da idade do sujeito, ele seria abonado não em função da idade mas em função dos outros factores - e não apenas aqueles que mencionei. Mas isso implicaria, entre outras coisas bastante complexas, começar praticamente do zero: atribuir a todos o mesmo vencimento independentemente da idade e só então estabelecer diferenças em função de uma avaliação do mérito de cada um.

6 comentários:

Anónimo disse...

Repito: Acabem com a carreira e exijam um salário justo e digno do princípio ao fim, sujeito a actualizações como todos os trabalhadores.

Anónimo disse...

Concordo. Defende uma carreira não hierarquizada. Mas implementar uma carreira assim, não está ao alcance de um ministério com estas características. Para que tal seja possível, é necessário definir de forma clara e sem ambiguidades a missão da escola e a função docente!! Só isto, parece-me impossível de fazer no actual ministério da educação.

Mas mais difícil ainda, é definir objectivos anuais a atingir, também eles muito claros e sem ambiguidades...!

E mais difícil ainda, definir um sistema de avaliação exequível e que motive as pessoas...!

Este tipo de sistema já existe nas maiores empresas mundiais.

Anónimo disse...

Peço desculpa mas continuo a achar que o actual sistema de progressão na carreira é válido. É um sistema que, apesar de injusto, dá a oportunidade de todos e qualquer um progredir, independentemente do seu empenho e competência. Sempre achei que deveria existir uma avaliação por mérito mas, temo que ao ser criado esse tipo de avaliação o mesmo acabe por ser viciado e uma boa avaliação depender única e simplesmente de cair ou não nas "boas graças" de quem avalia. Ao longo dos anos tenho visto muitos profissionais que o único interesse que demonstram é ocupar os alunos e que não têm a minima aptidão para a actividade docente. Os bons profissionais estão tão empenhados naquilo que fazem que acabam por não dar o devido valor à "graxa" e correm o risco de não "cair em graça".

SL disse...

Não precisa de pedir desculpas: estou a "ouvir" as opiniões de todos os que queiram manifestar-se. :)

Mas desde já uma pergunta: se o óbice à progrssão por mérito é a questão dos compadrios, o que me diz a uma execução formal desse mérito -- por exemplo, através da obtenção de cursos de especialização, pós-graduados, devidamente homologados?

Anónimo disse...

Caro colega,
Até teria razão em tudo, caso não se passasse que na nova proposta de ECD não ficasse refém exactamente dessa formação da treta.
Leia o artigo 109 relativo a dispensas para formação e diga-me lá como vai conseguir frequentar um mestrado ou aceder a formação fora do "sistema"?

O controle ideológico da classe docente neste ECD está onde menos se espera e para onde menos se olha, pois muitas das questões levantadas são-no para empoeirar e encher de ruído a discussão.

SL disse...

paulo g.,

não defendo o novo ECD que aí vem. Pelo contrário, estou frontalmente contra. Estou a tentar pensar o assunto tendo em conta apenas o actual estatuto e aquilo que seria o ideal.
Quanto ao controlo ideológico, esse é seguramente o assunto que mais me interessa em educação. Tanto no que diz respeito à classe docente, como no que se refere ao currículo oculto que é transmitido aos alunos. É assunto a merecer um post específico.