18/11/2005

Faço greve porque...

... sou insultado de cada vez que defendo a minha actividade profissional;
... porque me acusam de trabalhar pouco quando apenas tenho tempo para brincar com a minha filha ao fim de semana;
... porque as nossas escolas estão velhas, sujas, mal equipadas, frias, quentes, húmidas, etc.;
... porque a ministra faz o papel da injustiçada: a) oferece portáteis e oficinas que sabe que não pode dar porque não tem dinheiro disponível ou porque o ministro fantoche das finanças não lhe dará nenhum, b) pretende criar a ideia que os professores fazem greve de forma injusta, pois está a dar-lhes boas condições. COMO FOI POSSÍVEL A COLEGAS INTELIGENTES ACEITAR UMA MANOBRA DESTAS. Uma razão imagino: conluio.
... porque a ministra, e o seu secretário não têm postura ética suficiente para limpar as retretes do ministério: é impensável envenenar a opinião pública com um estudo, que afinal não passa de uma sondagem, acerca das faltas dos professores. Como se os professores fossem criminosos e faltassem contra a lei: os professores usam os «privilégios» que tem como qualquer outro trabalhador;
... os chamados depreciativamente «privilégios» não são mais do que condições essenciais ao bom desempenho da nossa função. Eles não são benefícios abusivos: são elementos fulcrais para o ensino funcionar bem;
... com as medidas fascistas deste ministério que pretendem transformar a nossa actividade docente em actividade discente;
... este ministério exige ocupação dos alunos mas rejeita propostas de clubes, oficinas, etc para conter despesas;
... este ministério exige turmas de 30 alunos para poupar nos salários dos professores. Sofrem os professores que tem menos horários. E os alunos? Aprenderão melhor num grupo de 30 ou num de 15? Eu não tenho dúvidas. Algum colega terá dúvidas? Não. Só o ministério se refugia na pretensa falta de fundamentação científica para negar a formação de turmas mais pequenas. Parecem as tabaqueiras a negar que o tabaco faz mal à saúde;
... o ministério nega aos alunos actividades extracurriculares onde poderiam passar o tempo dos «furos» com a política economicista sobre os «créditos». Funciona assim: se uma escola não atribuir os créditos horários que dispõe fica com esse dinheiro para outras despesas. Quem é o dirigente que gasta esse dinheiro todo em professores para orientar actividades quando pode receber esse mesmo dinheiro para pagar uma janela, uma porta, um armário ou uma cadeira que faz falta e que o ministério não paga?
... o ministério atira para os professores a responsabilidade de prender alunos em salas quando poderia oferecer outras condições de gestão aos conselhos executivos;
... estou farto de ser mal tratado quando tenho uma das profissões mais nobres que existem;
... estou com medo que daqui a uns anos nenhum ser humano com qualidade e excelência queira optar por esta carreira. Todos os actos de descredibilização do ministério terão essa consequência, inevitavelmente. Será o fim da esperança num ensino formativo de qualidade.

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