22/11/2005

A profissão

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Continua actual ... oh, se continua!!!
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O artigo de José Manuel Constantino, de onde retirei este excerto, foi publicado na Horizonte - Revista de Educação Física e Desporto, em 1995 (!!!!!) ... acrescentem a todas as tarefas que ele refere, e em que nos perdemos e desgastamos, todas as que, para além desta data, foram ainda inventadas ... e depois, contabilizem apenas as horas de aulas, como sendo apenas as nossas horas de trabalho
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(...) "É inquestionável que os profes­sores sofrem as consequências da crise global que afecta todo o sistema de ensino e que tem como causa próxima as políticas educativas seguidas nos últimos anos, em Portugal e em todo o mundo ocidental.
Como escreveu António Teodoro - em local e momento que não sei precisar - «os professores acrescen­taram à sua função tradicional de transmissores de conhecimentos a de animadores culturais, de assistentes sociais, de responsáveis administrativos e políticos. Esta concepção multifuncional dos professores traduziu-­se num factor de perturbação, trans­formando os professores em verdadei­ras criadas para todo o serviço».
Esta concepção aliada a valores que invadiram a escola e que transformam o trabalho docente. em nome do sucesso educativo, numa «taylorização camuflada» criaram uma evidente crise de identidade, de gosto e de prazer pelo exercício da profissão. O que existe é insegurança, desconforto e mal-estar.
O professor viu desvalorizados os conteúdos culturais e formativos das respectivas disciplinas, a primeira razão de ser da sua profissão, em nome de um pedagogismo fala­cioso, e caiu no logro de passar «a viver» a escola. Que se traduziu em passar lá mais tempo a fazer um pouco de tudo e a ensinar cada vez pior.
Como se isto não fosse já sufici­ente, viu as suas condições de tra­balho piorarem, o seu sistema remuneratório ser progressivamente desvalorizado, as escolas serem transformadas em locais de violên­cia, e alunos, pais e administração a exigirem-lhe cada vez mais, quando não a responsabilizá-lo por as coisas não correrem bem.
"O professor mal pago, isolado, denegrido e humilhado, quer pelos alunos, quer pela hierarquia interiorizou esta sua condição e despreza o seu próprio trabalho"(12). E contrariado, é obrigado a par­ticipar em infindáveis reuniões para tudo e para nada. A fazer actas. A fazer planificações (a longo, médio e curto prazo) que quase sempre se transformam em meras idealizações que a prática concreta não confir­ma. A definir objectivos, os quais têm que ser gerais e específicos e obedecer a uma nomenclatura especializadíssima. A fazer avalia­ções as quais deverão ser formativas, sumativas e globais. A fazer matrículas. A organizar as tur­mas. A contabilizar as faltas dos alunos. A preencher pautas, fichas, parâmetros e outras papeladas. A elaborar horários. A decorar a es­cola. A pintar campos de jogos. A fixar cabides em balneários. A re­cuperar material. A organizar o in­ventário. A receber os pais. A dar mais atenção aos filhos dos outros que os próprios pais lhes dão. E fi­nalmente, também, a dar aulas. E aqui, a dispor de estratégias de remediação para tudo, em nome, de uma eventual «ciência» educa­tiva. Ou seja, a dar valor e importância a aspectos secundários e em alguns casos dispensáveis da acção docente e a se não dedicar ao essencial: a matéria de ensino e o acto pedagógico.
A extensão e a consequência desta situação está à vista de todos: transformados em «pau para toda a obra» têm do exercício da pro­fissão uma imagem que não está apenas desvalorizada aos «olhos dos outros»: ela está também instalada no seio dos professores. Basta para tanto que os oiçamos. E se possível, contabilizemos, quantos não muda­riam rapidamente de profissão se acaso a oportunidade surgisse(13). E quantos outros, não encontram em outras actividades profissionais ex­teriores à Escola, a compensação profissional que aquela lhe não oferece.
(…)
António Nóvoa, uma das pesso­as mais lúcidas no âmbito da for­mação de professores recorre a uma citação curiosa: «os conteúdos são o paradigma perdido da for­mação». É de facto aqui que reside parte dos problemas que é nossa responsabilidade procurar alterar. (...)
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12 - Dherbecourt, Un métier qui n`existe plus. Le monde de l`education nº5, 1975
13 - José Manuel Esteves, o Mal-estar docente, ed. Esher, 1992
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4 comentários:

Miguel Pinto disse...

É uma sensação estranha...f, é como se o ambiente se tornasse ainda mais familiar. Gostei da recuperação do texto de José Manuel Constantino.

Maria Lisboa disse...

Pois é, miguel!

... não temos a mesma "casa", mas a "família" é a mesma!

Enquanto procurava este artigo, encontrei outro, do Jorge Bento em que nos fala do seu orgulho em ser professor e de como nos multiplicamos em cada aluno.

"Sim, sou professor e tenho orgulho nisso. (...)
"Sou professor! Sou uma maneira de andar por aí transfigurado numa multidão de lembranças e ofícios. (…)

Bem sei que há quem diga mal de mim, me desconsidere e queira tirar-me crenças e ilusões. Mas não conseguem destruir-me os princípios e ideais. Porque há quem me chame mestre e sábio e me guarde na memória e diga o meu nome em palavras de veneração e exaltação e num tom de ternura e afecto. Que me comove e incita a ir em frente."

(acho que vou colocar esta "maravilha" num local a que todos tenham acesso ... desta vez no cartel!)

Pedro disse...

Pois é. Tanta burocracia que existe na nossa profissão. Ás vezes, mais parecemos funcionários de secreataria do que docentes...

Anónimo disse...

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